Bem Amadas
(Les bien-aimés, 2011)
Drama/Musical - 139 min.
Direção: Christophe Honoré
Roteiro: Christophe Honoré
Com: Catherine Deneuve, Chiara Mastroianni, Ludivine Seigner, Louis Garrel, Milos Forman, Paul Schneider, Radivoje Bukvic
Sejamos francos: o
musical é um gênero cinematográfico que depende demais de sua mise-en-scene. Se
o público não se sentir seduzido a embarcar na aventura proposta pelo cineasta,
dificilmente não vai se sentir ludibriado quando surgirem os números musicais
interrompendo a narrativa principal. Esse é o grande problema de Bem Amadas,
nova produção de Christophe Honoré, que já havia produzido outro musical, o bem
sucedido Canções de Amor.
Madeleine (Ludivine
Seigner quando jovem e Deneuve quando mais velha) é uma simpática e avoada
vendedora de sapatos, que sem nenhum motivo aparente, decide aumentar sua renda
fazendo bicos como garota de programa depois do expediente. Acaba se
apaixonando pelo medico tcheco Jaromil (Radivoje Bukvic na juventude e o cineasta Milos Forman
na maturidade) e depois de um tórrido caso, se casando e se mudando para Praga,
onde depois de descobrir a infidelidade do marido, decide regressar a sua
cidade natal, Paris.
Véra (Chiara
Mastroianni) é sua filha que anos mais tarde enfrenta dificuldades em se relacionar
com o mundo. Não encontra um amor, e mesmo tendo um relacionamento complicado
com o amigo Clément (Louis Garrel) acaba se apaixonando pelo baterista gay Henderson (Paul Schneider).
Engana-se quem
pensa que Bem Amadas é como a maioria dos musicais que o cinema apresenta.
Apesar de começar divertido e leve, com uma canção (e esse é um musical onde se
canta mais não se dança) divertida, enquanto a jovem Madeleine caminha com seu amado
pelas ruas de Paris, vai se transformando numa tour de force cansativa e
desequilibrada sobre a psique de duas mulheres com um dos menores coeficientes
de amor próprio que o cinema já mostrou.
Enquanto Madeleine vive
em segredo devido a sua incapacidade de se livrar de seu passado, o que rende
uma serie de problemas para sua vida, Honoré é incapaz de nos fazer pensar algo
diferente da personagem, além de que estamos vendo uma mulher com muitos
problemas emocionais e que precisa desesperadamente de ajuda. O problema é que
isso nunca é dito, e a personagem parece profundamente dependente e submissa a todos os homens
de sua vida. Seria Honoré fazendo exatamente uma crítica a esse tipo de
comportamento? Se tentou, fracassou, pois a mensagem não fica clara em momento
algum. O diretor parece tentar dizer que essa é uma historia trágica e como tal
não julgará valores. Parece mais interessado na "poesia" por trás das
situações do que em resolver alguma coisa na vida de suas personagens.
Já sua filha Véra consegue ir ainda mais baixo no que tange a falta de estima. Tudo justificado
pelo amor. Ela se sujeita a criar um relacionamento em sua cabeça, mesmo
sabendo que a realidade é bem diferente da que ela imagina. Para piorar, sua
vida é cheia de tragédias que fazem com que a personagem seja ainda mais
complicada e inconstante. O que parece desafiador para o espectador, na verdade
é resultado de um roteiro pavoroso, que acrescenta doenças, desejos femininos e
um final patético e que revela a incrível dificuldade que o texto parece ter
para justificar as ações das personagens, que nos faz em vez de simpatizar
com seus muitos problemas, apenas sentir dó de tamanha incapacidade de sabe o
quer da vida. Se a ideia era a de realmente mostrar quão inconstante Véra é,
falha novamente, pois o que parece é que a solução encontrada é a mais
"poética" e ideal para um dito filme, artístico.
E as canções?
Apesar das letras serem inteligentes, e de encaixarem no contexto emocional da
produção, elas parecem terem sido inseridas depois do roteiro ter sido
produzido, e não presentes na concepção da obra. Trocando em miúdos: sem as
canções o filme não perderia nada. Outro problema é que todas as canções são
muito parecidas, e se a primeira delas é perfeita para a contemporaneidade do
filme, as demais surgem datadas e até bregas. Nenhum dos atores/atrizes tem uma
voz excepcional e mesmo Catherine Deneuve pouco pode fazer com canções tão
declamadas e parecidas.
Bem Amadas perde
muito quando tenta abraçar muitos gêneros, sem competência nenhuma para todos
eles. Como musical é medíocre, como comédia romântica é fajuto, como drama de
mãe e filha é tedioso e como dramalhão, chega a fazer rir, tamanha quantidade de
tragédias que vão se sucedendo na vida das duas personagens. Um glorioso fracasso
e forte candidato a fazer parte da lista de piores do ano em 2012.
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