Oz: Mágico e Poderoso
(Oz the Great and the Poweful, 2013)
Fantasia/Aventura - 130 min.
Direção: Sam Raimi
Roteiro: Mitchell Kapner, David Lindsay-Abaire
com: James Franco, Michelle Williams, Rachel Weisz, Mila Kunis, Zach Braff
Desde que vi o
primeiro trailer de Oz tive uma sensação de estar vendo uma versão ainda
mais colorida de Alice no País das Maravilhas, na versão covarde de
Tim Burton. O fato de se divulgar que a produção era dos mesmos responsáveis
pelo filme citado me deixou preparado para o pior.
De fato, Oz:
Mágico e Poderoso não é grande coisa. Mas, felizmente, não chega aos níveis do
patético como o filme de Burton. Muito graças a algumas opções de produção e
direção, e outras ao elenco que se esforça para dar alguma graça a uma historia
que parece ter ficado engavetada há anos na Disney e que hoje parece
anacrônica, datada, fora de moda.
Reverente ao
clássico O Mágico de Oz, o filme de Sam Raimi começa em preto e branco, usando
o formato de tela 4x3 como eram os filmes da época. Esses primeiros minutos são
muito bem construídos e Raimi consegue nos apresentar satisfatoriamente seu
protagonista Oscar/James Franco (um farsante mulherengo), seu amor Annie (a bela Michelle Williams quase
etérea) e seu companheiro/capacho Frank vivido por Zach Braff. O uso do 3D aqui se faz de
forma criativa, já que uma vez que a tela é menor, o 3D "rasga" a projeção em alguns momentos, como ao vermos um homem cuspindo fogo logo nos
primeiros minutos do filme.
A canastrice de
James Franco, um ator que raramente acerta, até ajuda nessa construção de
Oscar/Oz (que para evitar pleonasmos, chamarei de Oscar mesmo). É impossível
acreditar em cada mentira proferia pelo personagem, cada discurso empolado,
cada cantada barata. Talvez seja um dos melhores desempenhos do ator na carreira,
exatamente por ele ter muita naturalidade ao dizer ao mundo que é um farsante.
É dicotômico, já que por ser um ator meia boca, Franco nos convence como um
impostor, como alguém que fala coisas claramente mentirosas e sem muito
sentido. E quando ele "abre o coração" e confessa: sou um farsante, a
credibilidade vai às alturas. Claro que o personagem é um mágico de palco
talentoso, mas falo em farsa no sentido daquele esperado pelos habitantes da
Terra de Oz, alguém com poderes verdadeiramente mágicos e não truques.
Já que citei as
expectativas dos habitantes de Oz vamos à trama, que é bastante pueril( talvez
até propositalmente) e não faz muito mistério sobre suas revelações, por exemplo, entrega a verdade sobre a origem da famosa Bruxa Má do Oeste já
nos (belíssimos) créditos de abertura do filme, bastando ao espectador perceber
a referência.
Oscar é um mágico
fajuto desses de circo itinerante e durante uma fuga desastrosa diante de um
potencial namorado traído, acaba pegando um balão e sabe-se lá como caindo no
mundo de Oz. Lá encontra as belas feiticeiras/bruxas boas vividas por Mila
Kunis (Theodora) e Rachel Weisz (Evanora), talvez o casal de irmãs mais bonito que o
cinema já mostrou. Ao encontrar as bruxas fica sabendo que existe uma profecia na terra de Oz, que diz que um mágico cairá do céu e salvará o país da terrível Bruxa Má. Estimulado pela quantidade obscena de
dinheiro envolvido o salafrário Oscar decide ajudar.
Claro que ele não
sabe de nada sobre o que vai enfrentar e entre idas e vindas (que não vou
contar pra não estragar a diversão do espectador) se vê em meio a uma guerra
entre o bem o mal, tendo de optar por um dos lados e ainda lidar com seu
envolvimento com Glinda que também é uma bruxa e é vivida por Michelle Williams.
O elenco se
esforça, mas a sensação de estar vendo um filme moroso só se amplia, já que de
fato a trama é bastante simples e embora envolva um plot twist e uma motivação
para o aparecimento da Bruxa Má do Oeste, seu ritmo é bastante
irregular. O tempo gasto para apresentar Oscar não é o mesmo destinado a dar alguma
profundidade aos habitantes de Oz. A apresentação de Glinda por exemplo acontece
em meio a uma confusa sequência de ação que culmina no único momento em que os
efeitos visuais me incomodaram, um salto de fé diante de um precipício.
