Frankenweenie
(Frankenweenie, 2012)
Comédia - 87 min.
Direção: Tim Burton
Roteiro: Leonard Ripps
com as vozes de: Catherine O'Hara, Martin Short, Martin Landau, Winona Ryder, Charlie Tahan
Vai parecer
reprise do que escrevi sobre Sombras da Noite (leia aqui), mas, Tim Burton está
aposentado e ainda não o avisaram. Só esse tipo de afirmação rude é capaz de
explicar a visível queda de qualidade de seus trabalhos na última década. Não
vou me repetir, apenas afirmar - de novo - que o diretor precisa urgentemente
de uma reciclagem e de terapia.
Reciclagem porque
ele repete pela quadragésima oitava vez (número inventado ok crianças?) os
mesmíssimos maneirismos técnicos de suas produções. Está lá a trilha óbvia e
reaproveitada de Danny Elfman, personagens de animação primos/irmãos dos de
Noiva Cadáver e Estranho Mundo de Jack, temas sobre o terror clássico,
homenagens mil a Bela Lugosi, Vincent Price, Christopher Lee e afins e o pior, usar o mesmo
plot de um curta para fazer um longa, sem, no entanto se preocupar em dar
estofo aquela historia pueril e já derivativa.
Já a terapia passa
pelo fato da obsessão de Burton com os mesmíssimos temas por toda a sua vida,
me parecendo um garoto grande que não consegue crescer. Vemos Tim Burton
"brincar de macabro" desde os anos 80 e por mais honesto que isso seja
não existe uma grande evolução nestes trinta anos. Ele continua colocando seus
personagens nos mesmos ambientes, com climas praticamente idênticos,
visualmente bonitos, mas que depois de tantas produções similares parecem profundamente repetitivo.
Frankenweenie é a
transposição do primeiro curta metragem de Tim Burton para o cinemão. Nele o
garoto Victor Frankenstein (somos tão literais na nossa homenagem que nem mudaremos
o nome do protagonista) é solitário e vive em uma pequena comunidade chamada
New Holland. Seu único amigo é seu cachorro Sparky, um vira-lata esquisito e
bastante inteligente. Em sua classe, Victor convive com variações - novamente -
nada sutis de tipos clássicos do cinema de horror, como o corcunda, o
"cientista" oriental maluco, o dândi afetado de sotaque britânico, a
garota que vê coisas, o gorducho e sua vizinha que é "parente" da
personagem de Winona Ryder em Beetlejuice (e vejam só, curiosamente dublada
pela mesma Winona).
A trama realmente
tem início quando, depois de seu cãozinho ser tragicamente atropelado, e
inspirado por seu professor de ciência (que trás - redundância eu sei - mais
uma homenagem nada discreta ao mundo do terror clássico, com Martin Landau
reprisando sua imitação de Bela Lugosi de Ed Wood tendo o visual de Vincent
Price) resolve ressuscitar seu cãozinho como o sujeito que lhe dá sobrenome um
dia o fez no romance clássico de Mary Shelley.
O problema do
filme é o mesmo de 99% dos filmes de Burton. Ele tem uma ótima premissa que se
perde absurdamente durante a projeção porque o diretor não sabe desenvolver
satisfatoriamente uma narrativa. O plot de Frankenweenie funciona que é uma
beleza em um curta metragem, mas em um longa é tedioso e se arrasta sem nenhuma
emoção por toda a trama. Exemplos: vejamos os pais de Victor. O Senhor
Frankenstein é um sujeito amigo e companheiro e sua mãe é uma dona de casa dos
anos 50 em pleno século XXI, algo que Burton já mostrou no ótimo Edward Mãos de
Tesoura. Depois de ressuscitar seu cão, Victor fica profundamente tenso para
esconder seu "projeto" dos pais, o que dá a entender que a reação dos
progenitores seria no mínimo (e realisticamente) apavorante. Sem soltar muitos
spoilers, não é isso que acontece e Burton não consegue desenvolver aqueles
personagens.
A relação de
amizade entre o cão e o garoto fica em segundo plano, em
detrimento de coadjuvantes genéricos e mais uma dezena de homenagens e
maneirismos já vistos antes. Apelando até mesmo para a piada do monstro nas
sombras que se revela uma criatura nada ameaçadora, Frankenweenie padece de uma
profunda falta de alma, tal qual um morto-vivo.
Tecnicamente, é difícil
dizer que o filme é ruim, mas em meio a tantas coisas já vistas, é um trabalho
inferior, tanto na criação de personagens (apenas a Garota Estranha - aquela
que tem um gatinho - é uma coisa nova e assustadora), quanto nos cenários que
dá até para dizer que são pobres. A ideia de filmar tudo em preto e branco é
interessante, mas infelizmente isso só sacramenta ainda mais a sensação de
estarmos vendo uma versão genérica e cheia de sacarose das historias clássicas
de horror.
Outro problema - e
aqui vou tentar não dar nenhum spoiler - é sua mensagem, que é assustadora em
termos psicológicos. Em vez de apostar no - tudo na vida tem seu ciclo - Burton
aposta no - tudo que você quiser vai conseguir até mesmo vencer a morte. Posso
parecer reacionário e até chato, mas percebam se não é essa sensação incomoda
que o filme transmite. Como disse, Burton precisa de um terapeuta que o faça ir
em frente, como seu protagonista que para mim é o melhor dos avatares do
diretor.
Nesse amalgama de
sua carreira, Victor Frankenstein (do desenho) é a representação dos desejos de
seu criador, tal qual no romance de Mary Shelley. Como a Criatura do romance clássico, Victor
procura o amor e a amizade, enquanto Burton - me parece - querer apenas receber
um cheque gordo e agradar os "burtonettes".
Frankenweenie é
uma quase tragédia. Só não é pior, porque o elenco de vozes é muito bom. Martin
Short e Catherine O'Hara fazem seis personagens ao todo e claramente se
divertem com aquilo tudo. Burton, espero, reuniu toda sua coleção de homenagens
e referencias nesse filme e expurgou tudo o que ainda tinha a dizer sobre o
tema. Espero voltar a ver a originalidade que um dia fez com que Burton virasse
até um adjetivo, que hoje parece muito mais pejorativo do que era no passado.
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