quinta-feira, 25 de outubro de 2012

007 - Operação Skyfall


007 - Operação Skyfall
(Skyfall, 2012)
Ação/Aventura - 143 min.

Direção: Sam Mendes
Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade, John Logan

com: Daniel Craig, Javier Bardem, Judi Dench, Ralph Fiennes, Ben Whishaw, Naomi Harris

Em Skyfall, James Bond (Daniel Craig) não é mais o mesmo. Se em Cassino Royale ele perseguia a pé por quilômetros (e fazendo parkour durante o caminho) um inimigo, no mais recente filme da franquia o agente tem dificuldades para completar uma simples rotina de exercícios físicos, tem sua mira prejudicada e reflexos mais lentos. Em resumo, Skyfall apresenta um 007 quase veterano, marcado por muitas missões e ferido física e psicologicamente por cada uma delas.

O diretor Sam Mendes - o mais famoso diretor a dirigir uma aventura do agente secreto - coloca esse agente cansado em uma trama que o leva o mais próximo possível de sua casa, tanto em termos literais quanto metaforicamente, em relação aos exemplares mais antigos da série. Mendes pega o esqueleto construído por Martin Campbell em Cassino Royale (ignoremos Quantum os Solace, que é apenas mediano) com um agente bronco, imundo, que resolve muita coisa na base da bordoada e nunca termina uma missão sem uns hematomas e machucados no rosto e mistura com a verve clássica do agente secreto e todo o mundo de requinte, galanteios, martinis batido e não mexido, gadgets, smokings e Walther PPKs. Mendes encontra aqui um equilíbrio entre a noção "realista" de um agente secreto no século XXI e as aventuras escapistas do agente de sua majestade que conquistaram o mundo.

Isso não significa que o filme seja perfeito. Aliás, quais filmes são perfeitos, e ainda mais, qual aventura de Bond era perfeita? Esse abraço apertado no absurdo, essa noção de quase super-heroísmo do agente com permissão para matar é que faziam as gafes e o estilo quase kitsch em muitos momentos, se transformarem em triunfo.


Os problemas aqui são pontuais e dizem respeito diretamente ao desenvolvimento do argumento. Explicações apressadas e a tal lógica que acaba subvertida em detrimento do andamento da ação e que deve incomodar o pessoal que não consegue entender a diferença entre basear um filme em questões reais e o realismo.

A trama começa - e o trailer do filme já nos conta isso - quando Bond é dado como morto e retorna a ação depois de um atentado vitimar seus colegas do MI6. M, novamente vivida por Judi Dench, enfrenta um grande desafio que lhe atinge pessoalmente, enquanto Bond - como disse no começo da análise - precisa de alguma forma encontrar seu lugar. Dessa vez ele recebe auxílio de novos parceiros como Eve, vivida por Naomi Harris (a Tia Dalma da série dos Piratas do Caribe) e do armeiro Q (uma das muitas referências à série clássica que o filme apresenta), e que é vivido por Ben Whishaw, ator irregular de trabalhos como Perfume e Não Estou Lá, mas que aqui é um canal de humor importante para a historia. Se junta ao elenco a figura do burocrata vivido por Ralph Fiennes, que tem desempenho seguro, embora não se destaque.

Gosto de pensar, que filmes de ação e aventura (e até alguns dramas) podem ser julgados pela força de seus vilões. Em uma entrevista recente Sam Mendes disse que se inspirou no clima "real" que Christopher Nolan deu aos seus filmes de Batman, em especial ao segundo filme da franquia, o excepcional O Cavaleiro das Trevas. Essas semelhanças são possíveis de compreender na questão visual do filme, que apesar de não apostar tanto assim nos tons típicos de Nolan, tem escopo e grandiosidade o suficiente para colocar a fantasia dentro de um lugar comum, o grande mérito dos filmes de Nolan, nos colocar em um mundo que poderia existir de verdade com um sujeito vestido de morcego a tira-colo. Porém, é impossível lembrar de Cavaleiro das Trevas sem lembrarmos de Heath Ledger e seu Coringa.


Embora o vilão de Javier Bardem não seja anárquico como o Coringa de Ledger e nem tenha uma motivação tão imprevisível como simplesmente ver o circo pegar fogo, é um sujeito que é igualmente mortífero, perturbado e intenso. A cena em que o personagem encontra o agente James Bond pela primeira vez é fabulosa, de uma variação dramática magnífica e que vai do humor britânico em estado puro, ao medo e a tensão muito facilmente. Bardem consegue dar alma a um personagem que talvez fosse mais um vilão genérico de Bond se não tivesse sido interpretado por um ator tão talentoso.

Judi Dench por sua vez nunca foi tão exigida em um filme de Bond como é nesse Skyfall. Funcionando quase como a bond girl da vez, M é uma mulher que não suporta o fracasso e que precisa dar um norte a sua organização em um mundo cada vez mais cinzento, onde - e o filme nos diz isso - o inimigo não tem uma cara, nem mesmo uma nação. Dench se não tem um daqueles desempenhos fantásticos, concebe humanidade a personagem, fundamental a uma trama que lhe cala tão pessoalmente.

E Daniel Craig parece ter achado um tom confortável para seu Bond. Longe de ser aquele Bond maníaco e brutamontes que tanto chocou aos fãs xiitas da velha guarda do agente secreto, incapaz de beber um Martini e de mal usar um smoking, o James Bond de Skyfall é uma mistura do charme e "classismo" de Sean Connery em seu smoking e irônicos sorrisos e muito poder de sedução com aquela leve galhofa e bom humor que podia ser visto nos filmes estrelados por Roger Moore e que também se assemelha um pouco ao que Pierce Brosnan fez na sua era como o agente 007.


Tecnicamente sem nenhuma grande novidade, Skyfall abraça um pouco o que a franquia já construiu (nem precisaria ser diferente), sendo eficiente em suas sequências de ação, com uma montagem enérgica que consegue criar tensão e fazer-se compreensível para o espectador. Além disso, a trilha é funcional, utilizando o tema de Bond pela primeira vez em um momento que fará os saudosistas vibrarem, além de elevar o nível das canções tema da franquia depois da mediana música de Quantum of Solace (embora os viúvos de revista cancelada continuarem a reclamar).

007 - Operação Skyfall é um belo presente de aniversário do agente aos fãs que acompanham suas aventuras há 50 anos. Combina o que de melhor o agente já fez em suas aventuras: um bom vilão com um plano intrigante, mas que não é confuso ou enfadonho, coadjuvantes carismáticos, bom humor eventual e que sempre funciona e um protagonista que conseguiu encontrar uma maneira de fazer do personagem algo seu, trazendo o que de melhor cada um dos outros interpretes trouxeram ao agente misturado a suas próprias ideias e interpretações do papel. Sam Mendes acerta e os fãs do cinema agradecem.


Nenhum comentário:

Postar um comentário