sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Looper - Assassinos do Futuro


Looper - Assassinos do Futuro
(Looper, 2012)
Ação/Sci-FI, 118 min.

Direção: Rian Johnson
Roteiro: Rian Johnson

com: Joseph Gordon-Levitt, Bruce Willis, Emily Blunt, Jeff Daniels

Regra básica: filmes de viagem no tempo são confusos e nem sempre conseguimos entender exatamente o que vemos. A própria natureza da ação (ir e voltar em uma mesma realidade) já nos parece confusa e com enorme frequência os paradoxos e buracos de narrativa ficam evidentes. Looper é mais um desses casos em que a lógica (e os que acham que cinema precisa ser cientificamente correto) fica em segundo plano diante de uma historia bastante simples, mas apresentada de forma complexa, graças e uma excelente montagem e um trabalho visual que revela muito talento de seu realizador.

Rian Johnson, cujo trabalho de maior impacto era o singelo e visualmente inteligente Vigaristas estrelado por Rachel Weisz, Adrian Brody e Mark Ruffalo, mistura gêneros cinematográficos diferentes e os amarra com uma corda firme da viagem no tempo para soar original e diferente. Com um roteiro assinado pelo próprio Johnson, Looper apresenta uma sociedade futurista muito próxima da gente. Em 2042, a viagem no tempo ainda não foi inventada, nos diz Joe (Joseph Gordon Levitt, protagonista e um dos produtores do filme), mas trinta anos nesse futuro (ou seja, 2072) ela é uma realidade. Banida do alcance do cidadão comum, a prática se revela interessantíssima para que os bandidos resolvam seus problemas. Em uma sociedade onde "se livrar dos corpos é cada vez mais difícil" como Joe nos informa também, a viagem no tempo é a solução perfeita. Prende-se o sujeito, se envia até o passado onde assassinos contratados resolvem o problema e se livram de um corpo que trinta anos no passado não existe ainda.

Um desses assassinos é o já citado Joe, que nessa sociedade que quase beira o velho oeste, recebe seu pagamento em prata, anda em seu possante carro esporte e frequenta a balada local (que funciona como um saloon do velho oeste). Ao lado de outros caçadores de recompensa (ou loopers como são chamados), e sempre armado de seu bacamarte (uma espécie de arma que também remonta aos tempos do oeste americano) Joe segue sua rotina morosa economizando seu pagamento para sair daquela vida. Porém, algo esta acontecendo nesse mundo, dia após dia, os loopers vem sendo fechados, o que na gíria local significa que pouco a pouco, os loopers têm matado suas próprias versões do futuro em troca de uma aposentadoria precoce. Tudo isso é motivado pelo misterioso Rainmaker, que segundo a lenda local, surgiu do nada e vem apagando da existência os Loopers.


A trama começa a ficar complexa quando surge na frente de Joe seu eu do futuro (Bruce Willis) que acaba fugindo e criando muitos problemas para o Joe do passado que precisa agora persegui-lo ao mesmo tempo em que também é perseguido por outros Loopers de sua organização, já que não existe coisa pior nesse negocio do que deixar seu "presunto" fugir.

Parece complexo, e em determinados momentos essa sensação se concretiza. Com um roteiro que abraça sem dó toda essa complexidade, Johnson brinca com o espectador tentando nos mostrar a teoria de que o tempo é cíclico e funciona de forma circular, ou seja, passado e presente funcionam ao mesmo tempo e uma ação pode ser repetida a exaustão até que se resolva da forma que um dos viajantes ache conveniente. Essa brincadeira acontece e deixa a principio o espectador confuso. Mas quando começamos a pensar sobre isso (sim, pensar no cinema olha que coisa rara) até que Johnson tenta fazer sentido com suas explicações.

Sem estragar a diversão do espectador, basta dizer que as idas e vindas no tempo são bem montadas e você consegue criar empatia tanto pelo inseguro e irascível Joe de Gordon Levitt e pelo Joe de Bruce Willis, um sujeito mais maduro e que tem um plano a seguir.


Looper mistura ficção científica e suas viagens no tempo com uma estética que lembra filmes dos anos setenta, western, drama "indie" e um desenvolvimento de personagens incomum para produções mais modernas (e com dinheiro) realizadas nos Estados Unidos dentro do gênero.

Johnson prefere desenvolver seus personagens e apostar na verossimilhança de um mundo que lembra demais o nosso, e que não tenta copiar a estética de Blade Runner de futuro. Apesar de não ser nada sutil em relação à condição social em que as pessoas vivem Johnson não cai na armadilha de colocar tudo em um ambiente sufocante, cheio de néons e sob chuva. Prefere a desolação dos vastos painéis de concreto na cidade grande, das ruas largas e dos mendigos de rua, amparado por uma direção de arte que tenta deixar o ambiente o mais atemporal possível, usando de tecnologia apenas em momentos específicos da trama, fazendo os poucos gadgets do filme mais críveis.

Apesar de ter sua ação quase toda passada em uma cidade grande, Looper também tem momentos importantes - e seu clímax - realizados em uma vistosa fazenda americana. Lá, Johnson opta por apostar no tom dourado das plantações de trigo, nos tons ensolarados que ajudam (se é que precisa de ajuda) Emily Blunt a aparecer ainda mais bonita. Segura, a atriz é mais um dos elementos que transforma a fazenda em um ambiente acolhedor e que por isso mesmo, funciona tão bem para as revelações do filme.


É impossível deixar de mencionar a maquiagem que deixa Gordon Levitt parecido com Willis. Não, a ideia não é transformá-lo em um clone, mas deixar os traços do ator o mais próximos possível dos de Willis. O filme ainda tem alguns coadjuvantes em bons momentos, como Jeff Daniels que funciona por ser uma espécie de vilão que demonstra sua crueldade por meio da gentileza e Paul Dano que tem uma cena de impacto e que remonta aos tiques nervosos vistos no excepcional Sangue Negro.

Contando com algumas cenas realmente impressionantes (em especial a que vemos um homem literalmente ser desmontado em nossa frente) e uma mistura de subgêneros que nunca fica confusa, Looper tem um texto que abraça sem dó os clichês da viagem no tempo, em todos os seus triunfos e seus defeitos. Auxiliado por um bom trabalho técnico, mesmo quando se complica com um texto mais rebuscado, consegue manter o espectador tenso dentro de seu clima de thriller.



Nenhum comentário:

Postar um comentário