Polissia
(Polisse, 2011)
Drama - 127 min.
Direção: Maïwenn
Roteiro: Maïwenn e Emmanuelle Bercot
com: Karin Viard, Joey Starr, Marina Föis, Nicolas Duvauchelle, Maïwenn, Karole Rocher, Emmanuelle Bercot, Frédéric Pierrot
Uma pedrada
emocional. Dessa forma podemos descrever de maneira bastante simples, o que
Polissia (escrito propositalmente errado) é. Uma coleção de momentos
intensos, emocionalmente complexos e duros, que consegue chocar o espectador
sem usar nenhuma exposição gráfica de seus temas até - literalmente - a última
cena.
Acompanhando o dia
a dia do grupo de policiais franceses que cuida dos casos de violência contra o
menor, o filme da bela (exótica digamos assim) Maïwenn, é uma paulada na consciência
social. Não existe uma trama propriamente dita, um caso que transcorre por todo
o filme, por exemplo, mas um estudo muito interessante sobre a personalidade
daqueles homens e mulheres que estão submetidos a esse trabalho profundamente
difícil e estafante física e mentalmente.
A equipe é formada
por Fred, um policial negro que está à beira de uma separação, tem uma filha
pequena e é profundamente passional e sanguíneo, Nora, descendente de árabes e
que em uma sociedade plural como a francesa enfrenta as dificuldades entre a
modernidade e a tradição, Gabriel que é o sujeito eloquente, bem educado, cheio de
conceitos sobre a vida e a relação entre o trabalho que faz e a verdadeira face
da justiça. Completam a equipe, Bamako, o policial bronco (mas de bom coração),
quase obcecado por sexo (com sua esposa que fique claro), Baloo, o chefe que
precisa de uma enorme dose de jogo de cintura para manter sua equipe na linha,
Iris que faz o tipo "homens não prestam", desde que seu marido descobriu
que ela sofria de bulimia e ela não aceita sua condição, Nadine a bela policial
loira que está separando-se mas que ainda ama o ex, Chris, jovem e que sofre com
seus sentimentos divididos em relação a um dos membros da equipe e seu
casamento e Sue Ellen, a policia durona e que não leva desaforo para casa.
São muitos
personagens, quase todos bem desenvolvidos e com espaço para um
"solo", um momento em que suas vidas tomam de assalto à narrativa do
filme e conhecemos melhor suas histórias e motivações, sua relação com os outros
colegas de trabalho e como enfrentam o dia a dia de tantos casos violentos, física
e mentalmente.
Mas, existe uma
ideia de trama que amarra as muitas pequenas ideias amontoadas. E a da
fotografa Melissa, interpretada pela própria diretora do filme Maiween, que
funciona como protagonista da historia. Como o público, ela também está entrando
pela primeira vez naquele mundo e funciona por muitos momentos como os olhos da audiência, embora o filme não seja daqueles que limite as ações a permanência da personagem em cena.
Estas historias
abordam todo o escopo do que envolve - imagino - o trabalho de policiais
envolvidos com crimes cometidos contra a infância. Desde os mais óbvios e
hediondos, como abuso sexual, passando por abandono de menor, exploração
infantil, abortos na adolescência, tudo produzido com um toque documental que
amplia o realismo e torna a experiência de acompanhar Polissia ainda mais
complicada emocionalmente, já que aqueles atores se entregam com tamanho
realismo que fica difícil não embarcar na historia e não torcer pela solução
daqueles casos. Alguns revoltam e enojam, outros emocionam e nos levam as
lágrimas (o caso da mulher africana e seu filho pequeno que moravam na rua é
profundamente tocante), mas todos funcionam muito bem, dando a historia uma
base muito sólida. Talvez os planos finais sejam exagerados, mas funcionam como
exemplo dos extremos que a profissão exige.
Polissia é um
violento retrato de uma realidade que certamente é ainda mais sórdida e
complexa. Um mundo de extremos, onde a amizade entre colegas de trabalho é o
ponto de apoio para homens e mulheres que chafurdam no pior que a sociedade
pode produzir.
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