Ted
(Ted, 2012)
Comédia - 106 min.
Direção: Seth McFarlane
Roteiro: Seth McFarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild
com: Mark Wahlberg, Mila Kunis, Seth McFarlane, Joel McHale, Giovanni Ribisi
Seth McFarlane é
um escritor impressionante. É daqueles caras que tem o dom da palavra, e que
sabe caminhar no fio da navalha entre o idiota e o brilhante com uma facilidade
assustadora. Ofende a tudo e a todos, mais faz de uma maneira tão inteligente
que consegue tirar risadas de todo mundo. Posso estar aqui exagerando, mas
McFarlane é um dos grandes escritores/autores americanos dos últimos vinte
anos.
Profundamente bem
sucedido com seu Family Guy (após - absurdo - ter sido cancelada com três
temporadas) desde seu retorno em 2004, a serie vem conseguindo ano após ano se
consolidar como a melhor serie de animação adulta americana (sim, bem superior
aos Simpsons, que permanecem no limbo criativo há alguns anos).
Ted é a primeira
incursão de McFarlane nos live-actions e é bem sucedida. Apesar de se apoiar em
uma estrutura narrativa bastante óbvia e com alguns momentos telegrafados, tem
no seu texto absolutamente irônico, anárquico, non-sense e com uma quantidade
inacreditável de referencias pop seu grande trunfo.
A historia é
absurda e non-sense, remetendo diretamente ao humor do criador de Family Guy.
Acompanhamos John Bennett, um garoto nada popular que ao ganhar de Natal um felpudo e
gorducho urso de pelúcia deseja que este viva e que seja seu amigo para sempre. O desejo se realiza e McFarlane usa o ursinho Ted da mesma forma como o cachorro Brian funciona na
televisão, assumindo diversas características humanas - politicamente
incorretas, é claro - e transformando-se em um dos melhores personagens do ano. A
construção de Seth McFarlane é excelente, conseguindo criar um personagem novo
e tão interessante quanto outros que havia criado. Além de talentoso
escrevendo, o sujeito é um excelente dublador (olha só eu defendendo a
"dublagem") e faz do ursinho de pelúcia um personagem tridimensional, cheio de manias e desejos.
Quando o filme
realmente tem inicio - após esse prólogo mostrando a origem de Ted - vemos o
urso em uma eterna pós-adolescência (afinal ele é um urso de pelúcia) que
depois de uma repentina fama mundial, é mais um da lista de ex-celebridades que
povoam a humanidade. John continua sendo seu grande (e único) amigo, agora um garoto crescido
interpretado por Mark Wahlberg. Ele tem um emprego que não gosta, não tem
perspectivas de crescer e dependendo de sua vontade ficaria naquela rotina de
ficar chapado com seu amigo, namorar a linda personagem de Mila Kunis e
envelhecer.
Claro que, apesar
de ser um sujeito legal (e John é um sujeito divertido), Lori (Kunis) pensa em dar
um passo a mais com o relacionamento do casal, que quando o filme começa já
dura quatro anos. Claro que a presença de um urso de pelúcia falante - e que
poderia ser substituído por um companheiro de quarto genérico - atrapalha
qualquer tentativa de um relacionamento dar frutos, portanto Ted precisa sair.
McFarlane ainda
parece ser um diretor em aprendizado, o que fica claro em alguns momentos em
que ele estende demais algumas piadas, como a que envolve os nomes terminados
em "sky", ou a piada dos gases no restaurante. Coisa que certamente
em sua próxima incursão pela telona, vai aprender. Mas, mesmo com esses
problemas, o grande destaque do filme é seu texto que mostra (para aqueles que ainda
tinham dúvida) o domínio de Seth sobre o mundo pop, conseguindo unir, sem
parecer exagerado, referências de cultura pop que vão das óbvias, Star Wars,
ET, passando por uma ótima piada com o ciclista Lance Armstrong, o ator Tom
Skerrit (de Alien - O 8º Passageiro e Contato) e principalmente Flash Gordon, o
filme trash de 1980, que imortalizou a figura de Sam Jones como o pior/melhor
interprete do herói nas telas, a figura medonha de Christopher Plummer como o
Imperador Ming e a trilha sonora (essa sim, muito boa de verdade) da banda
Queen. Esses detalhes dão brilho a uma trama que poderia ser enfadonha, já que
mesmo apostando em uma fórmula usual, e até perder ritmo no ato final, Ted é
recheado de pequenos momentos politicamente incorretos brilhantes.
Se McFarlane está
excelente como o urso, Wahlberg está se divertindo demais como o garoto que
nunca saiu da adolescência, e mesmo que não seja um ator brilhante,
funciona muito bem como "escada" para o desfile de boas piadas do
urso. Mila Kunis - talvez nunca tão linda em um filme - experiente no mundo de
McFarlane (ela dubla a personagem Meg na animação) também acerta na composição,
fazendo de Lori, uma garota apaixonada pelo namorado, mas que sabe que uma
mudança é necessária para que o casal sobreviva. O filme ainda
apresenta uma ponta canastra de Joel McHale, como um interesse amoroso
potencial da garota, e de um perturbado Giovani Ribisi (e Ryan Reynolds impagável).
Ted é o que os
americanos podem produzir de melhor na seara do politicamente incorreto.
Diferente de nossos "humoristas", McFarlane sabe o tom exato da
provocação, e consegue entreter e fazer rir a partir do comportamento do ser
humano, e não da humilhação e da piada pronta. Coloca o
"adultescente" sob um microscópio cáustico, recheia com piadas pop e
uma historia simples de entender e que o público já conhece e encontra uma
fórmula que faz rir e diverte.
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