O Legado Bourne
(The Bourne Legacy, 2012)
Ação - 135 min.
Direção: Tony Gilroy
Roteiro: Tony Gilroy e Dan Gilroy
com: Jeremy Renner, Rachel Weisz, Edward Norton, Stacy Keach
Como conseguir
atrair o público para uma série consagrada, sem, no entanto ter a
disposição seu protagonista? Essa era a dificuldade que Legado Bourne
enfrentava. Como criar uma nova aventura de espionagem condizente
com o sucesso de público e crítica que os filmes protagonizados por Matt Damon conseguiram?
Embora Matt Damon
e seu Jason Bourne jamais sejam vistos em cena durante esse Legado Bourne, a
presença do agente desmemoriado é constante e fundamental nessa nova história,
que apesar de não ser focada em seu personagem se desenvolve durante os eventos
de Supremacia Bourne e Ultimato Bourne, portanto aconselho ao leitor a - se
possível - assistir a trilogia (ou pelo menos os dois últimos filmes), antes de
embarcar nessa nova história.
O diretor Tony Gilroy (de Conduta de Risco e Duplicidade e roteirista de todos os filmes da franquia) apresenta os eventos de seu filme em paralelo aos
eventos dos dois últimos filmes da franquia Bourne, o que amplia o escopo de
ação dos filmes anteriores, nos indicando que havia algo muito maior do que víamos
até então. Esse é o ponto de partida para a historia de Aaaron Cross (Jeremy Renner) que
assim como Bourne também é um agente especial, porém Cross vem do ainda mais sinistro e misterioso projeto Outcome. Aaron, diferente de Bourne, sabe seu nome e sua memória continua intacta. Dessa vez, a historia é mais
simples de acompanhar, apesar de os avanços no tempo serem mais constantes e as
idas e vindas de cenários serem igualmente mais intensas.
A historia fala
sobre a "cura para a infecção" nas palavras do personagem de Edward
Norton, o vilão da vez. Com medo das informações de Bourne causarem ainda mais
problemas a agencia revelando um projeto ainda mais escuso do que aquele que conhecia-se na trilogia original, começa a perseguir (leia-se eliminar) outros colegas de Renner. Ele
por sua vez precisa combater a dependência que tem de uma droga administrada
pela agencia que o faz ter mais força, melhores reflexos e agilidade mental,
enquanto procura os culpados pelos atentados.
Diferente do que
aconteceu nos filmes anteriores, esse Legado Bourne é mais
"espetacularizado", lembrando bastante o que se pensou na
re-imaginação de 007 para o novo milênio. Curioso notar que essa revitalização
da franquia do agente inglês tem muita influencia do jeito cru do agente Bourne
de Matt Damon, o que causa uma metalinguagem quase involuntária. Ainda estão
presentes as lutas "reais", a trama globalizada e complexa, cheia de
idas e vindas, o tom sóbrio e a constante perspectiva de acompanharmos um de
nossos heróis se dando mal. Porém, Gilroy cobre tudo isso com uma camada de
diversão escapista maior. Exemplos pipocam durante o filme, como a forma com
que a agencia decide eliminar um dos agentes usando uma força muito
desproporcional ao intento, ou mesmo a forma como Cross consegue escapar
"auxiliado" por lobos em um floresta densa embaixo de muita neve, ou mesmo a impressionante perseguição
(primeiro a pé e depois de moto) pelas ruas de Manilla. Tudo muito bem
realizado, com muita energia na condução das sequências, instaurando tensão.
Jeremy Renner
firma-se como herói de ação, assim como Damon havia conseguido quando realizou
os filmes do agente Bourne anteriores. Diferente de seu antecessor, no entanto,
Renner vinha cavando seu espaço no gênero desde Guerra ao Terror, passando por
Vingadores, mas é em Legado que encontra um personagem com mais camadas,
conseguindo até ser bem humorado - mesmo diante da confusão ao seu redor.
O elenco de coadjuvantes
é estelar, e formado por gente competente. Vindo desde pontas de luxo de David
Strathairn, Albert Finney e Joan Allen (que estavam na trilogia original e que surgem em uma cena inédita cada um), passando
por Scott Glenn, do sumido Stacy Keach, Oscar Isaac culminando nos dois
coadjuvantes "estelares" mais importantes, o já citado Edward Norton,
como o chefe da operação de limpeza que acontece no filme e de Rachel Weisz
como a médica que - como Franka Potente nos Bourne anteriores - se torna a
parceira/amiga/confidente/amante do personagem de Renner, enquanto luta contra a culpa, o medo e o desconhecimento sobre os fatos enfrentados.
Apesar de apostar
na formula dos filmes anteriores, existe sim um frescor nessa nova - possível -
trilogia. Mais abrangente no tema, Renner é um agente mais confiante no que faz
e mesmo andando sobre uma frágil motivação (que honestamente, apesar de compreensível,
não me comoveu) consegue entregar um personagem bastante diferente de Jason
Bourne. Outro acerto é o de não acabar com a personagem de Matt Damon,
deixando-a "no seu canto", sem diretamente influenciar na ação
protagonizada por Renner e Weisz.
Contando com um
cuidado visual nas sequências de ação muito bom, nota-se que Gilroy preocupou-se
em seguir os passos dos diretores anteriores da franquia, sem, no entanto
esquecer-se de entender que alguns anos se passaram desde o último filme de
Bourne. A brilhante sequência de perseguição é um desses exemplos, onde tudo é compreensível
mesmo que a urgência das tomadas, ângulos e montagem sejam perceptíveis.
O Legado Bourne apesar de não ser brilhante, é um entretenimento de qualidade que é tenso
na forma e complexo no conteúdo. Talvez até demais, já que essa fórmula
esbarra nas limitações do texto do próprio Gilroy (auxiliado por seu irmão Dan), que não consegue encontrar uma
motivação menos melodramática ao personagem de Renner, o que contrasta com toda
a atmosfera fria do longa. De qualquer forma, diante do deserto de produções de
entretenimento destinadas aos mais velhos (leia-se maiores de 25 anos) Legado
Bourne é uma boa retomada de uma serie que conquistou seu espaço nos cinemas no
inicio do século XXI, e que pode sim gerar mais sequências para acompanharmos
mais do misterioso Aaron Cross.
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