A Tentação
(The Ledge, 2011)
Drama - 101 min.
Direção: Matthew Chapman
Roteiro: Matthew Chapman
Com: Charlie Hunnam, Terrence Howard, Patrick Wilson, Liv Tyler
O problema da
pretensão é de nunca conseguir atingir os objetivos. Sempre que alguém, ou alguma
obra, tenta ser profunda, ou até mesmo passar uma mensagem para tocar intelectual
ou emocionalmente o publico, corre o sério de risco de - no português claro -
dar com os burros n'água.
Esse é o caso de A
Tentação, uma produção que quer falar sobre muitos assuntos, e tenta debatê-los
sem, no entanto, aprofundar-se em nenhum deles, como traição, problemas conjugais
e mais diretamente o eterno e insolúvel confronto entre fé e ciência.
A historia começa
de forma instigante apresentando o personagem de Terrence Howard, o policial
Hollis, que acaba de descobrir que é estéril, o que o choca já que ele tem dois
filhos. Ao mesmo tempo, vemos Charlie Hunnam (mais conhecido do publico brasileiro por sua
participação em Hooligans) que vive Gavin, um sujeito que está na beira de um
prédio prestes a se atirar. Uma vez que a policia é alertada, Hollis é incumbido
dessa missão, e numa tentativa de entender as motivações daquele homem e tentar
impedi-lo de se atirar prédio abaixo, passa a conhecer sua historia.
Em diversos
flashbacks, com uma ligeira (bem ligeira na verdade) referencia as narrativas
nos clássicos noir, conhecemos os dois outros pilares da historia: o casal de
vizinhos de Gavin, o sorridente Joe (Patrick Wilson) e a sempre bela Shana (Liv
Tyler), que acabam de se mudar para o mesmo prédio do personagem de Charlie Hunnam. É-nos
introduzido também a principal discussão do filme, a já referida questão da
disputa entre religião e o ceticismo. Gavin é um sujeito
"leve", que divide o apartamento com um amigo homossexual que é
portador de HIV, o que é uma tentativa de transformar Gavin, de saída, em um
sujeito realmente admirável, pois não basta ele não ser preconceituoso e
dividir o apartamento com o amigo gay, esse amigo tem de ter AIDS, para
transformá-lo ainda mais em uma figura que ganhe a simpatia do publico.
De outro lado Joe é travado, seu apartamento é iluminado de forma difusa, dando a impressão de
ser ainda menor do que é uma jaula que guarda um fanático religioso disposto a
tudo para convencer o mundo de que sua visão da vida é a única correta. Já Shana,
é a esposa absolutamente reprimida e que guarda um segredo sobre sua motivação
para ser tão submissa ao marido "maluco".
O grande barato de
A Tentação são os momentos em que os pontos de vista dos dois personagens são
colocados em cheque, em especial em duas sequências antes da metade do filme.
Na mais interessante delas, o filme não se furta em defender uma postura
bastante questionadora sobre a origem da vida, fé e a visão religiosa sobre
nossa existência.
Porém, o filme
começa a escorregar demais quando apresenta a real motivação para Gavin estar
naquele parapeito da janela. Apelando para os clichês de um outro gênero - o
thriller - transforma a discussão arquitetada até então em motivação para a
vilania banal de um ser humano abalado pelo medo da rejeição.
A direção de
Matthew Chapman é segura, dando espaço aos atores e não se amedrontando diante
de uma premissa tão difícil de ser vista no cinema americano. A montagem é bem
realizada, e mesmo com idas e vindas do tempo não se confunde nem deixa o
espectador perdido quanto à ordem dos fatos apresentados, a exceção de um
momento, logo no começo do filme e que envolve o personagem de Howard, mas que
surge de forma proposital, exatamente para criar uma elipse no filme e deixar o
espectador na expectativa da verdade sobre aquela cena.
Não existem
grandes destaques no elenco. Hunnam não compromete, mas também não brilha (sua
semelhança com o finado Heath Ledger impressiona), cumpre sua função com
méritos, mesmo tendo um arco final bastante ingênuo diante de uma progressão
dramática tão interessante e questionadora. Liv Tyler é bela e magnética em
uma tela de cinema. Seus grandes olhos azuis derretem corações, e mesmo não
sendo das atrizes mais talentosas de sua geração é sempre bom acompanhá-la em
papéis em que ela surge como uma menina crescida ainda a procura de seu lugar
no mundo. Já Patrick Wilson beira a canastrice, e por alguns momentos não
convence em seus surtos de fé transloucada, porém se redime na hora final com
uma mudança de perspectiva que dá maior profundidade a suas ações. E Terrence
Howard vivendo seu próprio dilema diante de uma crise é contido e seguro e é
daqueles casos de ator que merecia um destaque muito maior do que tem, mesmo
tendo sido indicado a um Oscar há alguns anos atrás.
A Tentação é
frustrante, mas o é pois consegue envolver o espectador no seu combo de
questionamento religioso/espiritual, drama humano, thriller e romance. Uma pena
que Chapman não tenha conseguido (e é mesmo uma tarefa bastante árdua) dar liga
em suas muitas boas intenções do filme.
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