Jack - O Caçador de Gigantes
(Jack the Giant Slayer, 2013)
Aventura/Fantasia - 114 min.
Direção: Bryan Singer
Roteiro: Darren Lemke, Christopher McQuarrie e Dan Studney
com: Nicholas Hault, Eleanor Tomlinson, Ewan McGregor, Stanley Tucci, Ian McShane
Vez ou outra me
pego num dilema: como escrever sobre aqueles filmes que te irritam em níveis cromossômicos?
Cair na óbvia provocação e desfilar uma serie de argumentos sobre o quão
irritado você ficou com aquilo? Ou apostar na ironia e no bom humor, já que
cinema é uma grande fábrica de magia e sonho (filosofei agora).
Sempre acabo
optando pela segunda opção por mais irritação que um filme me provoque e será
dessa forma que essa "coisa" chamada Jack, o Caçador de Gigantes será
abordada por aqui. A produção de Bryan Singer é pavorosa, não conseguindo
acertar na composição dos personagens, no escopo da história e no visual dos
gigantes.
Vamos começar com
a trama e os personagens. Essa é mais uma daquelas historias que pretende
"dar um ar moderno" a um conto clássico, como fizeram Garota da Capa
Vermelha, João e Maria - Caçadores de Bruxas e as duas versões de Branca de
Neve lançadas ano passado. No caso, a história não foi tão vilipendiada assim,
e continua falando sobre Jack (ou João) e o pé de feijão. O que muda é a
quantidade enorme de coadjuvantes que - se minha memória não me engana - não
apareciam na historia original. Casos da princesa Isabelle (Eleanor Tomlinson), do rei Brahmwell (Ian
McShane), do capitão da guarda Elmont (Ewan McGregor) e do pretende da princesa e
primeiro ministro Roderick (Stanley Tucci). O filme começa com a criação de uma ligação quase
espiritual entre a princesa e o humilde fazendeiro em um prólogo que mostra a paixão dos dois
(ainda criança) pelas histórias mágicas sobre os gigantes vencidos por um
antigo rei.
Jack é
interpretado por Nicolas Hoult, um ator interessante, mas que está perdido sem
saber se seu personagem é um jovem em busca de seu lugar ao sol ou se
simplesmente foi vítima do acaso, já que sua suposta paixonite pela princesa
surge de forma tão gratuita como as cenas que o filme apresenta a rebeldia da
princesa. Ewan McGregor como o chefe da guarda está em modo Alan Rickman
(lembram-se do ator naquele Robin Hood todo errado de Kevin Costner? Pois é),
tentando extrair graça de uma trama infeliz que não aproveita a presença do que
deveria ser o grande vilão da história, em papel bastante ingrato de Stanley
Tucci.
Os problemas do
escopo da historia estão na montagem das sequências de ação, que tentam dar uma
dimensão de grandiosidade que a produção e os atores simplesmente não conseguem
fazer funcionar. Quando você tem uma tropa de dezenas de gigantes correndo por
campo aberto e que é impedida de avançar por uma dezena de humanos e um portão
de ferro, você começa a questionar o quanto daquilo não está na tela apenas
para esticar a projeção e fazer com que os heróis da historia tenham momentos
de bravura.
E os gigantes?
Quando os vemos a longa distancia, nesse tipo de sequência de ação onde os
mesmos surgem correndo e pisoteando, as criações digitais até funcionam, mas
quando somos presenteados com closes enfocando expressões faciais a coisa é bem
diferente. Quando se atinge o nível de um Gollum é difícil crer em criaturas
digitais que tenham qualidade de realização inferior.
O ritmo do filme é
talvez (acreditem ainda fica pior) o mais grave das questões negativas da
produção de Bryan Singer. Se ele até começa com bom ritmo, com o prólogo bem
construído com animação e um primeiro ato que flui muito bem, a partir do
momento que Jack pega os feijões e os grãos crescem, o filme só vai perdendo
fluência. O meio do filme é tedioso com o desperdício de personagens e a
consolidação da ideia dos gigantes serem puramente cruéis.
Bryan Singer já
fez coisas muito melhores e parece ter se esquecido de como comandar um filme
com tantos focos e personagens diferentes. É sintomática que a única boa piada
da produção seja aquela que encerra o filme, que se não é um primor de
inteligência pelo menos é divertida. O oposto desse arremedo de conto de fada.
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