sábado, 2 de março de 2013

César deve Morrer


César deve Morrer
(Cesare deve Morire, 2012)
Drama - 76 min.

Direção: Paolo e Vittorio Taviani
Roteiro: Paolo e Vittorio Taviani, com a peça de William Shakespeare

com: Cosimo Regia, Salvatore Striano, Giovanni Arcuri, Antonio Fresca

Essa é uma experiência cinematográfica bastante diferente. Não é exatamente uma história de ficção e também não é um documentário. Tampouco é o tal "mockumentary", mas uma mistura de tudo isso. A ideia dos irmãos Taviani foi mostrar como o teatro pode exercer um papel terapêutico e fundamental na recuperação de pessoas, quaisquer que sejam elas.

Os atores de César deve Morrer são detentos de um centro prisional de segurança máxima e o que os irmãos diretores fizeram foi documentar a experiência (desde a escolha do elenco até a apresentação) da encenação de Júlio César de Shakespeare dentro da cadeia. Porém, ao invés de apostarem num óbvio documentário, a questão aqui é mais intrigante e inteligente. A construção dos ensaios e da vida cotidiana dos detentos é misturada com os ensaios da peça, fazendo o público usar da peça clássica para conhecer melhor aqueles homens.

Também é inteligente a opção de começar o filme já com o fim da apresentação, dizendo ao público que aqueles homens realmente conseguiram realizar seus objetivos. Também é uma forma de intrigar o espectador deixá-lo esperando por aquela trama que começa de forma tão inusitada, com diversas pessoas entrando cadeia adentro para acompanhar uma apresentação teatral.


Outra excelente observação dos Taviani é a de colocar juntamente com a apresentação daqueles personagens quando da seleção de elenco, os crimes cometidos por cada um para que o público perca seus pudores de forma abrupta. É quase um ultimato: esses homens são ruins, cruéis e mesmo assim podem ser artistas. Não os julguem com a base do que fizeram "lá fora", mas por seus méritos "aqui dentro", um outro mundo.

A opção de filmar tudo em preto e branco adiciona aquela camada de melancolia e fragilidade ideal para ilustrar o ambiente soturno e lúgubre da prisão. Em um ambiente que presa pela ausência de vida e de esperança, o preto e branco faz essa sensação se ampliar. É um mundo duro e sem cor.

O filme - que na verdade acabam sendo dois - passa a acompanhar os ensaios e por consequência o espectador pode presenciar uma versão de teatro filmado da peça de Shakespeare. Nenhum dos detentos é excepcional e o ritmo do filme é lento, mas a ideia é tão criativa que acabamos nos envolvendo na ideia de mostrar o poder curador da arte, mesmo com essa atmosfera tão melancólica.


A peça encenada é criativa em termos cênicos, o que mostra todo um cuidado em fazer daquele momento algo verdadeiramente especial para os atores e para o público presente. Percebe-se a gana e a vontade com que cada detento batalha para ser perfeito e o auxilio da câmera deixa essa impressão ainda mais forte. Cabe lembrar que apesar de intrusiva, a câmera jamais parece limitar as ações, servindo realmente como uma testemunha daquela ideia e do trabalho daqueles homens em busca do melhor possível para a arte e suas vidas. César deve Morrer é uma complexa ideia levada a cabo com muita simplicidade e energia. É metalinguístico, misturando "real e fantasia" buscando em seu pouco mais de uma hora de projeção aproximar o espectador dessa realidade difícil e retratada de forma honesta e sem cerimônia.


Nenhum comentário:

Postar um comentário