sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sete Dias com Marilyn


Sete Dias com Marilyn
(My Week with Marilyn, 2011)
Drama/Romance - 99 min.

Direção: Simon Curtis
Roteiro: Adrian Hodges

Com: Michelle Williams, Eddie Redmayne, Kenneth Branagh, Julia Ormond, Judi Dench

Marilyn Monroe é a mulher mais linda que já foi fotografada na história do cinema. Que me perdoem Elizabeth Taylor, Kate Winslet, Ava Gardner, Grace Kelly, Greta Garbo, Rachel Welch, Angelina Jolie, Megan Fox, Rachel Weisz entre tantas outras na historia.

Sete Dias com Marilyn é uma ode a beleza e a inexplicável capacidade da atriz americana em enfeitiçar todos a seu redor, conseguindo resplandecer a cada take de cada um de seus filmes, mesmo não sendo - na fria análise - uma grande atriz. Não é uma biografia da atriz, embora possa ter sido compreendida pelo público como tal.

O filme gira em torno de Colin (Eddie Redmayne) um jovem garoto rico que, segundo ele mesmo, não é especial diante de sua família de super dotados e criaturas especiais. Ele é um sonhador e se refugia dentro das salas de cinema, procurando ali um alento para uma vida tediosa e comum. Decide então "juntar-se ao circo", tentando a todo custo uma vaga na companhia do lendário Laurence Olivier, interpretado aqui por Kenneth Branagh.


Uma vez que consegue a vaga, começa a trabalhar justamente quando o mitológico Olivier acaba de fechar um contrato para dirigir e estrelar O Príncipe Encantado, uma comédia bobinha que funcionaria como veiculo para Laurence se firmar como estrela de cinema contracenando com a mulher mais desejada - e rentável - do cinema mundial, Marilyn Monroe.

Sete Dias é um filme leve, apesar de esbarrar nas questões mais complexas que envolvem Marilyn, como sua carência sem fim, sua dificuldade para aceitar-se como estrela e sua profunda dependência dos outros. Michelle Williams se esforça ao máximo para convencer de que é uma espécie de avatar da musa maior do cinema, recriando com sucesso algumas características mais conhecidas da atriz, como os sorrisos enviesados, as piscadelas sensuais e a voz ingênua que eram fundamentais para a criação do ícone de Marilyn.

Porém, Michelle não é fisicamente parecida com a biografada, que exalava sexualidade e talvez esse seja um pequeno problema do filme. Ao observamos Michelle não conseguimos perceber essa questão da sexualidade latente, talvez pela ideia do filme ser desmistificar essa impressão. No entanto, Michelle por ser uma atriz de grande capacidade faz de sua Marylin uma mulher sedutora e magnética, embora - que fique claro de uma vez - não seja uma representação 100% realista da personagem, mas a visão do ícone por um microscópio, no caso, a visão de Colin - que é o narrador da historia.


Os coadjuvantes estão todos muito bem e roubam à cena. Kenneth Branagh é excelente, treinado na "escola shakespeariana" e possivelmente conhecedor de Laurence Olivier, também não tenta mimetizar o personagem, mas retratar um homem profundamente talentoso e competente que se vê encantado pela beleza e charme de Marylin. Já Julia Ormond vive a esposa de Olivier, Vivan Leigh, a lendária atriz de E O Vento Levou que aqui surge como uma mulher que percebe o flerte de seu marido e se mantém "classuda" (como uma boa inglesa) embora esteja sempre preocupada com sua imagem e principalmente com o envelhecimento.

E Dame Judi Dench, mesmo com pouco tempo de tela é outra figura notória no filme. Fazendo de Sybil Thorndike, uma mulher educada e profundamente inteligente que sabe guiar Marilyn mesmo quando essa parece profundamente perdida e apavorada. Em uma cena - que exemplifica facilmente essa qualidade de sua personagem - ao notar que a bela loira não conseguia acertar suas falas, pede gentilmente a garota americana que ensaie com ela, pois, sendo uma senhora idosa, não tinha mais tanta facilidade para decorar seus diálogos. É claro que a ideia dela era na verdade ajudar Marylin, mas para evitar mais uma complicação para a garota, sai com a explicação de que ela na verdade a estaria ajudando.

Já o jovem Colin, que é o protagonista do filme, acerta mais do que erra, embora não convença como tão mais jovem que Marylin. Ele enxerga a atriz como uma musa embora alimente uma paixão - quase - platônica pela loira, o que amplifica a ideia da Marylin do filme não ser exatamente a “verdadeira”, mas a visão de um homem embasbacado.


O outro detalhe interessante do filme é a discussão a respeito do Método, uma forma de atuar que utiliza da memória emocional dos atores para criar as cenas as quais eram submetidos, ou seja, para interpretar uma determinada personagem, o ator do Método tem de "sentir" aquele personagem, entender completamente suas intenções para - uma vez compreendido - viver aquele personagem.

Olivier - vindo do teatro inglês - não conseguia compreender a necessidade de "entender" personagem, de criar uma história pregressa até aquele exato momento da ação entre outras características de atores do Método. Olivier acredita da simples representação, no "fingimento" sem grande preocupação com a questão emocional.

Marilyn sendo uma ferrenha seguidora do método tinha muitos problemas para entender seu personagem no filme, e o roteiro de Adrian Hodges insere diversas reações furiosa de Olivier quanto à dificuldade da atriz, sempre auxiliada por sua técnica de interpretação, Paula (Zoe Wanamaker).


E, apesar de visualmente bonito e com uma recriação das cenas e cenários do filme dentro do filme ser excelente, o ritmo inconstante da produção dá a impressão de faltarem diversas transições entre os pequenos momentos de clímax do filme. Quando vemos Marilyn - por exemplo - discursar de forma emocional para Colin, o filme não nos deixa digerir aquela situação, nos empurrando mais uma cena, sem a preocupação de ligá-las. No fundo, o filme parece uma grande coleção de pequenos sketches unidos por um fio muito tênue. Soma-se a sensação de muito barulho por nada proporcionada pelo filme, que tem alguns outros coadjuvantes mal construídos (como o empresário de Marilyn - Toby Jones - e um de seus "ex-amigos" - Dominic Cooper, além da figurinista que se apaixona por Colin - Emma Watson) e mal aproveitados, dando a sensação de estarmos vendo uma homenagem honesta a Marilyn, mas incapaz de penetrar mais fundo na personagem, apesar do esforço de Michelle Williams em nos deixar ver por trás da máscara de sensualidade e sedução que sempre caracterizou a atriz.

Sete Dias não é uma biografia da atriz, mas a visão de mais um apaixonado sobre um ícone quase indecifrável e que nos deixou muito antes de - talvez - conseguir ser compreendida.




2 comentários:

  1. Creio que não há nada a acrescentar ao seu texto, tão sólido que está. Uma excelente abordagem a respeito desse filme. Michelle Williams está soberba como Marilyn Monroe e soube bem como apresentá-la a nós belamente.

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  2. Corrigindo:
    Sobre Marilyn Monroe: isso me instiga, as pessoas serem amadas por outras como ela foi, e a beleza que ela tinha, e fama também, entre outros, isso não foi o suficiente para lhe trazer a felicidade.Parece que sempre lhe teve o VAZIO.

    E parabéns pelo texto é ótimo, nos faz querer ler ainda mais. E realmente, Marilyn foi uma linda mulher.

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