Vantagens de ser Invisível
(The Perks of Being a Wallflower, 2012)
Drama/Romance/Comédia - 103 min.
Direção: Stephen Chbosky
Roteiro: Stephen Chbosky
com: Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Paul Rudd, Dylan McDermott, Tom Savini, Kate Walsh, Johnny Simmons
Um elenco jovem em
ótimo momento, um roteiro denso, emocionante e muito bem dirigido (pelo mesmo
homem responsável pelo livro e por sua adaptação em forma de roteiro) e um grau
de realismo muito próximo do que sofrem aqueles que apresentam problemas de depressão,
ou simplesmente, daqueles que não conseguem encontrar seu lugar nessa selva
chamada humanidade, Vantagens de ser Invisível (titulo que parece contar uma
comédia, o que não é de todo incorreto, mas que não faz jus ao filme) é um dos
grandes trabalhos do ano que chegam ao Brasil.
Mesmo soando
"verde" em alguns momentos - muito pela inexperiência de Chbosky, o
diretor realiza seu segundo filme - o filme se apóia em uma historia sensível para
emocionar o espectador e trazer uma mensagem de amor e amizade muito poderosa.
Partindo do jovem Charlie (Logan Lerman de Percy Jackson e de Três Mosqueteiros), o filme conta a sua historia, a
partir de seu primeiro dia no High School (para quem não sabe, o nosso ensino
médio), mas diferente do que a maioria das produções americanas sobre o tema
faz, deixa seus dois pés no chão. Ambientado no início dos anos 90, uma era
pré-internet, onde encontrar uma tribo para se fazer parte era mais difícil, o
filme coloca Charlie como um garoto solitário, que encontra a amizade ao lado do
sofrido Patrick (Ezra Miller) e da radiante Sam (Emma Watson), meio-irmãos que
também estão fora do radar do ser popular. Patrick, por ser homossexual e Sam por
ter tido problemas quando era "caloura". Ambos não têm a melhor das
reputações entre o meio escolar politicamente correto. Ao lado das também excêntricas
Alice (Erin Wilhelmi) uma apaixonada por vampiros e Mary Elizabeth (Mae Whitman) uma punk adolescente redatora
de fanzines (quem lembra?) e do "lesado" Bob (Adam Hagenbuch) logo criam um
grupo de amigos que envolve o garoto, pela primeira vez, em um ambiente acolhedor,
onde seus sentimentos, medos e paixões afloram.
Tudo feito com
muito cuidado e atenção para com os personagens, que são todos tridimensionais,
até mesmo as participações pequenas dos pais de Charlie e seu irmão mais velho tem
espaço para se desenvolver. O destaque é o excelente Ezra Miller, que faz de
Patrick, um arquétipo do palhaço, que esconde uma profunda melancolia e tristeza
por trás da atmosfera de alegria e despojamento. Já Emma Watson, despe-se de
toda a aura fantasiosa de Harry Potter para apresentar Sam, como uma garota em
busca de um norte, falível e capaz de servir de apoio e de objeto de desejo
para a motivação de Charlie. Lerman por sua vez, surpreende com a complexidade de
seu personagem, um garoto marcado por um trauma recente e que vive recluso em
seu próprio mundo solitário. Com o desenrolar da historia, que mistura humor e
dor, a crônica de sua vida ganha cores mais intensas que culminam em uma
resolução visceral e chocante.
Em uma associação
barata e até cruel (admito) Vantagens de ser Invisível, é próximo do que Walter
Salles pretendeu com seu pedante Na Estrada. Explico minha lógica: em ambos
vemos grupos adolescentes em busca de seu lugar no mundo. A diferença é que os
adolescentes "libertários" de Salles eram rasos e não tinham traumas
a serem enfrentados, apenas a incapacidade e falta de pretensão em crescer. Os garotos de Chbosky são muito mais honestos com suas dificuldades adolescentes e parecem
muito mais críveis, principalmente emocionalmente. Se em Na Estrada , todos
pareciam super homens (e mulheres) hedonistas sem qualquer envolvimento
emocional, Vantagens mostra a dificuldade da paixão, as dificuldades em
encontrar seu espaço e principalmente expõe motivos tangíveis às dificuldades
dos personagens, sejam eles psicológicos ou não.
Embora o leitor
possa pensar que a trama seja profundamente triste, Vantagens é igualmente
engraçado e sutil em suas observações sobre o mundo que nos cerca. Auxiliado
por uma trilha sonora que faz os trintões (e os mais velhos de espírito, como
esse sujeito que escreve) se deliciarem, é um contraponto inteligente ao tal
"coming-of-age" tão comumente retratado no cinema, mas dificilmente
tão próximo de uma realidade tangível como essa. Da surpresa de Logan Lerman, a
consolidação de Ezra Miller, a beleza e competência de Emma Watson e a ponta
segura de Paul Rudd (como um professor de literatura que inspira o jovem Charlie),
Vantagens é uma aberração no mundo dos filmes sobre adolescentes. Trata os
objetos de estudo de forma calorosa, amorosa e piedosa, mas sem esquecer que
estão inseridos no mundo real, muito mais duro e cruel do que imaginamos.
Obs: Impossível
deixar de mencionar - especialmente para quem é fã, como eu - a homenagem ao
fantástico musical Rock Horror Picture Show que está presente na produção.
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