A Perseguição
(The Grey, 2011)
Ação/Aventura/Drama - 117 min.
Direção: Joe Carnahan
Roteiro: Joe Carnahan e Ian Mackenzie Jeffers
Com: Liam Neeson, Dermot Mulroney, Frank Grillo
Se surpreendido no cinema é praticamente impossível nos dias de hoje. Além do bombardeio de imagens, sinopses e trailers, onde quer que se olhe toda a trama da maioria dos filmes lhe é entregue sem nenhum pudor. Essas experiências raras geralmente acontecem quando a campanha publicitária que cerca o filme é equivocada (para o bem ou para o mal) forçando o espectador a pensar o filme de uma determinada maneira, sem que, no entanto essa campanha tenha relação com a realidade do filme.
Normalmente, esse tipo de coisa acaba causando uma tremenda decepção, já que é muito mais comum o estúdio tentar camuflar algum problema no filme em que pretende vender, do que mudar a percepção do mesmo para o público, principalmente quando hoje, cada filme passa por um serie de testes antes de ir às telas. Isso não acontece com tanta frequência no mundo dos filmes independentes e afins, mas mesmo assim é incomum assistirmos hoje algo que não seja em teoria previamente conhecido.
Por isso, A Perseguição é um filme surpreendente. Não que seu plot seja originalíssimo, ou que exista no filme algo de realmente único, mas por fugir da regra - cada vez mais presente - de não ser aquilo que podíamos esperar. Temos Liam Neeson em um filme que foi teoricamente vendido como mais um exemplar dessa nova fase do ator, de muitos saltos, pancadaria e etc.
No entanto, A Perseguição não apela para as convenções do gênero e tem muito pouco de ação escapista. Beira o poético em alguns momentos, enquanto acompanhamos Ottway (Neeson), abrir a historia, já apresentando seus companheiros, um grupo de ex-condenados e parias que trabalham em uma companhia petrolífera no Alaska. Ele é uma espécie de segurança da refinaria, passando o dia com a arma em punho espantando e caçando os lobos que podem ameaçar a vida dos trabalhadores. O filme mostra a sordidez do ambiente, o frio constante e inerente, e a dificuldade de sobrevivência física e mental em condições complicadas. Ottway está em profunda depressão depois que - aparentemente - sua esposa o deixou, e pensa frequentemente em suicídio.
Acompanhado de uma lúgubre narração em off de Neeson, somos guiados até o avião que levará aqueles trabalhadores até bem merecidas férias. Ottway, leva em seu bolso uma carta de despedida, ainda preso a ideia de se matar, quando o avião sofre um terrível acidente e cai em meio à tundra do Alaska, durante um terrível inverno. Apenas oito passageiros sobrevivem, e cabe ao personagem de Neeson, transformar-se em um líder errático e guiar os sobreviventes em busca de salvação, enquanto são acossados pelo frio e por uma matilha de lobos que vêem seu território invadido por aqueles humanos.
Neeson está em um bom momento, assim como o elenco de apoio, mas os destaques vão para as ótimas escolhas da direção de Joe Carnahan (famoso por sua estreia em NARC) que mantém o filme em constante compasso de tensão, inserindo sempre que possível a ameaça lupina. Auxiliado pela boa fotografia de Masanobu Takayanagi, que faz do cenário ainda mais depressivo e faz o espectador crer menos ainda numa possível salvação dos homens naquelas condições, A Perseguição é um raro exemplar de thriller de ação com algo a mais.
No caso, as reflexões sobre escolhas mal tomadas, mortalidade e redenção. Todos os homens ali, fizeram escolhas equivocadas em suas vidas e pagam com o calvário de estarem trabalhando em um lugar quase inóspito, e parecem ter encontrado a chance de redenção quando acontece o acidente e todas as máscaras são forçadas a cair e a luta pela sobrevivência é muito mais importante do que manter uma postura cool e indiferente.
Mesmo com problemas eventuais - os lobos quando vistos de longe parecem mais efeitos digitais ruins (e são animais reais), muitos personagens não são desenvolvidos como deveriam e muitos são apenas figurantes de luxo - A Perseguição acerta ao enfocar a luta do homem contra a natureza, recheando sua historia com momentos de reflexão e de pura beleza. Em especial a redenção do personagem de Dermot Mulroney é tocante e simples, assim como a ideia inteligente para apresentar as nuances do personagem de Neeson, sua infância, sua relação com sua esposa e sua luta para manter-se vivo.
Poético sem cair na armadilha do pedantismo, bonito fotograficamente e comovente em sua "lição" sobre redenção. Um ótimo exemplo de produção que saindo de uma premissa óbvia consegue se destacar.
Hum! estava com vontade mas uma preguiça de assistir, mas agora com seu comentário deu coragem. Vou lá.
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