O Espetacular Homem-Aranha
(The Amazing Spider-Man, 2012)
Ação/Aventura - 136 min.
Direção: Marc Webb
Roteiro: James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves
com: Andrew Garfield, Emma Stone, Martin Sheen, Sally Field, Rhys Ifans, Dennis Leary
(obs.: a crítica
contém alguns spoilers. Se puder, evite lê-la antes de assistir ao mais recente
filme do "Cabeça de Teia").
O Espetacular
Homem-Aranha cumpre seu objetivo mais raso: diverte. Em geral, o
espectador quando vai ao cinema para assistir uma produção cheia de heróis
busca uma bela sessão escapista, duas horas de diversão descompromissada, ideal
para esquecer os problemas e afins. E para esse efeito, o reboot do Aranha funciona bem. Mantém um bom ritmo até quase seu final (quando parece inspirar-se em Senhor dos Anéis e apresentar
finais para todos os personagens do filme), e diverte sem muito medo o
espectador.
Porém, o filme não
passa muito disso. Se o espectador é leitor de Aranha (não é o meu caso) e
talvez espere a quintessência do personagem embalada em um filme de
ação/aventura exemplar, é possível que se decepcione, principalmente, pois -
tornando-me repetitivo - apesar de entreter, é um Frankenstein sem
personalidade no que tange sua abordagem a trama e aos personagens do filme.
Explico: a
historia começa com o pequeno Peter Parker sendo entregue aos seus tios Ben
(Martin Sheen) e May (Sally Field), por seus pais (Richard Parker vivido por Campbell Scott e Mary Parker vivida por Embeth Davidtz). A abordagem é
realista, muito próxima da ideia de Sam Raimi em seu primeiro Aranha, ampliada
aqui pela trama de mistério sobre o paradeiro dos pais de Peter. O clima é mais
sério, como indicavam os muitos trailers do filme. Damos então um salto no
tempo, e ainda nesse clima "real", somos apresentados à nova
representação de Peter Parker.
Andrew Garfield é
uma versão muito mais contemporânea dos estereótipos nerds do que o insosso
Tobey Maguire o era no filme de 2002. Para mim, alguns elementos ajudam essa
transformação, sendo o principal deles a mão de Marc Webb, diretor desse Aranha.
Vindo do sucesso do drama romântico 500 Dias com Ela, o diretor tem uma visão
muito mais fresca sobre os adolescentes e jovens adultos de hoje, do que tinha
Sam Raimi, um bom diretor, mas de uma geração mais velha. Talvez por isso seu
Peter seja sempre tão "abobalhado", enquanto o Peter de Webb é muito
mais cool (embora o próprio Garfield em entrevista refute essa ideia de cool e
fale em adequação ao mundo moderno). Ajuda ainda o fato de Garfield ter uma
idade mais próxima ao personagem dos quadrinhos do que Maguire, e de ser um fã
do material (o que está marcado a fogo na tela), com uma interpretação bastante
competente de Peter Parker, com todos os trejeitos típicos de um adolescente, tornando-o nunca um herói na concepção da palavra, mas um adolescente típico, cheio de medos e dúvidas e até um pouco irritante em alguns momentos.
Na escola, ele é
apaixonado pela bela Gwen Stacy (Emma Stone), que diferente da Mary Jane de
Kirsten Dunst, não vive em um lar abusivo e nem sonha em ser atriz, ou muito diferente
da Gwen Stacy - colocada de qualquer jeito - do terceiro filme do Aranha, que
parecia uma patricinha mimada e sem graça. Emma Stone usa na personagem alguns
de seus trejeitos que caracterizaram sua carreira, como o bom humor constante,
observações irônicas e uma leve "maluquice" que faz de Stacy, uma
garota divertida e encantadora.
O filme ainda tem
a presença excelente e muito realista de Martin Sheen como o tio Ben
definitivo, que não abusa dos clichês para ensinar responsabilidade ao
sobrinho, e mesmo repetindo o destino mostrado no primeiro filme baseado no
personagem, o faz de maneira muito mais inteligente e próxima da realidade.
Sally Field, como Tia May, faz com que nos esqueçamos da sempre simpática
velhinha vivida por Rosemary Harris, na trilogia original. Mais ativa - por questões óbvias
de idade - e mais emocional, é outra que convence de saída, em especial sobre
seu relacionamento com Martin Sheen.
