quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Vantagens de ser Invisível


Vantagens de ser Invisível
(The Perks of Being a Wallflower, 2012)
Drama/Romance/Comédia - 103 min.

Direção: Stephen Chbosky
Roteiro: Stephen Chbosky

com: Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Paul Rudd, Dylan McDermott, Tom Savini, Kate Walsh, Johnny Simmons

Um elenco jovem em ótimo momento, um roteiro denso, emocionante e muito bem dirigido (pelo mesmo homem responsável pelo livro e por sua adaptação em forma de roteiro) e um grau de realismo muito próximo do que sofrem aqueles que apresentam problemas de depressão, ou simplesmente, daqueles que não conseguem encontrar seu lugar nessa selva chamada humanidade, Vantagens de ser Invisível (titulo que parece contar uma comédia, o que não é de todo incorreto, mas que não faz jus ao filme) é um dos grandes trabalhos do ano que chegam ao Brasil.

Mesmo soando "verde" em alguns momentos - muito pela inexperiência de Chbosky, o diretor realiza seu segundo filme - o filme se apóia em uma historia sensível para emocionar o espectador e trazer uma mensagem de amor e amizade muito poderosa. Partindo do jovem Charlie (Logan Lerman de Percy Jackson e de Três Mosqueteiros), o filme conta a sua historia, a partir de seu primeiro dia no High School (para quem não sabe, o nosso ensino médio), mas diferente do que a maioria das produções americanas sobre o tema faz, deixa seus dois pés no chão. Ambientado no início dos anos 90, uma era pré-internet, onde encontrar uma tribo para se fazer parte era mais difícil, o filme coloca Charlie como um garoto solitário, que encontra a amizade ao lado do sofrido Patrick (Ezra Miller) e da radiante Sam (Emma Watson), meio-irmãos que também estão fora do radar do ser popular. Patrick, por ser homossexual e Sam por ter tido problemas quando era "caloura". Ambos não têm a melhor das reputações entre o meio escolar politicamente correto. Ao lado das também excêntricas Alice (Erin Wilhelmi) uma apaixonada por vampiros e Mary Elizabeth (Mae Whitman) uma punk adolescente redatora de fanzines (quem lembra?) e do "lesado" Bob (Adam Hagenbuch) logo criam um grupo de amigos que envolve o garoto, pela primeira vez, em um ambiente acolhedor, onde seus sentimentos, medos e paixões afloram.

Tudo feito com muito cuidado e atenção para com os personagens, que são todos tridimensionais, até mesmo as participações pequenas dos pais de Charlie e seu irmão mais velho tem espaço para se desenvolver. O destaque é o excelente Ezra Miller, que faz de Patrick, um arquétipo do palhaço, que esconde uma profunda melancolia e tristeza por trás da atmosfera de alegria e despojamento. Já Emma Watson, despe-se de toda a aura fantasiosa de Harry Potter para apresentar Sam, como uma garota em busca de um norte, falível e capaz de servir de apoio e de objeto de desejo para a motivação de Charlie. Lerman por sua vez, surpreende com a complexidade de seu personagem, um garoto marcado por um trauma recente e que vive recluso em seu próprio mundo solitário. Com o desenrolar da historia, que mistura humor e dor, a crônica de sua vida ganha cores mais intensas que culminam em uma resolução visceral e chocante.


Em uma associação barata e até cruel (admito) Vantagens de ser Invisível, é próximo do que Walter Salles pretendeu com seu pedante Na Estrada. Explico minha lógica: em ambos vemos grupos adolescentes em busca de seu lugar no mundo. A diferença é que os adolescentes "libertários" de Salles eram rasos e não tinham traumas a serem enfrentados, apenas a incapacidade e falta de pretensão em crescer. Os garotos de Chbosky são muito mais honestos com suas dificuldades adolescentes e parecem muito mais críveis, principalmente emocionalmente. Se em Na Estrada, todos pareciam super homens (e mulheres) hedonistas sem qualquer envolvimento emocional, Vantagens mostra a dificuldade da paixão, as dificuldades em encontrar seu espaço e principalmente expõe motivos tangíveis às dificuldades dos personagens, sejam eles psicológicos ou não.

Embora o leitor possa pensar que a trama seja profundamente triste, Vantagens é igualmente engraçado e sutil em suas observações sobre o mundo que nos cerca. Auxiliado por uma trilha sonora que faz os trintões (e os mais velhos de espírito, como esse sujeito que escreve) se deliciarem, é um contraponto inteligente ao tal "coming-of-age" tão comumente retratado no cinema, mas dificilmente tão próximo de uma realidade tangível como essa. Da surpresa de Logan Lerman, a consolidação de Ezra Miller, a beleza e competência de Emma Watson e a ponta segura de Paul Rudd (como um professor de literatura que inspira o jovem Charlie), Vantagens é uma aberração no mundo dos filmes sobre adolescentes. Trata os objetos de estudo de forma calorosa, amorosa e piedosa, mas sem esquecer que estão inseridos no mundo real, muito mais duro e cruel do que imaginamos.

Obs: Impossível deixar de mencionar - especialmente para quem é fã, como eu - a homenagem ao fantástico musical Rock Horror Picture Show que está presente na produção.

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