quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Polissia


Polissia
(Polisse, 2011)
Drama - 127 min.

Direção: Maïwenn
Roteiro: Maïwenn e Emmanuelle Bercot

com: Karin Viard, Joey Starr, Marina Föis, Nicolas Duvauchelle, Maïwenn, Karole Rocher, Emmanuelle Bercot, Frédéric Pierrot

Uma pedrada emocional. Dessa forma podemos descrever de maneira bastante simples, o que Polissia (escrito propositalmente errado) é. Uma coleção de momentos intensos, emocionalmente complexos e duros, que consegue chocar o espectador sem usar nenhuma exposição gráfica de seus temas até - literalmente - a última cena.

Acompanhando o dia a dia do grupo de policiais franceses que cuida dos casos de violência contra o menor, o filme da bela (exótica digamos assim) Maïwenn, é uma paulada na consciência social. Não existe uma trama propriamente dita, um caso que transcorre por todo o filme, por exemplo, mas um estudo muito interessante sobre a personalidade daqueles homens e mulheres que estão submetidos a esse trabalho profundamente difícil e estafante física e mentalmente.

A equipe é formada por Fred, um policial negro que está à beira de uma separação, tem uma filha pequena e é profundamente passional e sanguíneo, Nora, descendente de árabes e que em uma sociedade plural como a francesa enfrenta as dificuldades entre a modernidade e a tradição, Gabriel que é o sujeito eloquente, bem educado, cheio de conceitos sobre a vida e a relação entre o trabalho que faz e a verdadeira face da justiça. Completam a equipe, Bamako, o policial bronco (mas de bom coração), quase obcecado por sexo (com sua esposa que fique claro), Baloo, o chefe que precisa de uma enorme dose de jogo de cintura para manter sua equipe na linha, Iris que faz o tipo "homens não prestam", desde que seu marido descobriu que ela sofria de bulimia e ela não aceita sua condição, Nadine a bela policial loira que está separando-se mas que ainda ama o ex, Chris, jovem e que sofre com seus sentimentos divididos em relação a um dos membros da equipe e seu casamento e Sue Ellen, a policia durona e que não leva desaforo para casa.


São muitos personagens, quase todos bem desenvolvidos e com espaço para um "solo", um momento em que suas vidas tomam de assalto à narrativa do filme e conhecemos melhor suas histórias e motivações, sua relação com os outros colegas de trabalho e como enfrentam o dia a dia de tantos casos violentos, física e mentalmente.

Mas, existe uma ideia de trama que amarra as muitas pequenas ideias amontoadas. E a da fotografa Melissa, interpretada pela própria diretora do filme Maiween, que funciona como protagonista da historia. Como o público, ela também está entrando pela primeira vez naquele mundo e funciona por muitos momentos como os olhos da audiência, embora o filme não seja daqueles que limite as ações a permanência da personagem em cena.

Estas historias abordam todo o escopo do que envolve - imagino - o trabalho de policiais envolvidos com crimes cometidos contra a infância. Desde os mais óbvios e hediondos, como abuso sexual, passando por abandono de menor, exploração infantil, abortos na adolescência, tudo produzido com um toque documental que amplia o realismo e torna a experiência de acompanhar Polissia ainda mais complicada emocionalmente, já que aqueles atores se entregam com tamanho realismo que fica difícil não embarcar na historia e não torcer pela solução daqueles casos. Alguns revoltam e enojam, outros emocionam e nos levam as lágrimas (o caso da mulher africana e seu filho pequeno que moravam na rua é profundamente tocante), mas todos funcionam muito bem, dando a historia uma base muito sólida. Talvez os planos finais sejam exagerados, mas funcionam como exemplo dos extremos que a profissão exige.


Polissia é um violento retrato de uma realidade que certamente é ainda mais sórdida e complexa. Um mundo de extremos, onde a amizade entre colegas de trabalho é o ponto de apoio para homens e mulheres que chafurdam no pior que a sociedade pode produzir.

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