quinta-feira, 19 de abril de 2012

A Perseguição

A Perseguição

(The Grey, 2011)
Ação/Aventura/Drama - 117 min.

Direção: Joe Carnahan
Roteiro: Joe Carnahan e Ian Mackenzie Jeffers

Com: Liam Neeson, Dermot Mulroney, Frank Grillo

Se surpreendido no cinema é praticamente impossível nos dias de hoje. Além do bombardeio de imagens, sinopses e trailers, onde quer que se olhe toda a trama da maioria dos filmes lhe é entregue sem nenhum pudor. Essas experiências raras geralmente acontecem quando a campanha publicitária que cerca o filme é equivocada (para o bem ou para o mal) forçando o espectador a pensar o filme de uma determinada maneira, sem que, no entanto essa campanha tenha relação com a realidade do filme.

Normalmente, esse tipo de coisa acaba causando uma tremenda decepção, já que é muito mais comum o estúdio tentar camuflar algum problema no filme em que pretende vender, do que mudar a percepção do mesmo para o público, principalmente quando hoje, cada filme passa por um serie de testes antes de ir às telas. Isso não acontece com tanta frequência no mundo dos filmes independentes e afins, mas mesmo assim é incomum assistirmos hoje algo que não seja em teoria previamente conhecido.

Por isso, A Perseguição é um filme surpreendente. Não que seu plot seja originalíssimo, ou que exista no filme algo de realmente único, mas por fugir da regra - cada vez mais presente - de não ser aquilo que podíamos esperar. Temos Liam Neeson em um filme que foi teoricamente vendido como mais um exemplar dessa nova fase do ator, de muitos saltos, pancadaria e etc.


No entanto, A Perseguição não apela para as convenções do gênero e tem muito pouco de ação escapista. Beira o poético em alguns momentos, enquanto acompanhamos Ottway (Neeson), abrir a historia, já apresentando seus companheiros, um grupo de ex-condenados e parias que trabalham em uma companhia petrolífera no Alaska. Ele é uma espécie de segurança da refinaria, passando o dia com a arma em punho espantando e caçando os lobos que podem ameaçar a vida dos trabalhadores. O filme mostra a sordidez do ambiente, o frio constante e inerente, e a dificuldade de sobrevivência física e mental em condições complicadas. Ottway está em profunda depressão depois que - aparentemente - sua esposa o deixou, e pensa frequentemente em suicídio.

Acompanhado de uma lúgubre narração em off de Neeson, somos guiados até o avião que levará aqueles trabalhadores até bem merecidas férias. Ottway, leva em seu bolso uma carta de despedida, ainda preso a ideia de se matar, quando o avião sofre um terrível acidente e cai em meio à tundra do Alaska, durante um terrível inverno. Apenas oito passageiros sobrevivem, e cabe ao personagem de Neeson, transformar-se em um líder errático e guiar os sobreviventes em busca de salvação, enquanto são acossados pelo frio e por uma matilha de lobos que vêem seu território invadido por aqueles humanos.

Neeson está em um bom momento, assim como o elenco de apoio, mas os destaques vão para as ótimas escolhas da direção de Joe Carnahan (famoso por sua estreia em NARC) que mantém o filme em constante compasso de tensão, inserindo sempre que possível a ameaça lupina. Auxiliado pela boa fotografia de Masanobu Takayanagi, que faz do cenário ainda mais depressivo e faz o espectador crer menos ainda numa possível salvação dos homens naquelas condições, A Perseguição é um raro exemplar de thriller de ação com algo a mais.


No caso, as reflexões sobre escolhas mal tomadas, mortalidade e redenção. Todos os homens ali, fizeram escolhas equivocadas em suas vidas e pagam com o calvário de estarem trabalhando em um lugar quase inóspito, e parecem ter encontrado a chance de redenção quando acontece o acidente e todas as máscaras são forçadas a cair e a luta pela sobrevivência é muito mais importante do que manter uma postura cool e indiferente.

Mesmo com problemas eventuais - os lobos quando vistos de longe parecem mais efeitos digitais ruins (e são animais reais), muitos personagens não são desenvolvidos como deveriam e muitos são apenas figurantes de luxo - A Perseguição acerta ao enfocar a luta do homem contra a natureza, recheando sua historia com momentos de reflexão e de pura beleza. Em especial a redenção do personagem de Dermot Mulroney é tocante e simples, assim como a ideia inteligente para apresentar as nuances do personagem de Neeson, sua infância, sua relação com sua esposa e sua luta para manter-se vivo.

Poético sem cair na armadilha do pedantismo, bonito fotograficamente e comovente em sua "lição" sobre redenção. Um ótimo exemplo de produção que saindo de uma premissa óbvia consegue se destacar.

Um comentário:

  1. Hum! estava com vontade mas uma preguiça de assistir, mas agora com seu comentário deu coragem. Vou lá.

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