Looper - Assassinos do Futuro
(Looper, 2012)
Ação/Sci-FI, 118 min.
Direção: Rian Johnson
Roteiro: Rian Johnson
com: Joseph Gordon-Levitt, Bruce Willis, Emily Blunt, Jeff Daniels
Regra básica:
filmes de viagem no tempo são confusos e nem sempre conseguimos entender
exatamente o que vemos. A própria natureza da ação (ir e voltar em uma mesma
realidade) já nos parece confusa e com enorme frequência os paradoxos e buracos
de narrativa ficam evidentes. Looper é mais um desses casos em que a lógica (e
os que acham que cinema precisa ser cientificamente correto) fica em segundo
plano diante de uma historia bastante simples, mas apresentada de forma
complexa, graças e uma excelente montagem e um trabalho visual que revela muito
talento de seu realizador.
Rian Johnson, cujo
trabalho de maior impacto era o singelo e visualmente inteligente Vigaristas
estrelado por Rachel Weisz, Adrian Brody e Mark Ruffalo, mistura gêneros
cinematográficos diferentes e os amarra com uma corda firme da viagem no tempo
para soar original e diferente. Com um roteiro assinado pelo próprio Johnson,
Looper apresenta uma sociedade futurista muito próxima da gente. Em 2042, a viagem no tempo
ainda não foi inventada, nos diz Joe (Joseph Gordon Levitt, protagonista e um
dos produtores do filme), mas trinta anos nesse futuro (ou seja, 2072) ela é
uma realidade. Banida do alcance do cidadão comum, a prática se revela interessantíssima
para que os bandidos resolvam seus problemas. Em uma sociedade onde "se
livrar dos corpos é cada vez mais difícil" como Joe nos informa também, a
viagem no tempo é a solução perfeita. Prende-se o sujeito, se envia até o
passado onde assassinos contratados resolvem o problema e se livram de um corpo
que trinta anos no passado não existe ainda.
Um desses
assassinos é o já citado Joe, que nessa sociedade que quase beira o velho
oeste, recebe seu pagamento em prata, anda em seu possante carro esporte e
frequenta a balada local (que funciona como um saloon do velho oeste). Ao lado
de outros caçadores de recompensa (ou loopers como são chamados), e sempre
armado de seu bacamarte (uma espécie de arma que também remonta aos tempos do
oeste americano) Joe segue sua rotina morosa economizando seu pagamento para
sair daquela vida. Porém, algo esta acontecendo nesse mundo, dia após dia, os
loopers vem sendo fechados, o que na gíria local significa que pouco a pouco,
os loopers têm matado suas próprias versões do futuro em troca de uma
aposentadoria precoce. Tudo isso é motivado pelo misterioso Rainmaker, que
segundo a lenda local, surgiu do nada e vem apagando da existência os Loopers.
A trama começa a
ficar complexa quando surge na frente de Joe seu eu do futuro (Bruce Willis)
que acaba fugindo e criando muitos problemas para o Joe do passado que precisa
agora persegui-lo ao mesmo tempo em que também é perseguido por outros Loopers
de sua organização, já que não existe coisa pior nesse negocio do que deixar
seu "presunto" fugir.
Parece complexo, e
em determinados momentos essa sensação se concretiza. Com um roteiro que abraça
sem dó toda essa complexidade, Johnson brinca com o espectador tentando nos
mostrar a teoria de que o tempo é cíclico e funciona de forma circular, ou
seja, passado e presente funcionam ao mesmo tempo e uma ação pode ser repetida
a exaustão até que se resolva da forma que um dos viajantes ache conveniente.
Essa brincadeira acontece e deixa a principio o espectador confuso. Mas quando
começamos a pensar sobre isso (sim, pensar no cinema olha que coisa rara) até
que Johnson tenta fazer sentido com suas explicações.
Sem estragar a
diversão do espectador, basta dizer que as idas e vindas no tempo são bem
montadas e você consegue criar empatia tanto pelo inseguro e irascível Joe de
Gordon Levitt e pelo Joe de Bruce Willis, um sujeito mais maduro e que tem um
plano a seguir.
Looper mistura
ficção científica e suas viagens no tempo com uma estética que lembra filmes
dos anos setenta, western, drama "indie" e um desenvolvimento de personagens
incomum para produções mais modernas (e com dinheiro) realizadas nos Estados
Unidos dentro do gênero.
Johnson prefere
desenvolver seus personagens e apostar na verossimilhança de um mundo que
lembra demais o nosso, e que não tenta copiar a estética de Blade Runner de
futuro. Apesar de não ser nada sutil em relação à condição social em que as
pessoas vivem Johnson não cai na armadilha de colocar tudo em um ambiente
sufocante, cheio de néons e sob chuva. Prefere a desolação dos vastos painéis de
concreto na cidade grande, das ruas largas e dos mendigos de rua, amparado por uma
direção de arte que tenta deixar o ambiente o mais atemporal possível, usando
de tecnologia apenas em momentos específicos da trama, fazendo os poucos
gadgets do filme mais críveis.
Apesar de ter sua
ação quase toda passada em uma cidade grande, Looper também tem momentos
importantes - e seu clímax - realizados em uma vistosa fazenda americana. Lá,
Johnson opta por apostar no tom dourado das plantações de trigo, nos tons ensolarados
que ajudam (se é que precisa de ajuda) Emily Blunt a aparecer ainda mais
bonita. Segura, a atriz é mais um dos elementos que transforma a fazenda em um
ambiente acolhedor e que por isso mesmo, funciona tão bem para as revelações do
filme.
É impossível
deixar de mencionar a maquiagem que deixa Gordon Levitt parecido com Willis.
Não, a ideia não é transformá-lo em um clone, mas deixar os traços do ator o mais próximos possível dos de Willis. O filme ainda tem
alguns coadjuvantes em bons momentos, como Jeff Daniels que funciona por ser uma espécie
de vilão que demonstra sua crueldade por meio da gentileza e Paul Dano que tem
uma cena de impacto e que remonta aos tiques nervosos vistos no excepcional
Sangue Negro.
Contando com
algumas cenas realmente impressionantes (em especial a que vemos um homem
literalmente ser desmontado em nossa frente) e uma mistura de subgêneros que
nunca fica confusa, Looper tem um texto que abraça sem dó os clichês da viagem
no tempo, em todos os seus triunfos e seus defeitos. Auxiliado por um bom
trabalho técnico, mesmo quando se complica com um texto mais rebuscado,
consegue manter o espectador tenso dentro de seu clima de thriller.
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