Selvagens
(Savages, 2012)
Drama - 131 min.
Direção: Oliver Stone
Roteiro: Shane Salerno, Don Winslow, Oliver Stone
com: Aaron Johnson, Emile Hirsch, Taylor Kitsch, John Travolta, Blake Lively, Salma Hayek, Benicio del Toro
Oliver Stone já
foi relevante. Nos anos 80 e 90,
Stone era uma voz forte que discordava do status quo e
apontava suas câmeras diretamente para assuntos polêmicos e que sempre tinha
algo interessante a ser dito. Hoje, parece um fóssil. Um gigantesco dinossauro
que se move sem cautela pela sala derrubando a cristaleira da vovó.
Se em Wall Street 2 ele
tentou ser novamente importante e fracassou por sua empáfia em não admitir que
talvez Gordon Gekko tenha vencido a guerra, seu documentário Ao sul da Fronteira
pode ser incluído na mesma categoria dos filmes militares americanos durante a
segunda guerra, já que é pura propaganda. Não entrando no mérito político da
coisa, é uma produção simplesmente esquecível que não busca documentar um
fato, mas romancear e apresentar uma faceta cheia de beleza a uma personalidade
- no mínimo - controvertida.
Chegamos a
Selvagens, ou a visão de Stone sobre uma geração. "Uma geração que não
lutou uma guerra", diriam os mais conservadores, e, portanto uma geração
sem norte, sem comando, sem visão de futuro, uma coleção de selvagens que vagam
sem rumo do nascer do sol ao crepúsculo. Estes são os personagens de Taylor Kitsch
(Chon) e de Aaron Johnson (Ben), dois jovens traficantes
"independentes" que se vêem colocados contra a parede por uma
organização internacional. Em mais uma referência a sua visão de uma geração,
Stone coloca uma garota no meio dos dois, que em uma controversa postura
"mezzo" feminista controla com uma guia os dois machos. A bela Blake
Lively (Ofelia) divide sua amizade e seu corpo, por igual e sem ciúmes com seus amores. Enquanto Cho é um homem marcado pela violência (serviu no
Afeganistão, logo ve o mundo como uma guerra), Ben é um amante da paz, com seu
dreadlock jamaicano e sua postura de evitar confrontos. Mas - na visão de Stone
- os dois são selvagens por que buscam a paz em vez da matéria.
Como também são
Selvagens os traficantes, que agem como animais em fúria, sempre buscando a
próxima presa apta ao ataque. No visual imundo de Benicio Del Toro, e seu
bigode mal cortado, seu cabelo que não deve ver um xampu há meses e seu olhar
derrotado mas feroz, está ali a fúria animalesca. Como também está presente na sensualidade contida e frieza de Salma Hayek, como a manda-chuva local.
O discurso metafórico, cheio de citações literárias e bobagens mil é o calcanhar de Aquiles de
Selvagens, que parece uma versão com pedigree do chatíssimo Alpha Dog (quem
lembra?). A pretensão de realizar uma sequência emocional de Assassinos por
Natureza, dessa vez apontando a câmera para uma juventude sem regras sabota os
selvagens da tela e o selvagem por trás da câmera.
Além da historia
principal não convencer ninguém e ser absolutamente rasa, sem significado
algum, o desenvolvimento da mesma é truncado com personagens coadjuvantes
absurdos como o hacker de Emile Hirsch ou o agente "malandro"
absolutamente deslocado de John Travolta, em momento canastrão. Ao não saber se
quer ser uma paródia ou sátira, ou mesmo um longa de ação "cool",
Selvagens não é nem uma coisa nem outra, soando pretensioso e discursivo.
Se Aaron Johnson e
Taylor Kitsch não estão mal, não é possível dizer que salvam o filme. Johnson é
um ator muito mais competente que seu parceiro, mas é engessado por uma
premissa óbvia, que coloca os protagonistas em busca da amada em um misto dos
piores momentos dos filmes de gangster/máfia/policiais e o pior dos filmes de
ação genéricos e de baixo orçamento passados no México. Além da câmera de Stone
continuar surtada (pelo menos dessa vez ele não troca de filtro na lente a cada
cena), a montagem não funciona principalmente nas sequências de ação que
parecem até mal construídas.
Para jogar a terra
por cima do caixão e baixá-lo a sete palmos, Stone ainda brinca de Michael
Haneke em determinado momento do filme e "volta à fita" para mostrar
uma versão "de sonho" e uma realista. Pelo menos a tal versão real é
mais irônica e menos fajuta do que a sonhadora.
Oliver Stone devia
se aposentar. Ir cuidar da vida, escrever uns livros de política, discursar na
ONU, fazer campanha por um candidato, mas definitivamente precisa se reciclar.
Selvagens é um amontoado de tudo que é datado, exagerado e panfletário em um
mesmo filme. Levanta a bandeira de uma geração "no brain", fazendo um
filme exatamente assim. Vai ver, Stone é um gênio e ninguém percebeu.
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