Porém, o filme
começa a perder a mão do tal realismo, quando vemos o nosso vilão, o
doutor Curt Connors (Rhys Ifans). Para quem conhece alguma coisa da mitologia
do personagem sabe que o a presença do doutor Connors no filme significa a
presença do Lagarto como vilão. O cientista que sofre de traumas por não ter um
braço (fato que é enfatizado sempre que possível inclusive visualmente com uma
pequena sequência em que
Connors é encaixado diante do reflexo de um manequim com os
dois braços) deseja criar uma espécie de soro que misture o DNA humano com
animal a fim de conseguir a regeneração dos genes afetados pela deficiência. Essa
pesquisa tem a ver com os pais de Parker, e movido pela curiosidade, o nosso herói
decide conhecer o doutor, para por tabela conhecer melhor seus pais e a motivação para o abandono pregresso.
Os problemas
começam ai, já que parece que tudo é preguiçosamente ligado ao personagem
principal, para facilitar uma resolução mais simples. É um erro? Não, quando não
parece forçado. O primeiro erro é o de colocar Gwen Stacy como estudante
brilhante e ajudante de laboratório de Connors, sendo que em momento algum existe alguma indicação que Stacy sequer gosta de ciência.
Entendo que a ideia era "chocar" o espectador, mas a forma como isso
é conduzido não funciona na totalidade.
Uma diferença
interessante reside na criação do Homem-Aranha. Uma vez que Parker é bem
desenvolvido, o filme cria seu Aranha da mesma maneira. Sai o fotógrafo
bobalhão que é picado por uma Aranha num museu, e entra o curioso jovem que se
mete aonde não devia e acaba picado por uma aranha mutante. Sai o garoto que
cria uma fantasia para lutar e ganhar uma grana, e entra o garoto obcecado em
encontrar o assassino do tio que cria uma roupa misturando o conceito da luta
livre com o uniforme atlético.
Mas, a mudança
mais bem vinda é que finalmente o cinema consegue mostrar com competência toda
a movimentação e a força de um sujeito picado por uma Aranha. O "sentido
Aranha" que avisa o personagem do perigo é muito mais orgânico, assim como
a movimentação é muito mais fluída e a força física mais "brutal". A
ideia de acabar com as teias orgânicas foi ótima, já que também relaciona a
criação dos dispositivos à trama das aranhas mutantes e o uso das modificações
genéticas realizadas pelos cientistas.
Outra mudança foi
que o personagem mascarado finalmente tem aquele bom humor ácido que marca o personagem
nos quadrinhos. Um gozador por natureza, o Aranha de Marc Webb é engraçado e
muito falante, sem muito pudor em humilhar o vilão antes de acertá-lo com um
soco ou enrolá-lo em sua teia.
Até esse ponto, o
filme caminha muito bem. Apesar do exagero de Gwen trabalhar justamente com o
vilão do filme, o filme balanceava muito bem a ação e a trama de mistério que
movia o filme. O problema começa justamente quando Connors assume seu
"alter-ego" e todos os elementos parecem ser suprimidos e facilmente
relacionados a Peter, incluindo ai a própria criação do vilão. É como se
tudo precisasse estar ligado fio por fio ao personagem principal,
transformando-o no sol que gira ao redor dos planetas/personagens que compõem a
narrativa. Mais exemplos: Peter salva um determinado personagem e o pai desse
vai ser peça fundamental na trama, na cena que apesar de visualmente ser muito
impactante, presta o exagero de mostrar uma bandeirola americana sem sentido
algum, em mais uma homenagem tediosa a "coragem do povo de Nova
York". Outro exemplo? Peter em determinado momento caça seu vilão e
simplesmente leva sua câmera com um gigantesco adesivo de identificação colado
na mesma, o que entrega sua identidade ao vilão. Essa questão da identidade secreta é outro problema, já que Parker
parece ansioso para dividir seu segredo com o mundo, já que ao final do filme, uma
porção de personagens acaba sabendo de seu segredo.
A
construção visual do Lagarto é outro erro, claramente artificial o personagem
carece de carisma, de ameaça e pouco lembra um lagarto real, surgindo como um híbrido
estranho de humano com dinossauro, o que até poderia fazer sentido, mas a construção
visual nesse caso realmente não funciona.
