Resident Evil 5: Retribuição
(Resident Evil: Retribution, 2012)
Ação/Sci-Fi - 95 min.
Direção: Paul W.S. Anderson
Roteiro: Paul W.S. Anderson
com: Milla Jovovich, Sienna Guillory, Michelle Rodriguez, Bingbing Li, Boris Kodje, Johann Urb, Aryanna Engineer, Kevin Durand.
Em 2010, quando o 3D estava começando a se
estabelecer no mercado após o lançamento de Avatar, Paul W. S. Anderson dirigiu
seu Resident Evil 4 com as famosas câmeras desenvolvidas por James Cameron e
Vincent Pace, indo contra a tendência dos estúdios em converter o filme para o
formato na pós-produção. Surpreendentemente, Anderson se revelou um cineasta
com bom domínio sobre a linguagem. Se anteriormente, em desastres como Corrida
Mortal e Alien vs. Predador, ele não conseguia elaborar um visual interessante
para as produções, em RE4, Anderson criou um coerente espetáculo de design: com
ambientes assépticos, efeitos especiais decentes, uma noção de profundidade bem
organizada e a iniciativa de encher a tela de elementos fluidos (como água e
vidro), o americano conseguiu empolgar, ainda que pontualmente, com um filme que
possuía um roteiro estúpido. E até a chegada do magistral Hugo Cabret, RE4 fora
o filme que melhor utilizou o formato tridimensional (sim, melhor que Avatar).
Após o final do filme anterior, que conseguia dar um gancho maior que a
inverosimilhança do filme, a sequência pedia para ser anunciada.
E é justamente no final do quarto capítulo que tem início Resident Evil: Retribuição. Após a bela visão de Alice submersa (que dá surgimento ao título), o filme apresenta uma estilosa sequência de créditos iniciais, em câmera lenta e reversa. A conhecida narração em off de Alice já começa a aparecer nesse começo e uma irritantemente expositiva introdução explica absolutamente tudo que ocorreu na franquia até hoje. A boa notícia, porém, é que a produção é a mais despojada de todas, mantendo um tom sóbrio sem, necessariamente, se levar a sério. W.S. Anderson volta ao esquema do filme original para construir uma ação ininterrupta, herança dos games recentes da série. A todo o momento, uma atmosfera de jogo se tem no filme. E a falta de estrutura narrativa é o que mais deixa evidente que só faltou mesmo darem um controle de PS3 na entrada da sala.
Após mostrar Alice brincando de casinha com o marido e filha, e a chegada do apocalipse zumbi copiado descontroladamente de Madrugada dos Mortos (até a fuga é igual, o que só pode provar que estamos vendo uma sátira), o filme adentra as instalações da Umbrella Corporation, onde nossa heroína fora presa (Anderson não sabe como, muito menos eu) e iniciada em uma tortura, vestindo apenas duas folhas de papel (sim). Uma providencial ajuda surge para que Milla Jovovich saia e então, Alice começa a revisitar diversas locações, incluindo o interessante ataque a Tóquio que abriu o filme anterior. A inquietante atmosfera (por que tudo estava acontecendo novamente? Seria aquilo real?), realçada pela cara de desesperada que Milla Jovovich sabe fazer, instiga. A ação volta a acontecer após o(s) já frenético(s) prólogo(s) e Anderson usa tanta câmera lenta que fica a impressão de que a película teria 2 minutos iniciais em tempo real. Ao menos as lutas são decentes e a direção de arte continua esplêndida, o que não deixa o ritmo cair antes de revelar o segredo anterior.
E nisso, a aproximação com jogos (os comuns de tiro, diga-se de passagem) se torna mais evidente. O marketing do filme diz, nos belos cartazes, que "O Mal se tornou Global". Pode até ser, mas o espectador só tem a dimensão real da destruição perto do final da projeção. Afinal, do início ao clímax, o filme se passa dentro da Umbrella.
No entanto, Anderson teve boas ideias para variar os ambientes de sua limitada estrutura. Usando as zonas de teste da Umbrella como locações, o diretor tem a possibilidade de brincar com diversos visuais diferentes, indo de Moscou a Nova York em poucos minutos. Além do mais, ao utilizar um mapa digital que atravessa toda a facilitação da companhia, Anderson agiliza o ritmo, lança mão de um belo visual e aproxima ainda mais a estética videogame do filme. E para o formato, o diretor arrisca ambientações mais variadas, que contrastam bem com o branco e cinza predominantes do filme anterior. E para não tornar chuva e vidro como elementos principais do 3D e cair na repetição, agora o americano os substitui por balas e neve.
Mas obviamente, como roteirista, Anderson continua a provar sua incapacidade de alçar voos maiores. Chris e Claire Redfield somem do nada, Jill aparece quase imortal, o desenvolvimento de personagens é restrito a capacidade de cada um na hora da porrada, Alice continua unidimensional. A ciência de sua limitação, porém, é o que torna Resident Evil 5 um filme até agradável. É um universo que finalmente, após quatro filmes, abraça sua origem dos games. Rain surge como uma exterminadora após uma cena que parece uma cutscene, Jill se movimenta em um collant roxo que só não é mais irreal que sua voz (parece dublada de tão robótica), a luta final parece um quick-time events digno de algum hack 'n' slash como God of War e as motivações de Wesker remetem as megalomanias (Corrida armamentista?) de títulos igualmente rasos como Vanquish e o próprio Resident Evil 5 (o jogo).
A busca pelo estilo é tão exacerbada que até Anderson faz piada disso ("por que está com essa roupa sadomasoquista?"); o diretor dá um jeito de destruir todas as metrópoles, sem que os personagens ao menos as visitem realmente; os chefes de fase (o Destruidor, o bichão com o cérebro de fora) surgem aos montes, sempre de forma eficiente; a ação, mesmo que ininterrupta e embalada por uma surtada trilha tecno do duo Tomandandy, mantém a qualidade (diferente de um Battle L.A.); e o plano final remete ao final do quarto filme, que impressiona pela larga escala.
Já que se assume como exercício visual e adaptação frenética de videogame, Retribuição surge como boa surpresa. Seguindo os passos de Doom, o filme constrói um dos melhores esforços baseados na mídia (o que diz muito sobre a maneira porca com que os jogos são tratados em Hollywood). O visual interessante (obra do competente fotógrafo Glen McPhearson), o ritmo explosivo e uma falta de historia que gera descompromisso só ajuda Anderson a conseguir conceber o melhor filme da série. E mesmo que pedante e desesperado por continuações, a produção vale a visita.
Agora, que é notável que Anderson gaste um filme inteiro de 95 minutos para retratar uma FUGA que duraria uns 20 (sendo bem generoso), é. Com o mesmo tempo, daria pra finalizar a franquia.
Antes da sessão, vi que o filme possuía uma novelização. Considero humanamente impossível a adaptação de uma narrativa de um ato em 300 páginas.
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