Lay the Favourite
(Lay the Favourite, 2012)
Comédia - 94 min.
Direção: Stephen Frears
Roteiro: D.V. DeVincentis
com: Bruce Willis, Rebecca Hall, Vince Vaughn, Catherine Zeta-Jones, Laura Prepon, Joshua Jackson
O interessante de festivais de Cinema é a grande quantidade de material à disposição. Muitas vezes, os filmes podem ser decididos por algum elemento em especial apenas: seja o diretor, a presença de certo ator ou uma história interessante. Sem saber muito sobre, fui acompanhar o novo filme de Stephen Frears. E logo nos primeiros minutos de Lay the Favorite, se percebe que uma atmosfera cômica se instala. Diversos tipos olham para o corpo de Beth, a protagonista. Cada um parece representar o estereótipo do americano médio: um é o almofadinha, o outro é o fanático por armas etc. Logo após, a fotografia de cores fortes acompanha nossa protagonista sair da vida de "stripper", em busca de algo mais consistente. Sua ideia, compartilhada com seu pai (numa boa ponta de Peter Mullan), é virar garçonete
A comédia, derivada da atmosfera atingida por Frears, só fica mais evidente com a atuação way-over-the-top de Rebecca Hall, irreconhecível por trás de um visual amalucado e uma voz irritante. As ambições tão inusitadas da personagem também divertem pelo absurdo e são cruciais na hora em que o timing cômico se revela através do espírito farsesco de cada situação. O estranho game de Beth; a casa de apostas cheia de telões; as casas com gramados enormes; as roupas de Zeta-Jones. E Las Vegas é vista com olhar ensolarado, como se desse uma estética não-realista ao ambiente, o que ajuda a emular esse teatro. O playground da América, afinal, é o conjunto de vários monumentos no planeta. Uma cidade de mentira,
Se permanecesse ao debochar da farsa, Lay the Favorite poderia até render alguns frutos. Porém, é preciso timing perfeito para segurar uma comédia por muito tempo. Ao adotar a estrutura de romance cômico, o filme não se livra dos cacoetes e viradas típicas do gênero. Até o didatismo está presente: Zeta Jones dá um azar imediato a Willis, que o faz exclamar "você me dá azar!". Na ausência de trama, o roteiro de D. V. DeVincentis se envereda por outros gêneros, outros arcos. Desenvolvendo personagens de maneira um tanto desleixada, o roteiro se esquece de manter uma trama firme em prol das experiências das mais diversas possíveis. Logo, o filme de Frears acaba por se transformar em um romance, para virar um drama, para virar um coming-of-age, para virar um policial barato, para voltar ao coming-of-age.
Se a afirmação de um tema coerente não funciona, muitos significados que o roteiro acha acabam opacos. O jogo e o amor se demonstram bem próximos (Beth larga os dois ao mesmo tempo), as lições de amadurecimento (quem é responsável por quem cativa?) aparecem, prezar por bons valores (como a amizade) se torna um lema. E as elipses ficam tão desfocadas (pobre Joshua Jackson; some do nada pra voltar só pro clímax) que me ocorreu, pouco antes do final da sessão: personagens são dispersos, as situações são quase de auto-ajuda, vários segmentos parece reduzidos ou ocultados. Será que é baseado em um livro?
Nos créditos finais, um letreiro diz que a protagonista virou escritora. Lay the Favorite é baseado nas memórias escritas de Beth Raymer.
Verão em Red Hook
(Red Hook Summer, 2012)
Drama - 121 min.
Direção: Spike Lee
Roteiro: Spike Lee e James McBride
com: Jules Brown, Thomas Jefferson Bird, Toni Lysaith
Spike Lee sempre se apoiou em temas fortes para contar suas histórias. Muitos deles (a maioria) falavam sobre a comunidade negra. Mas o que mais chamava a atenção em Lee era a maneira coerente com quê trabalhava esses temas nos seus bons trabalhos. Até em seu filme de assalto, o excepcional O Plano Perfeito, o diretor encaixava com louvor uma poderosa discussão étnica e política no meio da trama. Porém, Lee também se tornou instável como realizador. Se no início o diretor contava historias sobre a difícil vida dos negros em alguns locais, a aventura por outros gêneros rendeu frutos como o já citado Plano Perfeito, mas também gerou problemáticos filmes como She Hate Me e Milagre
Natural, portanto, que Leigh volte a um local habitado essencialmente por negros para contar a sua história, como eram Faça a Coisa Certa e Malcolm X. Parecendo possuir traços autobiográficos, Red Hook Summer já começa com o retrato de Lee cheio de ternura com o ambiente onde se situará a história. Quando o menino Flik vai filmando os locais em sua chegada, o diretor faz uma introdução parecida com o que Woody Allen fez
Era de se esperar que o filme fosse abordar a questão do menino inadequado com o local de suas férias de verão, mas o roteiro escrito pelo diretor e James McBride leva isso á exaustão. Enfileiram-se as vezes que Flik diz que sente falta de seu "quarto em Atlanta" e que "quer ir pra casa". Para prosseguir com essa inadequação e tentar controla-la, o lugar comum se torna onipresente. O padre avô tenta ajudar, moldando o menino nos padrões da religião; a vizinha de bloco começa a conversar com nosso protagonista; os rappers são do mal e dão uma dura em Flik; o menino conhece mais sobre outros moradores curiosos, como o Diácono, cada um com uma historia pra contar; e os cultos sempre se demonstram preparados para enriquecer seus visitantes.
Se no começo se parecia um coming-of-age, Red Hook Summer não parecia mais nada além de discursos e pensamentos dispersos.
O que, lá para o minuto 105, faz com que Lee invente uma reviravolta para finalizar seu ensaio com certa satisfação. E quando ela chega, não poderia ser de maneira mais deslocada. O tal plot twist, que, apesar de verossímil, em nada condiz com o que o filme estava contando até ali, só dilata a narrativa e cria um clímax para a desgastada história; o que foge de vez da temática de amadurecimento de Flik. Se a cena em questão, com certo personagem filmado em close (e em cima do trilho), não fosse tão poderosa por si só, o filme terminaria um desastre completo e sem sentido. Até nos momentos com certa carga dramática, tem algo de errado: a trilha sonora de Bruce Hornsby é tão intrusiva que torna o culto cômico (as notas no órgão no meio de um sermão?) e o drama, irrelevante (como na cena da tortura, perto do final).
Red Hook Summer consegue ser disperso a ponto de ser moderno e antiquado, afirmativo e incoerente, acomodado e revoltado. Ao menos, se caiu tão forte, não foi por pular do baixo.
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