A partir daí, o
filme ganha em ação e perde muito no clima divertido que vinha construindo até
ali. As coincidências ultrapassam o limite para esse tipo de produção e são
camufladas por ótimas sequências de ação, o que não deixam de empolgar, mas que
revelam uma historia que no fundo não responde a nada que se propôs a
responder. No fundo, aquela questão que todo mundo se fez quando do anúncio
desse reboot infelizmente persiste: por que recontar a origem de um personagem
que já foi contada há tão pouco tempo? O Espetacular Homem-Aranha está longe da
espetacularidade desejada, e embora tenha a melhor representação do herói nas
telas, merecia uma historia menos preguiçosa. Quem sabe na - óbvia - sequência.
Muito se questionou sobre a
necessidade de um reboot para uma franquia tão jovem quanto a de Homem-Aranha.
O sucesso arrebatador (e um tanto inesperado) do primeiro filme acabou gerando
frutos: não só ajudou a consolidar o gênero nas telas como conseguiu render
duas sequências que arrecadaram pouco mais de 1,5 bilhão de dólares juntas. A
produção do último capítulo da trilogia foi conturbada, porém. O apressado
cronograma (a estreia do terceiro filme fora definida ANTES do lançamento de
Homem-Aranha 2), misturado a uma pressão constante dos produtores, acabou por
limitar o controle criativo do diretor Sam Raimi, vitimando assim, a qualidade
do fraquíssimo terceiro segmento. Sendo assim, entende-se a necessidade
mercadológica em prosseguir a franquia com um reboot: não havia muitos caminhos
a serem trilhados após o insosso final. Com a saída de Raimi, o superprodutor
Avi Arad anunciou o reinício, roteirizado por James Vanderbilt (roteirista
requisitado e prolífico, indo de Zodíaco a Violação de Conduta).
Após uma produção folgada, sem pressa, o filme ganha uma massiva campanha de
divulgação. Mas seria essa a tal "historia nunca contada" do Aranha?
Do ponto de vista cinematográfico, seria O Espetacular Homem-Aranha
(curiosamente, um título mais operístico que o do primeiro filme) uma válida
experiência?
O desenvolvimento de Peter Parker, apesar de aparentar mais extenso, é um tanto
semelhante ao de Homem-Aranha 1. Temos a presença do bullying; a vingança
contra Flash Thompson; o amor platônico pela garota da sala; a situação com os
tios. É no tom que há a diferença. Muitos acusam o filme de Marc Webb como “desnecessário”,
mas mesmo falho, essa nova abordagem não soa idêntica ao filme de Raimi. É como
se fossem as mesmas situações, mas com um olhar diferente.
Desde os breves créditos iniciais, já se percebem as intenções da estrutura do
longa. A estilizada abertura, cheia de teias e ligações, sugere uma historia
toda conectada entre si. O que, por sua vez, parece uma mania dos roteiristas
atuais, que seguem essa tendência que os produtores parecem gostar tanto.
Entende-se aí a contratação de Vanderbilt: veterano em roteiros policiais
"intelectuais", cheios de suas viradas em estrutura (Violação de
Conduta, o "ultimate" filme de reviravoltas, é um roteiro original de
Vanderbilt), o roteirista abraça a tentação de interligar tudo no passado e
presente de Peter Parker.
Oposto em tom e mais focado nesse tipo de narrativa falsamente intrincada, o
novo Aranha conta com uma atmosfera muita mais sisuda que a da primeira
trilogia. E mesmo mais sério e sóbrio, o filme de Webb é muito menos dramático
que o de Raimi. Há pelo menos três situações dramáticas bem semelhantes aos
filmes anteriores e, em todas elas, o peso não é sentido como no filme de 2002.
Mas antes do fundo dramático, há
a problemática estrutura. Tentando interligar todas as pontas da narrativa
possíveis, o roteiro de Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves encontra nas
coincidências o seu fio da trama. Quando estoura o cano da casa, Peter encontra
a maleta do pai. Maleta essa que tem um símbolo estranho, junto com fórmulas.
