Os Candidatos
(The Campaign, 2012)
Comédia - 85 min.
Direção: Jay Roach
Roteiro: Chris Henchy e Shwan Harwell
com: Will Ferrell, Zach Galifianakis, Jason Sudeikis, John Lithgow, Dan Aykroyd, Dylan McDermott, Katherine LaNasa, Sarah Baker, Brian Cox
A política por si
só, já se presta a ser um alvo claro para paródias e escracho. No mundo em que vivemos
a ideia de governar uma nação para o bem maior, tem se transformado em motivo
de piada desde sempre. Seja por aqueles que discordam das direções tomadas por
quem comanda a ação, seja pelas próprias ações de quem governa que, monitorada
por um universo de pessoas 24 horas por dia, se vê num telão infinito, onde
cada passo dado é julgado, analisado, ovacionado, odiado, parodiado e etc.
A comédia sempre
usou a política como alvo, seja na parodia dos políticos corruptos, naqueles
populistas, nos engajados e até mesmo na desconstrução da ideia de um
governante. Os Candidatos é uma mistura de tudo isso, e embora tenha momentos
realmente engraçados, perde muito com uma resolução edificante e que no fundo
quer reforçar os conceitos do american way of life, que no fundo, vinham sendo
criticados desde então.
A historia começa
com um voice over que entrega a piada pronta do filme. O personagem de Will
Farrell (Cam Brady) conversa antes de começar um pronunciamento e ouve as
diretrizes de seu coordenador de campanha. Repete as ordens, falar sobre
"America, Jesus and Freedom" (América, Jesus e Liberdade), algo muito
próximo do que candidatos não só americanos adoram dizer durante as campanhas.
Brady é um político profissional, daqueles que adora o "puder", mas que
não realiza nada para o povo, gosta do status, mas não do trabalho. Não chega a ser um corrupto, mas é um sujeito preguiçoso e acomodado. A trama ganha corpo, quando surgem os misteriosos
irmãos Motch (vividos pelas lendas do humor americano John Lithgow e Dan Aykroyd)
que planejam um golpe absurdo que precisa da aprovação governamental. Depois de
ver sua ideia ser recusada por um dos 88 assessores de Brady, partem para um
plano mais ousado: criar um candidato do zero, que serviria aos interesses de seus planos, e que concorra com Brady ao posto de congressista em seu distrito.
O sujeito é o excêntrico
Marty Huggins, vivido com habitual bizarrice por Zach Galifianakis, que parece ter criado
uma persona cinematográfica que só funciona com esses tipos. Filho de um político
aposentado (ponta de Brian Cox), Marty é tudo o que um político não deve ser.
Inseguro, de visual estranho, voz anasalada e fina, que aos poucos vai tendo sua
imagem e discurso alterado em prol da tal "campanha", que dá título
ao filme originalmente.
O desenvolvimento
do filme, quando somos alvo de uma serie de piadas que envolvem os meandros
políticos, como debates em que o candidato se esquiva e na verdade não diz
nada, ou sobre a deturpação das frases de determinado personagem para que
aquilo se transforme em arma contra ele mesmo, ou a subversão do clichê de
beijar um bebê ou ser legal com um cãozinho, funciona agradavelmente bem. Tudo isso, com um bom timing a
cargo dos dois bons atores e da direção de Jay Roach (experiente em filmes do gênero, como as aventuras do agente Austin Powers e os dois primeiros Entrando numa Fria) que fazem dos absurdos de
Candidatos uma ótima mostra dos exageros da política. Claro, que elevados à
nonagésima potencia (ou não em alguns casos), mas que no fundo querem dizer a
mesma coisa: a política é mal utilizada pelo ser humano, que deixa a cargo de
gente mesquinha e ignorante no comando de seu país, cidade, estado. Além disso,
mostra que o público é conivente, pois apóia e vibra com cada bobagem proferida
pelos medonhos candidatos.
O problema do
filme é que em vez de seguir em uma espiral de ofensas e bobagens até o tal dia
de eleição, ele pretende apresentar uma mensagem, uma ideia
"política" e que derruba o impacto das observações satíricas até ali vistas.
Apesar de a mensagem ser óbvia e direta, esse conto de moralidade é tolo, já
que perde a chance de ser ainda mais anárquico e contundente em um período
(eleição presidenciais americanas) onde os olhos do público em geral voltam-se
para o assunto. Ao optar pelo caminho da complacência, Candidatos - com o
perdão do infame trocadilho - perde a eleição, e não vai para o segundo turno das
comédias do ano.
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