As muitas frases
de efeito e lugares comuns também enfraquecem a trama, assim como rimas
narrativas entre o mundo real de Oscar e a terra de Oz. Sim, eu sei que isso também
acontecia no filme de 1939, mas lá você não tinha a companhia da insuportável
garotinha de porcelana, uma referência a uma garota do "mundo real"
que deslumbrada pelos truques do mágico pede que ele a faça andar novamente. O
filme reapresenta essa mesma ideia de forma lúdica, para nos mostrar que aqui,
seus poderes (leia-se tecnologia) são de fato mágicos.
Essas obviedades
podem funcionar (na verdade, até devem) com os mais jovens, mas é um discurso
já tão falado no cinema, que lhe falta impacto. E a tal garotinha é tão
irritante que qualquer simpatia que pudéssemos ter por ela, vai se dissolvendo
durante a trama.
No entanto, todo o
aspecto técnico do filme é muito bom. Foge-se dos excessos de Alice, aquela virtualidade exagerada, e mesmo em cenários claramente computadorizados, tudo é
feito com mais zelo e menos insanidade. Esse impacto de luzes e cores já se dá
na passagem do mundo cinzento do Kansas (que assim como no filme original serve
de cenário a trama) ao mundo de Oz, com o crescimento da tela para o padrão do
cinema e a explosão de cores, todas muito vivas, na tela.
Os efeitos visuais
na criação de alguns seres mágicos são muito bons. O macaco que serve de
companheiro para Oscar (outra das referências obvias ao mundo real que o filme
faz) é crível, embora seja limitado em suas expressões e mesmo que a personagem
da garotinha seja insuportável, é muito bem realizada.
Os cenários construídos
com auxilio da computação gráfica evitam os exageros e a direção de arte é rica
em cores e em diferentes elementos visuais. É fácil notar que tanto o castelo
de Theodora e Evanora quanto o de Glinda fazem parte do mesmo mundo, embora sejam
diferentes em alguns detalhes. Enquanto a morada das irmãs tem uma sala do
trono com uma longa escada circular que circunda o ambiente, uma passarela
murada e uma longa praça popular, dando um ar de solenidade e de cidade-estado
muito bonita, a floresta de estalactites esmeralda, flores de rubi e a
simplicidade e tons pastéis do castelo de Glinda, criam uma atmosfera de aconchego
próxima a de uma cidade interiorana, com habitantes simpáticos e prestativos.
Os figurinos (que
no momento que essa crítica for ao ar estão em exposição em um shopping de São Paulo ) são outro elemento de grande competência da produção. Do traje simples e elegante de
Oscar, ao belo modelo que introduz a personagem de Mila Kunis e que parece ter
saído do arquivo de algum estilista da era de ouro do cinema americano, o
vestido levemente sensual de Rachel Weisz, a pureza que é ilustrada no traje de
Michelle Williams, cada um dos trajes funciona muito bem para caracterizar seus
modelos.
A fotografia de
Peter Deming, abusa da possibilidade de encher a tela de cor e nas sequências finais
consegue dar a epicidade necessária para que o grand finale seja mostrado com
competência.
De fato, Sam Raimi é um diretor mais criativo do que Burton (na
comparação óbvia) vem sendo nos últimos anos. Ainda é possível notar
assinaturas do diretor em alguns trechos da trama, como a que envolve Oscar e
diversos objetos que tentam acertá-lo dentro do cesto do balão que voa
desgovernado ou a revelação da maquiagem da Bruxa Má de Oeste o. A maquiagem merece um destaque especial, pois foi
muito bem escondida pela produção até aqui. Apenas imagens sombreadas e que ampliavam o mistério foram mostradas, incluindo aí o pôster da personagem, portanto é bacana perceber que a produção
foi reverente com a referencia numero um quando se fala do estereotipo de uma
bruxa na tela grande. A impressão que se tem é que realmente se está vendo uma
versão mais jovem da personagem de Margaret Hamilton, que vivia a bruxa do filme de 1939. Qualidade que não se aplica -
infelizmente - a trilha de Danny Elfman, derivativa com os mesmos coros de
sempre e acordes que parecem ter saído de sobras de Alice.
Oz: Mágico e
Poderoso é esse desfile visual de qualidade a serviço de uma história monótona,
obvia e arrastada. Mesmo com Sam Raimi conseguindo criar um ato final divertido
e James Franco nos convencendo com sua canastrice é um filme que - com o perdão
do trocadilho - falta magia.
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