sábado, 30 de março de 2013

Jack: O Caçador de Gigantes


Jack - O Caçador de Gigantes
(Jack the Giant Slayer, 2013)
Aventura/Fantasia - 114 min.

Direção: Bryan Singer
Roteiro: Darren Lemke, Christopher McQuarrie e Dan Studney

com: Nicholas Hault, Eleanor Tomlinson, Ewan McGregor, Stanley Tucci, Ian McShane

Vez ou outra me pego num dilema: como escrever sobre aqueles filmes que te irritam em níveis cromossômicos? Cair na óbvia provocação e desfilar uma serie de argumentos sobre o quão irritado você ficou com aquilo? Ou apostar na ironia e no bom humor, já que cinema é uma grande fábrica de magia e sonho (filosofei agora).

Sempre acabo optando pela segunda opção por mais irritação que um filme me provoque e será dessa forma que essa "coisa" chamada Jack, o Caçador de Gigantes será abordada por aqui. A produção de Bryan Singer é pavorosa, não conseguindo acertar na composição dos personagens, no escopo da história e no visual dos gigantes.

Vamos começar com a trama e os personagens. Essa é mais uma daquelas historias que pretende "dar um ar moderno" a um conto clássico, como fizeram Garota da Capa Vermelha, João e Maria - Caçadores de Bruxas e as duas versões de Branca de Neve lançadas ano passado. No caso, a história não foi tão vilipendiada assim, e continua falando sobre Jack (ou João) e o pé de feijão. O que muda é a quantidade enorme de coadjuvantes que - se minha memória não me engana - não apareciam na historia original. Casos da princesa Isabelle (Eleanor Tomlinson), do rei Brahmwell (Ian McShane), do capitão da guarda Elmont (Ewan McGregor) e do pretende da princesa e primeiro ministro Roderick (Stanley Tucci). O filme começa com a criação de uma ligação quase espiritual entre a princesa e o humilde fazendeiro em um prólogo que mostra a paixão dos dois (ainda criança) pelas histórias mágicas sobre os gigantes vencidos por um antigo rei.


Jack é interpretado por Nicolas Hoult, um ator interessante, mas que está perdido sem saber se seu personagem é um jovem em busca de seu lugar ao sol ou se simplesmente foi vítima do acaso, já que sua suposta paixonite pela princesa surge de forma tão gratuita como as cenas que o filme apresenta a rebeldia da princesa. Ewan McGregor como o chefe da guarda está em modo Alan Rickman (lembram-se do ator naquele Robin Hood todo errado de Kevin Costner? Pois é), tentando extrair graça de uma trama infeliz que não aproveita a presença do que deveria ser o grande vilão da história, em papel bastante ingrato de Stanley Tucci.

Os problemas do escopo da historia estão na montagem das sequências de ação, que tentam dar uma dimensão de grandiosidade que a produção e os atores simplesmente não conseguem fazer funcionar. Quando você tem uma tropa de dezenas de gigantes correndo por campo aberto e que é impedida de avançar por uma dezena de humanos e um portão de ferro, você começa a questionar o quanto daquilo não está na tela apenas para esticar a projeção e fazer com que os heróis da historia tenham momentos de bravura.

E os gigantes? Quando os vemos a longa distancia, nesse tipo de sequência de ação onde os mesmos surgem correndo e pisoteando, as criações digitais até funcionam, mas quando somos presenteados com closes enfocando expressões faciais a coisa é bem diferente. Quando se atinge o nível de um Gollum é difícil crer em criaturas digitais que tenham qualidade de realização inferior.



O ritmo do filme é talvez (acreditem ainda fica pior) o mais grave das questões negativas da produção de Bryan Singer. Se ele até começa com bom ritmo, com o prólogo bem construído com animação e um primeiro ato que flui muito bem, a partir do momento que Jack pega os feijões e os grãos crescem, o filme só vai perdendo fluência. O meio do filme é tedioso com o desperdício de personagens e a consolidação da ideia dos gigantes serem puramente cruéis.

Bryan Singer já fez coisas muito melhores e parece ter se esquecido de como comandar um filme com tantos focos e personagens diferentes. É sintomática que a única boa piada da produção seja aquela que encerra o filme, que se não é um primor de inteligência pelo menos é divertida. O oposto desse arremedo de conto de fada.

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