Símbolo este que Peter encontra ao esbarrar
no advogado de Norman Osborn, que estava (que coincidência!) levando esses
documentos naquela exata hora. Hora esta em que ele visita um viveiro de
aranhas radioativas. Esta fórmula dos símbolos que, estudada por Peter, é
solucionada para que Curt Connors possa realizar sua teoria. A já citada “teia
de acontecimentos” incomoda, apesar de ser admitida e adorada pelos
roteiristas. Quando Peter fala com o Capitão Stacy sobre o Lagarto, o policial
explicita: “então quer me dizer que Connors, brilhante mentor de minha filha, é esse monstro?”. Fora que, por
Deus, se você fosse um super-herói mascarado, você colocaria seu nome na câmera
na hora de ir atrás do vilão? A mudança de foco no drama é o que salva o script
mal-construído.
O que nos leva á tal crise de
identidade do adolescente. Peter encara a máscara em certa cena, como se fosse
uma maldição. Essa direção, de um menino aprisionado por não saber quem é, é
levada a exaustão. “Sei qual é seu nome, mas quero saber se você sabe”, diz
Gwen. Peter é amargurado por isso e, mesmo que desenvolvido sem muito capricho,
o conceito é interessante.
O desenvolvimento dos
personagens, mesmo falho, acaba se tornando a maior força de O Espetacular
Homem-Aranha. E o elenco envolvido, todo muito bem dirigido por Webb, só
ressalta isso. Andrew Garfield está perfeito no papel, Emma Stone é novamente
adorável, e a química dos dois atores nas cenas de romance transpira na tela.
Martin Sheen exala segurança como Tio Ben, o tornando inclusive o mais humano
dos personagens. E mesmo ecoando a esquizofrenia de Willem Dafoe no primeiro
filme, Rhys Ifans se demonstra um bom vilão e suas cenas como Curt Connors são
bem fundamentadas e discutidas pelos personagens envolvidos. E isso reforça a
qualidade de atuação de Ifans, já que o Lagarto de CGI raramente convence,
soando inclusive tolo nas suas tentativas de diálogo (e se salvando, pra
variar, na pancadaria).
Um Aranha mais brincalhão, que
se diverte ao balançar em “teias” de ferro e extravasa suas piadas na roupa
vermelha e azul, acaba soando um tanto novidateiro. Ao acordar, a demonstração
de raiva pelo sono através dos poderes rende uma engraçada cena, além da fome
gigantesca de Peter ao chegar de sua primeira jornada com os poderes (o que me
fez testemunhar um herói quase drogado, o que não deixa de entreter). A teia de
vibrações, construída por ele, também empolga (e nos lembra da inteligência de
Peter). E pra qualquer fã, ver um Aranha magrelo, soltando suas teias pelo
lançador no céu de Nova York, nunca deixa de empolgar. Mas o interessante é que
faltou justamente uma essência ao herói. Há apenas uma cena, a do filho do
bombeiro (que, COINCIDÊNCIA!, salva nosso herói mais tarde), que nos faz
lembrar do que é feito o Amigão da Vizinhança – o que é muito pouco. Sem ser
contagiado pela ciência de suas responsabilidades, o Peter Parker de 2012 perde
força e não sente as dores do que é renunciar sua vida pelo herói. A cena
responsável por isso, com Gwen, idêntica a do filme original, não carrega a
mesma angústia que tinha com Mary Jane no Aranha de Raimi.
A diferença no tom do novo
filme, que torna o reboot um tanto válido, se deve muito a dois fatores em
especial: a busca pelo realismo (provavelmente após o sucesso do Batman de
Nolan) e o diferente desenvolvimento de Peter Parker. Ainda que, como já dito,
diversas passagens sejam bem parecidas, o foco no drama do protagonista é
outro: a busca pela identidade. E nesse ponto, a verossimilhança merece
crédito. Mesmo que aqui e ali soe genérico (mas não menos eficiente) como o uso
dos celulares no clímax, esse realismo é realçado pela atuação muito boa de
Garfield - e funciona. Desde ás solitárias passagens pelo colégio do início até
a presença constante da câmera no quarto de Peter, o filme ecoa a geração de A
Rede Social. A condição social do jovem cientista é sentida por toda a primeira
hora de projeção, mesmo quando Peter encontra o doutor Connors (rendendo
excelentes interações). Porém, algumas cenas acabam perdendo sua força devido á
preguiça do script.
