Encontrarás Dragões
(There Be Dragons, 2011)
Drama/Guerra - 122 min.
Direção: Roland Joffé
Roteiro: Roland Joffé
com: Charlie Cox, Wes Bentley, Dougray Scott, Rodrigo Santoro, Jordi Molà, Derek Jacobi, Geraldine Chaplin, Olga Kurylenko
Roland Joffé, diretor dos importantes A Missão e Os Gritos do Silêncio, parece possuir uma predileção pelos épicos. Mesmo que nos últimos anos o diretor tenha conseguido pouco financiamento e exposição para seus filmes (os últimos sucessos de Joffé foram justamente Missão e Gritos), essa iniciativa não muda. Com exceção dos desastrosos Captivity e You and I, a filmografia do inglês tem um predileção pelos grandes temas históricos. Com There Be Dragons, seu filme de 2011 que chega agora ao grande circuito no mundo todo, não é diferente. Porém, aqui, essa predileção alcança níveis absurdos.
Iniciando a obra com uma cena de impacto, que culmina em um close no rosto do protagonista, Joffé já adota uma narração em off expositiva que tenta obter uma atmosfera eficaz. Os takes de grua, a fotografia envolta em sombras e os flashbacks constantes se apresentam como os recursos de Joffé para dar relevância á sua história. Os problemas são muitos, mas a gênese deles se dá quando o diretor segue o manual de roteiro histórico tão bem que copia até os erros dos épicos frouxos: as elipses espaçadas
Em toda a narrativa, fica a impressão que cenas são teatrais demais (atente para a cena final de Oriol e Ildiko) e que muito do desenvolvimento dos personagens poderia ser melhor trabalhado. Afinal, outro fator incômodo de Encontrarás Dragões é a caracterização rasa dos homens
Se levando muito (mas muito mesmo) mais a sério do que deveria, o filme ainda inclui temas de conhecimento universal para ganhar uma importância que, obviamente, não fez por merecer: a Guerra Civil é triste e mantém todos em estado de pressão, só o amor pode vencer a guerra, participar de um movimento ideológico ("Fazer parte de uma multidão é incrível, mesmo não concordando com ela"), a traição trágica que implanta a discórdia no eixo do Bem, o melodrama em busca da liberdade etc. Tudo isso embalado por takes grandiloquentes de grua e por uma trilha intrusiva, repetitiva e que não parece parar nunca.
Ainda que acredite contar uma história SOBRE Josemaría Escribá, Encontrarás Dragões se revela mais um conto COM Escribá. A narrativa se apóia muito mais no fictício Manolo Torres, que acaba se mostrando mais interessante justamente por ser levado pelo roteiro (como diz a legenda final) como o homem comum na História, mesmo que ele seja um traidor mal-caráter arrogante e invejoso. O fato de o roteiro querer fazer acreditar que a amizade de Torres e Escribá permaneceu forte após tudo o que aconteceu (mesmo sem ela nunca ter realmente acontecido) ainda torna o tom épico da produção mais absurdo ainda.
Pelo menos, a recriação da época está impecável e as cenas de batalha são bem intensas. Porque se depender de emoções dos personagens, Encontrarás Dragões está perdido.
Um Wes Bentley de látex e moribundo não é a mais épica das figuras.
(The Company You Keep, 2012)
Thriller - 125 min.
Direção: Robert Redford
Roteiro: Lem Dobbs
com: Robert Redford, Shia LaBeouf, Julie Christie, Susan Sarandon, Sam Elliott, Jackie Evancho, Brendan Gleeson, Terrence Howard, Richard Jenkins, Anna Kendrick, Stanley Tucci, Nick Nolte, Chris Cooper
No atual mercado hollywoodiano, um produto costuma ter a assinatura de seu tempo. Mesmo os blockbusters mais abrangentes (Transformers, Battleship), que visam todo o tipo de público, acabam tomando uma postura sobre sua época, ainda que mais maquiada. Porém, em termos políticos, é raro ver um realizador engajado como Robert Redford. Tanto ele quanto George Clooney espalham seus pensamentos democratas por seus trabalhos de uma forma que os façam encaixar com coerência na narrativa. Porém, se Clooney se cerca de belos roteiros (Boa Noite, Boa Sorte, Tudo pelo Poder) para espalhar seus ideiais, Redford acaba soando mais panfletário, como em Leões e Cordeiros e Conspiração Americana.
Em seu novo trabalho, Sem Proteção, Redford consegue ser mais equilibrado entre discurso e estrutura por algum tempo, mas ainda assim peca pela falta de história para segurar seu subtexto.
O roteiro, do competente Lem Dobbs (colaborador frequente de Steven Soderbergh), começa com uma montagem sobre conflitos ideológicos e protestos nos anos 70. Após o título, testemunhamos à entrega da personagem de Susan Sarandon e acompanhamos o jornalista Ben Shepard, vivido por Shia LaBeouf, cobrir o caso. Nesse início, a investigação se desenrola de maneira interessante, sempre com mistérios soltos, o que mantém a atenção do espectador. A cada informação captada por Ben, a trama vai um pouco à frente, o que tenderia a algo promissor.
A ideia de Ben sobre jornalismo é posta em cheque e quanto mais se explora o assunto, mais rasa a estrutura fica. Porém, quando Jim, interpretado por Redford, entra com mais afinco na trama, a ideologia antiga dos envolvidos no crime se torna essencial ao desenvolvimento de todos os que habitam a narrativa. O que chama atenção são as cenas bem orquestradas (como a de Redford e Julie Christie e a de Redford e Richard Jenkins), mas que pouco tem para avançar a trama. O que, em contraste com a concisão do início, acaba por frear o ritmo.
Isso seria apenas um problema corriqueiro de Redford como realizador, mas acaba por tornar levemente convoluto o já engessado roteiro. Como o entra e sai de personagens já confere um caráter literário ao filme (não é por acaso: o roteiro de Dobbs é inspirado no livro de Neil Gordon), tirar a zona de conforto da estrutura ao debater os temas propostos pela mesma é uma solução teoricamente interessante. No entanto, Redford apenas consegue solucionar seu debate ao recuar em nome da responsabilidade. Ao mesmo tempo em que dá sinais de manter sua chama radical acesa ("Violência? Violência é não tomar partido"; pregar que o jornalismo é a fonte da verdade), o diretor-ator demonstra sinais de acomodação (achar que o jornalista seria mais velho; ter a ideia de que amadurecer seria, na visão de Jim, abandonar a causa).
Não que seja algo inverossímil para o personagem, claro. Apenas é uma prova concreta de que o envelhecimento pesou para Redford.
De sobra, Sem Proteção acaba se demonstrando um thriller tradicional, embalado por um inspirada e contida trilha de Cliff Martinez, com bom planejamento dos mistérios e um assunto relevante. Ainda que acabe se arrastando além do necessário ao se transformar em um mero filme de fuga, o roteiro faz mais pontos corretos que negativos e entrega uma narrativa, ao menos, coerente. Comum e completamente sem surpresas, mas, ainda assim, coerente.
A certa altura, algum personagem diz: "Não tenho mais segredos, já posso ir embora". Mais sinceridade a um filme de conspirações, impossível.
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