Dezesseis Luas
(Beautiful Creatures, 2013)
Romance/Fantasia - 124 min.
Direção: Richard LaGravenesse
Roteiro: Richard LaGravenesse
com: Alden Ehrenreich, Alice Englert, Jeremy Irons, Viola Davis, Emma Thompson, Emmy Rossum
Dezesseis Luas já
nasceu condenado às comparações com Crepúsculo. Mais um dos muitos filmes com
temática fantástica e romance adolescente que apareceram (e aparecerão) nos cinemas,
inevitavelmente será sempre vendido e até mesmo compreendido por quem não tiver
paciência em ler um pouco a respeito, como uma cópia dos vampiros de Stephanie
Meyer.
Essas comparações ao
mesmo tempo em que podem atrair uma base de fãs (o que eu duvido, já que o que
fã menos gosta é alguma coisa sendo comparada com seu objeto de adoração)
rechaça uma maioria que simplesmente não tem a menor simpatia por essa turma
que brilha.
Pois bem,
Dezesseis Luas é, e não é parecido com Crepúsculo. Explico: as semelhanças
existem, pois também estamos num mundo de fantasia, onde também existe um
romance proibido e o destino do mundo está nas mãos dos protagonistas. No
entanto, a historia de Ethan e Lena é muito melhor conduzida.
O romance entre os
protagonistas é muito mais próximo do realismo, o que faz imediatamente com que
a credibilidade do relacionamento do casal seja muito maior. Outra diferença é
que ao invés de "pregar" uma conduta de espera e de castidade velada,
Dezesseis Luas entende que por mais mágicos e especiais que seus protagonistas
sejam, são adolescentes cheios de hormônios.
A trama é bastante
simples: Lena é a nova garota da escola de Ethan, encravada em uma tediosa cidadezinha americana, uma dessas localizadas no cinturão da bíblia americana,
onde a reunião na igreja e o banimento de tudo aquilo que promova a curiosidade
humana é o prato do dia.
A garota é uma
proto-bruxa (no filme ganha o título de Conjurador), que aos dezesseis anos será "chamada" para assumir seus poderes para o lado do bem
ou do mal. Por ser uma bruxa, não é aconselhável (ou melhor, "não pode
mesmo") que ela se relacione com um mortal, por razões óbvias. Uma
bruxa/bruxo vive muito mais do que um humano, tem poderes e pode ser tentado ao
lado negro da força. Ao mesmo tempo, o garoto Ethan é acometido de sonhos com a
garota e que acabam envolvendo uma antiga maldição que liga os dois.
A família de Lena fundou a pequena cidade, e a menina vive sob a severa vigia de seu tio Macon,
vivido com enorme fleuma e bom humor por Jeremy Irons. Ele é um conjurador das
trevas e não quer que sua sobrinha seja seduzida para tal caminho. As razões serão explicados durante a trama e por motivos óbvios não vou contar
aqui, mas garanto ao leitor que não são complicados e beiram o lugar comum.
É sobre essa base
que o romance adolescente é construído. Maldições, amor impossível, poderes,
magia e fantasia, mas mesmo assim existe um componente humano e uma boa química
entre os jovens Alden Ehrenreich e Alice Englert. O grande trunfo de Dezesseis Luas, no entanto é seu
elenco de coadjuvantes. Se Jeremy Irons se diverte com a pose dândi de seu
personagem, uma oportunidade muito boa para que ele desfile seu sotaque
britânico cheio de arrogância, Viola Davis nos trás ao "mundo real",
embora sua personagem também seja marcada pela magia, enquanto Emma Thompson
tem jornada dupla e abusa do overacting para realizá-la. Por fim a bela Emmy
Rossum é o "avatar da sensualidade explícita" no filme. Apesar de sua
personagem parecer importante, o filme a sabota tirando-a de cena muito
rapidamente.
A impressão que
passa é que Richard LaGravenese (que também dirige o filme), teve muito trabalho em condensar o
livro de Kami Garcia e Margaret Stohl, já que alguns eventos surgem de forma acelerada na tela, em
especial no ato final, que padece do mal - comum infelizmente - a muitos filmes
do gênero: o excesso de expectativa.
Se a trama toda é construída
para nos mostrar o grande momento de transformação da garota, o resultado final
é bastante insatisfatório. Prejudicado por efeitos visuais medianos (para ser
gentil), e uma construção da sequencia equivocada (onde não se nota a grandiosidade
das cenas que poderiam estar ali), Dezesseis Luas perde a chance de também
apresentar uma batalha verdadeiramente empolgante.
No entanto, o
design de produção até ali é muito caprichado. A casa de Lena com sua longa
escada (que imediatamente me lembrou a de Frankenstein de Mary Shelley) e sua
decoração branca é muito bonita, assim como a sala de jantar vista numa
comemoração familiar posterior.
Apesar dos
personagens serem cativantes e funcionarem bem, me causou um incomodo as incessantes
referencias a uma serie de autores "malditos", como Bukowski e Kurt
Vonnegut Jr. Não por serem autores de segunda, muito pelo contrário, mas pela inevitável
ironia de vermos sujeitos absurdamente anti-establishment sendo citados em uma
produção pipoca adolescente que é vendida como seguidora de outra franquia de
sucesso.
Talvez resida aí a
ironia de Dezesseis Luas. Apesar de ser vendida como uma cópia, existe ali certo
frescor de originalidade, ou uma simpatia por aqueles garotos - que
verdadeiramente parecem um casal comum - que não se encontra nos similares
(excluo Jogos Vorazes porque a ideia dessa serie é diferente das demais).
Talvez - e não li os livros para saber - a ideia de sair do lugar comum (ou da
cidadezinha como os personagens sonham em fazer) seja ilustrada pelas autoras
do livro e pelo diretor do filme, com esses exemplos literários.
Simpático e até
surpreendente na bacia de produções medíocres destinadas ao sofrido público
adolescente, Dezesseis Luas nos faz acreditar no conto de fadas e comprar a
franquia. Que faça dinheiro, pois só assim será possível sabermos o que
acontece na história de Ethan e Lena.
Acho que essa comparação com a franquia dos vampiros brilhantes acaba sendo positiva à nova série. Uma vez que essa é bem melhor que a anterior. Mas é aquilo, ser superior a Crepúsculo não é muito difícil.
ResponderExcluirPelo menos aqui há alguma crítica e não só baboseira.