007 - Operação Skyfall
(Skyfall, 2012)
Ação/Aventura - 143 min.
Direção: Sam Mendes
Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade, John Logan
com: Daniel Craig, Javier Bardem, Judi Dench, Ralph Fiennes, Ben Whishaw, Naomi Harris
Em Skyfall, James
Bond (Daniel Craig) não é mais o mesmo. Se em Cassino Royale ele perseguia
a pé por quilômetros (e fazendo parkour durante o caminho) um inimigo, no mais recente filme da franquia o agente tem
dificuldades para completar uma simples rotina de exercícios físicos, tem sua
mira prejudicada e reflexos mais lentos. Em resumo, Skyfall apresenta um 007
quase veterano, marcado por muitas missões e ferido física e psicologicamente
por cada uma delas.
O diretor Sam
Mendes - o mais famoso diretor a dirigir uma aventura do agente secreto - coloca
esse agente cansado em uma trama que o leva o mais próximo possível de sua
casa, tanto em termos literais quanto metaforicamente, em relação aos
exemplares mais antigos da série. Mendes pega o esqueleto construído por
Martin Campbell em
Cassino Royale (ignoremos Quantum os Solace, que é apenas
mediano) com um agente bronco, imundo, que resolve muita coisa na base da bordoada
e nunca termina uma missão sem uns hematomas e machucados no rosto e mistura com a verve
clássica do agente secreto e todo o mundo de requinte, galanteios, martinis
batido e não mexido, gadgets, smokings e Walther PPKs. Mendes encontra aqui um
equilíbrio entre a noção "realista" de um agente secreto no século
XXI e as aventuras escapistas do agente de sua majestade que conquistaram o mundo.
Isso não significa
que o filme seja perfeito. Aliás, quais filmes são perfeitos, e ainda mais,
qual aventura de Bond era perfeita? Esse abraço apertado no absurdo, essa noção
de quase super-heroísmo do agente com permissão para matar é que faziam as
gafes e o estilo quase kitsch em muitos momentos, se transformarem em triunfo.
Os problemas aqui
são pontuais e dizem respeito diretamente ao desenvolvimento do argumento. Explicações
apressadas e a tal lógica que acaba subvertida em detrimento do andamento da ação e
que deve incomodar o pessoal que não consegue entender a diferença entre basear
um filme em questões reais e o realismo.
A trama começa - e
o trailer do filme já nos conta isso - quando Bond é dado como morto e retorna
a ação depois de um atentado vitimar seus colegas do MI6. M , novamente vivida por
Judi Dench, enfrenta um grande desafio que lhe atinge pessoalmente, enquanto
Bond - como disse no começo da análise - precisa de alguma forma encontrar seu
lugar. Dessa vez ele recebe auxílio de novos parceiros como Eve, vivida por
Naomi Harris (a Tia Dalma da série dos Piratas do Caribe) e do armeiro Q (uma
das muitas referências à série clássica que o filme apresenta), e que é vivido
por Ben Whishaw, ator irregular de trabalhos como Perfume e Não Estou Lá, mas
que aqui é um canal de humor importante para a historia. Se junta ao elenco a
figura do burocrata vivido por Ralph Fiennes, que tem desempenho seguro, embora
não se destaque.
Gosto de pensar,
que filmes de ação e aventura (e até alguns dramas) podem ser julgados pela
força de seus vilões. Em uma entrevista recente Sam Mendes disse que se
inspirou no clima "real" que Christopher Nolan deu aos seus filmes de
Batman, em especial ao segundo filme da franquia, o excepcional O Cavaleiro das
Trevas. Essas semelhanças são possíveis de compreender na questão visual do
filme, que apesar de não apostar tanto assim nos tons típicos de Nolan, tem
escopo e grandiosidade o suficiente para colocar a fantasia dentro de um lugar
comum, o grande mérito dos filmes de Nolan, nos colocar em um mundo que poderia existir de verdade com um sujeito vestido de morcego a tira-colo. Porém, é impossível lembrar de Cavaleiro das Trevas sem lembrarmos de
Heath Ledger e seu Coringa.
Embora o vilão de
Javier Bardem não seja anárquico como o Coringa de Ledger e nem tenha uma
motivação tão imprevisível como simplesmente ver o circo pegar fogo, é um
sujeito que é igualmente mortífero, perturbado e intenso. A cena em que o
personagem encontra o agente James Bond pela primeira vez é fabulosa, de uma
variação dramática magnífica e que vai do humor britânico em estado puro, ao
medo e a tensão muito facilmente. Bardem consegue dar alma a um personagem que
talvez fosse mais um vilão genérico de Bond se não tivesse sido interpretado
por um ator tão talentoso.
Judi Dench por sua
vez nunca foi tão exigida em um filme de Bond como é nesse Skyfall. Funcionando
quase como a bond girl da vez, M é uma mulher que não suporta o fracasso e que
precisa dar um norte a sua organização em um mundo cada vez mais cinzento, onde
- e o filme nos diz isso - o inimigo não tem uma cara, nem mesmo uma nação.
Dench se não tem um daqueles desempenhos fantásticos, concebe humanidade a
personagem, fundamental a uma trama que lhe cala tão pessoalmente.
E Daniel Craig
parece ter achado um tom confortável para seu Bond. Longe de ser aquele Bond
maníaco e brutamontes que tanto chocou aos fãs xiitas da velha guarda do agente
secreto, incapaz de beber um Martini e de mal usar um smoking, o James Bond de
Skyfall é uma mistura do charme e "classismo" de Sean Connery em seu
smoking e irônicos sorrisos e muito poder de sedução com aquela leve galhofa e
bom humor que podia ser visto nos filmes estrelados por Roger Moore e que
também se assemelha um pouco ao que Pierce Brosnan fez na sua era como o agente
007.
Tecnicamente sem
nenhuma grande novidade, Skyfall abraça um pouco o que a franquia já construiu
(nem precisaria ser diferente), sendo eficiente em suas sequências de ação, com
uma montagem enérgica que consegue criar tensão e fazer-se compreensível para o
espectador. Além disso, a trilha é funcional, utilizando o tema de Bond pela
primeira vez em um momento que fará os saudosistas vibrarem, além de elevar o
nível das canções tema da franquia depois da mediana música de Quantum of
Solace (embora os viúvos de revista cancelada continuarem a reclamar).
007 - Operação
Skyfall é um belo presente de aniversário do agente aos fãs que acompanham suas
aventuras há 50 anos. Combina o que de melhor o agente já fez em suas
aventuras: um bom vilão com um plano intrigante, mas que não é confuso ou
enfadonho, coadjuvantes carismáticos, bom humor eventual e que sempre funciona
e um protagonista que conseguiu encontrar uma maneira de fazer do personagem
algo seu, trazendo o que de melhor cada um dos outros interpretes trouxeram ao
agente misturado a suas próprias ideias e interpretações do papel. Sam Mendes
acerta e os fãs do cinema agradecem.
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