Cenas essas que, pelo seu
reducionismo, acabam soando alheias no meio da introdução. Peter acaba sendo
abordado como um loser típico, sem muitas diferenças em relação ao arquétipo.
Quando vai buscar seu material no armário, há um casal se beijando e impedindo
a passagem; ao ver o nerd sendo humilhado pelo valentão, Peter toma partido e
acaba apanhando – e ganhando a atenção da mocinha. Fora isso, o núcleo dos tios
Parker é bem menos competente que no filme de 2002 na tarefa de evocar as
responsabilidades de Peter com sua família. Além disso, Ben e May perdem as
características básicas na trama estrutural (demonstrar a relação de valores
para o protagonista se tornar um herói) e terminam como meros tutores do jovem.
Justamente por isso, (OH! MAJOR SPOILER!) a morte de Ben é muito menos sentida
que no longa original.
Mas talvez, a maior falha de
Kloves, Vanderbilt e Sargent seja em quem é o tal Homem-Aranha. Em certo ponto,
um personagem diz para Parker: “Essa Cidade precisa de você”. Vendo a projeção
(e como Peter se tornou o heroi), nunca sentindo a mudança que o Aranha traz e
sem saber de sua tarefa quase compulsória como vigilante de Nova York, fica a
dúvida: precisa mesmo?
E se o roteiro trabalha com
temas interessantes mas carece de um cuidado maior, a estética visual se
apresenta completamente oposta ao filme de Raimi – e igualmente excelente. O
Techno-coro criado por James Horner, numa trilha á antiga, funciona mesmo sem
criar um tema específico pro herói. A direção de arte do recém-falecido J. Michael
Riva investe em um ar mais científico e cria ambientes assépticos,
contemporâneos e belíssimos, como o laboratório da Oscorp e o magnífico prédio,
todo baseado em vidro. Ainda com uma fotografia estupenda de John Schwartzmann,
abundante em tons sóbrios e sombria na medida certa (e munido da resolução
monstruosa da excelente câmera Red One), o filme possui na direção segura de
Marc Webb um ponto chamativo.
Mesmo que ainda falte certa
sensibilidade em reconhecer uma solução estúpida e ignorá-la (lagartos em todo
o lugar, a analogia peixe/lagarto na hora do jantar, a marcha dos lagartos na
teia), Webb demonstra bom olho estético. Mais arrojado que o diretor de aluguel
comum que os estúdios contratam, Webb cria soluções visuais interessantes para
a ação do filme e demonstra a segurança de seu debut, 500 Dias com Ela, na hora
de dirigir seus atores. Tanto a sequência na escola quanto o enérgico clímax (a
cena de Emma se escondendo do Lagarto é excelente) são favorecidos pelos
ângulos elegantes e montagem limpa que Webb prefere. Com destaque, ainda, para
as boas transições de cena que Webb e seu editor Alan Edward Bell criam, como o
link do prédio sendo clicado e tomando a tela inteira logo depois. Além disso,
inspirado nas melhores fases de Todd McFarlane nas HQs do herói, o diretor cria
quadros memoráveis com as estilosíssimas poses do Aranha (o que rende o último
frame do longa, que busca encerrar esse primeiro filme com a maior solenidade
possível). E para fechar: o novo sentido de aranha é muito, muito legal. Será
uma boa aposta a volta de Webb para o segundo(há ecos do Duende Verde em pelo
menos dois lugares), e inevitável, filme.
Se a tarefa foi apresentar um
Homem-Aranha mais crível para o novo público, até que O Espetacular
Homem-Aranha funciona: definitivamente, o Peter de Andrew Garfield e o de Tobey
Maguire são diferentes. Essa abordagem jovem, mais realista e menos operística
e de homenagem, funciona para o tempo atual e ainda diferencia bastante os dois
trabalhos. Ainda que não seja um espetacular e perfeito filme do que é um
super-herói de verdade, o novo Aranha ao menos é seguro. Mas é mais que um
script mais completo e menos preguiçoso o que melhorará essa futura franquia,
assim como é mais que uma busca de identidade pela alma de Peter Parker.
Falha, então, aonde o original
mais triunfava. A melhoria será a compreensão dos envolvidos de qual é o peso
real de ser o Homem-Aranha.
Estou ansiosíssimo para assistir ao filme, mesmo que não tenha lido nenhuma resenha realmente animadora acerca dele.
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