segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Selvagens


Selvagens

(Savages, 2012)
Drama - 131 min.

Direção: Oliver Stone
Roteiro: Shane Salerno, Don Winslow, Oliver Stone

com: Aaron Johnson, Emile Hirsch, Taylor Kitsch, John Travolta, Blake Lively, Salma Hayek, Benicio del Toro

Oliver Stone já foi relevante. Nos anos 80 e 90, Stone era uma voz forte que discordava do status quo e apontava suas câmeras diretamente para assuntos polêmicos e que sempre tinha algo interessante a ser dito. Hoje, parece um fóssil. Um gigantesco dinossauro que se move sem cautela pela sala derrubando a cristaleira da vovó.

Se em Wall Street 2 ele tentou ser novamente importante e fracassou por sua empáfia em não admitir que talvez Gordon Gekko tenha vencido a guerra, seu documentário Ao sul da Fronteira pode ser incluído na mesma categoria dos filmes militares americanos durante a segunda guerra, já que é pura propaganda. Não entrando no mérito político da coisa, é uma produção simplesmente esquecível que não busca documentar um fato, mas romancear e apresentar uma faceta cheia de beleza a uma personalidade - no mínimo - controvertida.

Chegamos a Selvagens, ou a visão de Stone sobre uma geração. "Uma geração que não lutou uma guerra", diriam os mais conservadores, e, portanto uma geração sem norte, sem comando, sem visão de futuro, uma coleção de selvagens que vagam sem rumo do nascer do sol ao crepúsculo. Estes são os personagens de Taylor Kitsch (Chon) e de Aaron Johnson (Ben), dois jovens traficantes "independentes" que se vêem colocados contra a parede por uma organização internacional. Em mais uma referência a sua visão de uma geração, Stone coloca uma garota no meio dos dois, que em uma controversa postura "mezzo" feminista controla com uma guia os dois machos. A bela Blake Lively (Ofelia) divide sua amizade e seu corpo, por igual e sem ciúmes com seus amores. Enquanto Cho é um homem marcado pela violência (serviu no Afeganistão, logo ve o mundo como uma guerra), Ben é um amante da paz, com seu dreadlock jamaicano e sua postura de evitar confrontos. Mas - na visão de Stone - os dois são selvagens por que buscam a paz em vez da matéria.


Como também são Selvagens os traficantes, que agem como animais em fúria, sempre buscando a próxima presa apta ao ataque. No visual imundo de Benicio Del Toro, e seu bigode mal cortado, seu cabelo que não deve ver um xampu há meses e seu olhar derrotado mas feroz, está ali a fúria animalesca. Como também está presente na sensualidade contida e frieza de Salma Hayek, como a manda-chuva local.

O discurso metafórico, cheio de citações literárias e bobagens mil é o calcanhar de Aquiles de Selvagens, que parece uma versão com pedigree do chatíssimo Alpha Dog (quem lembra?). A pretensão de realizar uma sequência emocional de Assassinos por Natureza, dessa vez apontando a câmera para uma juventude sem regras sabota os selvagens da tela e o selvagem por trás da câmera.

Além da historia principal não convencer ninguém e ser absolutamente rasa, sem significado algum, o desenvolvimento da mesma é truncado com personagens coadjuvantes absurdos como o hacker de Emile Hirsch ou o agente "malandro" absolutamente deslocado de John Travolta, em momento canastrão. Ao não saber se quer ser uma paródia ou sátira, ou mesmo um longa de ação "cool", Selvagens não é nem uma coisa nem outra, soando pretensioso e discursivo.


Se Aaron Johnson e Taylor Kitsch não estão mal, não é possível dizer que salvam o filme. Johnson é um ator muito mais competente que seu parceiro, mas é engessado por uma premissa óbvia, que coloca os protagonistas em busca da amada em um misto dos piores momentos dos filmes de gangster/máfia/policiais e o pior dos filmes de ação genéricos e de baixo orçamento passados no México. Além da câmera de Stone continuar surtada (pelo menos dessa vez ele não troca de filtro na lente a cada cena), a montagem não funciona principalmente nas sequências de ação que parecem até mal construídas.

Para jogar a terra por cima do caixão e baixá-lo a sete palmos, Stone ainda brinca de Michael Haneke em determinado momento do filme e "volta à fita" para mostrar uma versão "de sonho" e uma realista. Pelo menos a tal versão real é mais irônica e menos fajuta do que a sonhadora.

Oliver Stone devia se aposentar. Ir cuidar da vida, escrever uns livros de política, discursar na ONU, fazer campanha por um candidato, mas definitivamente precisa se reciclar. Selvagens é um amontoado de tudo que é datado, exagerado e panfletário em um mesmo filme. Levanta a bandeira de uma geração "no brain", fazendo um filme exatamente assim. Vai ver, Stone é um gênio e ninguém percebeu.



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