César deve Morrer
(Cesare deve Morire, 2012)
Drama - 76 min.
Direção: Paolo e Vittorio Taviani
Roteiro: Paolo e Vittorio Taviani, com a peça de William Shakespeare
com: Cosimo Regia, Salvatore Striano, Giovanni Arcuri, Antonio Fresca
Essa é uma
experiência cinematográfica bastante diferente. Não é exatamente uma história
de ficção e também não é um documentário. Tampouco é o tal
"mockumentary", mas uma mistura de tudo isso. A ideia dos irmãos
Taviani foi mostrar como o teatro pode exercer um papel terapêutico e
fundamental na recuperação de pessoas, quaisquer que sejam elas.
Os atores de César
deve Morrer são detentos de um centro prisional de segurança máxima e o que os
irmãos diretores fizeram foi documentar a experiência (desde a escolha do
elenco até a apresentação) da encenação de Júlio César de Shakespeare dentro da
cadeia. Porém, ao invés de apostarem num óbvio documentário, a questão aqui é
mais intrigante e inteligente. A construção dos ensaios e da vida cotidiana dos
detentos é misturada com os ensaios da peça, fazendo o público usar da peça
clássica para conhecer melhor aqueles homens.
Também é
inteligente a opção de começar o filme já com o fim da apresentação, dizendo ao
público que aqueles homens realmente conseguiram realizar seus objetivos.
Também é uma forma de intrigar o espectador deixá-lo esperando por aquela trama
que começa de forma tão inusitada, com diversas pessoas entrando cadeia adentro
para acompanhar uma apresentação teatral.
Outra excelente
observação dos Taviani é a de colocar juntamente com a apresentação daqueles
personagens quando da seleção de elenco, os crimes cometidos por cada um para
que o público perca seus pudores de forma abrupta. É quase um ultimato: esses
homens são ruins, cruéis e mesmo assim podem ser artistas. Não os julguem com a
base do que fizeram "lá fora", mas por seus méritos "aqui
dentro", um outro mundo.
A opção de filmar
tudo em preto e branco adiciona aquela camada de melancolia e fragilidade ideal
para ilustrar o ambiente soturno e lúgubre da prisão. Em um ambiente que presa
pela ausência de vida e de esperança, o preto e branco faz essa sensação se
ampliar. É um mundo duro e sem cor.
O filme - que na
verdade acabam sendo dois - passa a acompanhar os ensaios e por consequência o
espectador pode presenciar uma versão de teatro filmado da peça de Shakespeare.
Nenhum dos detentos é excepcional e o ritmo do filme é lento, mas a ideia é tão
criativa que acabamos nos envolvendo na ideia de mostrar o poder curador da
arte, mesmo com essa atmosfera tão melancólica.
A peça encenada é
criativa em termos cênicos, o que mostra todo um cuidado em fazer
daquele momento algo verdadeiramente especial para os atores e para o público
presente. Percebe-se a gana e a vontade com que cada detento batalha para ser
perfeito e o auxilio da câmera deixa essa impressão ainda mais forte. Cabe
lembrar que apesar de intrusiva, a câmera jamais parece limitar as ações,
servindo realmente como uma testemunha daquela ideia e do trabalho daqueles
homens em busca do melhor possível para a arte e suas vidas. César deve Morrer
é uma complexa ideia levada a cabo com muita simplicidade e energia. É metalinguístico,
misturando "real e fantasia" buscando em seu pouco mais de uma hora
de projeção aproximar o espectador dessa realidade difícil e retratada de forma
honesta e sem cerimônia.
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