Poder Paranormal
(Red Lights, 2012)
Suspense - 113 min.
Direção: Rodrigo Cortés
Roteiro: Rodrigo Cortés
com: Cillian Murphy, Robert DeNiro, Sigourney Weaver, Elizabeth Olsen
Poder Paranormal é
um suspense B, simples, tenso em boa parte da projeção, mas que tem problemas
de roteiro e alguns excessos durante o desenrolar da história. A grande atração da produção é
a presença de Robert DeNiro de volta aos personagens sombrios. Seu último flerte com o macabro aconteceu no - hoje - longínquo ano de 1994, quando interpretou a
criatura de Frankenstein. Porém, mais representativo do que seu ótimo
desempenho como o monstro, o grande trabalho de DeNiro com o mundo sobrenatural é sua interpretação (como Louis Cyphre) no seminal Coração
Satânico.
Sendo um ator
versátil, DeNiro transitou por muitos gêneros, mas é notório que os últimos
anos foram cruéis com o ator, que vem acumulando filmes medianos ou fracos ano
após ano. Infelizmente, Poder Paranormal é mais para a lista desses
"fracassos", embora este não seja de todo mal, já que por mais
irregular que ele seja, consegue manter o espectador tenso em busca de
respostas.
A trama parte em
duas frentes. A principal acompanha o físico Tom Buckley (Cillian Murphy) que é o
parceiro da firme e decidida doutora Margaret Matheson (Sigourney Weaver) investigadores
paranormais, que - no melhor estilo Ghost Hunters (popular seriado do Discovery
Channel) - procuram explicações lógicas para fenômenos encontrados por uma
serie de pessoas apavoradas com a perspectiva de estarem presenciando a ação do
paranormal.
Tom e Margaret desmistificam sem o menor constrangimento todos os casos em que são chamados.
Até o início do filme, nunca encontraram nada que não pudessem explicar de
forma racional. Rodrigo Cortés, diretor do bem sucedido Enterrado Vivo, assina
a direção e o roteiro do filme, que não faz cerimônia para apresentar essas
conclusões logo nas primeiras cenas do filme, em que vemos a doutora Matheson explicando objetivamente essas conclusões. Ela é uma cética e como tal, não crê
naquilo que não consegue ver e provar. Já Tom é um mistério, um sujeito sem
motivação pra seguir a doutora, e que em sua apaixonada busca por charlatões
deixa claro que talvez esconda alguma explicação secreta.
A segunda frente
mostra o personagem de DeNiro, o místico Simon Silver, que está afastado do mundo dos espetáculos
ao vivo a mais de trinta anos. Quando o filme começa, o paranormal cego está de
volta ao showbiz e diante de um passado misterioso, que envolve a morte de um
jornalista que o acusava de charlatanismo durante um espetáculo, causa comoção
popular.
A trama então
acompanha Tom em suas tentativas de investigar Simon, sendo prontamente negadas
por uma tensa Margaret. Os motivos para sua negação resultam no momento mais tocante
do longa e garantem um ótimo momento para sua interprete. Já DeNiro também tem
seu momento de glória, em um poderoso monólogo no palco já na parte final da
projeção.
Em produções como
essa, a amarração dos fatos é essencial para que a suspensão de descrença seja
mantida por toda a duração. Como disse, Poder Paranormal até consegue fazer
isso, mantendo o espectador tenso, muito graças a recursos óbvios do cinema de
suspense, mas que quando são utilizados com competência rendem bons sustos,
como o uso da trilha sonora de forma intensa e a montagem que alterna o ritmo do
filme, misturando uma sequência lenta e expositiva com um evento rápido e de
impacto visual.
Porém, e piso em
ovos para não revelar detalhes da trama, o plot twist que acontece nos minutos
finais da obra parece colocar em cheque muito do que foi visto até ali. Uma explicação
a respeito da veracidade das ações paranormais de DeNiro além de ser
apresentada de forma absurdamente confusa, é marcada por uma mudança na
perspectiva de todos os fatos ate ali. Isso enfraquece a proposta do longa,
embora seja mais "poética" em sua resolução.
Apesar de manter o
público (e esse que escreve) tenso durante quase toda a projeção, Rodrigo
Cortés peca quando cria diversos detalhes a respeito da paranormalidade do
filme, para nesses momentos finais nos querer fazer crer que a consciência de
um dos personagens é incapaz de separar a realidade da imaginação.
Cheio de boas
intenções, atmosfera de filme b, atores competentes - e que certamente foram
seduzidos pelo trabalho anterior de Rodrigo e, portanto embarcaram nessa
produção - e bons sustos, Poder Paranormal poderia ser um ótimo
"suspense-pipoca", mas ao tentar dar significados mais profundos e
passar uma mensagem (não fuja daquilo que é de verdade), escorrega feio,
deixando diversos buracos na amarração da historia e na percepção do público
sobre o que viu.
Tecnicamente bem
realizado, Cortés tem domínio sobre o gênero abraçado, e mesmo quando apela
para algumas soluções for dummies (mostrar DeNiro em sua primeiríssima cena no filme tirando seus óculos para mostrar ao publico que é cego, ou colocar
Weaver dizendo textualmente que nunca encontrou um "fenômeno" que não
pudesse explicar) mantém o espectador interessado naquele clima de suspense, em
busca de respostas. Porém, quando Cortés resolve as dar, praticamente apaga a
lógica de seu filme até ali, o que enfraquece demais a produção.
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