sábado, 21 de julho de 2012

Bem Amadas


Bem Amadas
(Les bien-aimés, 2011)
Drama/Musical - 139 min.

Direção: Christophe Honoré
Roteiro: Christophe Honoré

Com: Catherine Deneuve, Chiara Mastroianni, Ludivine Seigner, Louis Garrel, Milos Forman, Paul Schneider, Radivoje Bukvic

Sejamos francos: o musical é um gênero cinematográfico que depende demais de sua mise-en-scene. Se o público não se sentir seduzido a embarcar na aventura proposta pelo cineasta, dificilmente não vai se sentir ludibriado quando surgirem os números musicais interrompendo a narrativa principal. Esse é o grande problema de Bem Amadas, nova produção de Christophe Honoré, que já havia produzido outro musical, o bem sucedido Canções de Amor.

Em Bem Amadas acompanhamos duas gerações de mulheres (mãe e filha) e suas dificuldades para entender seus sentimentos e lutar contra o desejo por homens problemáticos e castradores. No fundo, as personagens do filme são o que - em bom português - chamamos de "mulher de malandro". Sei que o termo pode parecer ofensivo aos olhos acostumados com a pompa das produções ditas, de arte, mas no fundo a definição é bastante funcional para as personagens de Chiara Mastroianni e Catherine Deneuve no filme.

Madeleine (Ludivine Seigner quando jovem e Deneuve quando mais velha) é uma simpática e avoada vendedora de sapatos, que sem nenhum motivo aparente, decide aumentar sua renda fazendo bicos como garota de programa depois do expediente. Acaba se apaixonando pelo medico tcheco Jaromil (Radivoje Bukvic na juventude e o cineasta Milos Forman na maturidade) e depois de um tórrido caso, se casando e se mudando para Praga, onde depois de descobrir a infidelidade do marido, decide regressar a sua cidade natal, Paris.


Véra (Chiara Mastroianni) é sua filha que anos mais tarde enfrenta dificuldades em se relacionar com o mundo. Não encontra um amor, e mesmo tendo um relacionamento complicado com o amigo Clément (Louis Garrel) acaba se apaixonando pelo baterista gay Henderson (Paul Schneider).

Engana-se quem pensa que Bem Amadas é como a maioria dos musicais que o cinema apresenta. Apesar de começar divertido e leve, com uma canção (e esse é um musical onde se canta mais não se dança) divertida, enquanto a jovem Madeleine caminha com seu amado pelas ruas de Paris, vai se transformando numa tour de force cansativa e desequilibrada sobre a psique de duas mulheres com um dos menores coeficientes de amor próprio que o cinema já mostrou.

Enquanto Madeleine vive em segredo devido a sua incapacidade de se livrar de seu passado, o que rende uma serie de problemas para sua vida, Honoré é incapaz de nos fazer pensar algo diferente da personagem, além de que estamos vendo uma mulher com muitos problemas emocionais e que precisa desesperadamente de ajuda. O problema é que isso nunca é dito, e a personagem parece profundamente dependente e submissa a todos os homens de sua vida. Seria Honoré fazendo exatamente uma crítica a esse tipo de comportamento? Se tentou, fracassou, pois a mensagem não fica clara em momento algum. O diretor parece tentar dizer que essa é uma historia trágica e como tal não julgará valores. Parece mais interessado na "poesia" por trás das situações do que em resolver alguma coisa na vida de suas personagens.


Já sua filha Véra consegue ir ainda mais baixo no que tange a falta de estima. Tudo justificado pelo amor. Ela se sujeita a criar um relacionamento em sua cabeça, mesmo sabendo que a realidade é bem diferente da que ela imagina. Para piorar, sua vida é cheia de tragédias que fazem com que a personagem seja ainda mais complicada e inconstante. O que parece desafiador para o espectador, na verdade é resultado de um roteiro pavoroso, que acrescenta doenças, desejos femininos e um final patético e que revela a incrível dificuldade que o texto parece ter para justificar as ações das personagens, que nos faz em vez de simpatizar com seus muitos problemas, apenas sentir dó de tamanha incapacidade de sabe o quer da vida. Se a ideia era a de realmente mostrar quão inconstante Véra é, falha novamente, pois o que parece é que a solução encontrada é a mais "poética" e ideal para um dito filme, artístico.

E as canções? Apesar das letras serem inteligentes, e de encaixarem no contexto emocional da produção, elas parecem terem sido inseridas depois do roteiro ter sido produzido, e não presentes na concepção da obra. Trocando em miúdos: sem as canções o filme não perderia nada. Outro problema é que todas as canções são muito parecidas, e se a primeira delas é perfeita para a contemporaneidade do filme, as demais surgem datadas e até bregas. Nenhum dos atores/atrizes tem uma voz excepcional e mesmo Catherine Deneuve pouco pode fazer com canções tão declamadas e parecidas.

Bem Amadas perde muito quando tenta abraçar muitos gêneros, sem competência nenhuma para todos eles. Como musical é medíocre, como comédia romântica é fajuto, como drama de mãe e filha é tedioso e como dramalhão, chega a fazer rir, tamanha quantidade de tragédias que vão se sucedendo na vida das duas personagens. Um glorioso fracasso e forte candidato a fazer parte da lista de piores do ano em 2012.


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