O Ditador
(The Dictator, 2012)
Comédia - 83 min.
Direção: Larry Charles
Roteiro: Sacha Baron Cohen, Alec Berg, David Mandel e Jeff Schaffer
com: Sacha Baron Cohen, Anna Faris, Ben Kingsley, Jason Mantzoukas
Sacha Baron
Cohen ataca novamente. Se em 2006 o britânico satirizou sem dó os costumes
americanos com o inspirado Borat e deixou mais gente humilhada no fraquinho
Bruno, em 2012 Baron Cohen decide apontar seus canhões nada sutis para os ditadores cruéis, ao
mesmo tempo - e talvez de forma mais interessante - em que força os limites do
politicamente correto. Dessa vez, novamente ao lado do diretor Larry Charles, Cohen
desiste do "mockumentary" e aposta na estrutura narrativa mais comum
(embora tanto Borat, quanto Bruno tenha lá uma narrativa) apresentando
claramente uma historia fictícia, com co-estrelas conhecidas do público ao lado
do ator britânico que vive o ditador do título, o bizarro Aladeen (sim, a coincidência
não é acidental).
Supremo ditador do
fictício país de Wadiya, Aladeen é o estereótipo do ditador imbecil. Absolutamente
preconceituoso e ignorante sobre qualquer assunto, passa seus dias entre
fazer alguma idiotice (como reclamar do formato dos mísseis nucleares que seu
cientista chefe fabrica), encontrar qualquer motivo para mandar executar alguém
e dividir a cama com alguma celebridade que é paga para satisfazer suas
vontades sexuais.
O filme parte da repercussão mundial dos desmandos do ditador em seu país,
acusando-o (justamente) de manter armas nucleares em Wadiya e ameaçando-o de uma
invasão, caso, Aladeen não compareça a sede da ONU em Nova Iorque e apresente sua versão dos fatos em uma Assembléia Geral.
Sendo um sujeito absolutamente detestável, o ditador mantém inimigos secretos, como seu
tio Tamir (Ben Kingsley que adora uma produção trash) que é o principal conselheiro do ditador, mas que aproveita está viagem a Nova Iorque para lhe aplicar um golpe que o faz perder sua identidade e
precisar pedir auxilio a uma garota (Zoey, Anna Faris, que parece só saber fazer
esse tipo de personagem) que simboliza todos os estereótipos dos extremos do
politicamente correto.
Apesar de
simbolizar tudo de errado que existe no extremismo ditatorial, não conseguimos
odiar nosso protagonista, mas sentir pena de tamanha imbecilidade. Quando - por
exemplo - ele joga uma partida de videogame em que seu objetivo é recriar o
massacre ocorrido na olimpíada de Munique em 1972, nos chocamos não pela ação
do personagem, mas pela "ousadia" em não poupar ninguém na sátira. A graça está - de forma bastante sádica - ver até onde Cohen vai chegar dessa vez.
Mal comparando,
Ditador bebe na fonte do humor politicamente incorreto com uma intenção
satírica vista, por exemplo, em Family Guy, com o incomparável ônus de que o texto da serie de Seth
McFarlane (que ainda esse ano dirige seu primeiro filme, Ted) sabe dosar a
porção de ofensa aos padrões morais mais puritanos, com ácidas criticas ao mundo
em que vivemos. Por alguns momentos - aqueles realmente engraçados - Ditador até
acerta, mas infelizmente a grande parte das piadas da produção apela para a
grosseria pura e simples, sem, no entanto nos dar a chance de simplesmente
gostar dos personagens, já nem Aladeen nem a garota Zoey parecem críveis.
Mesmo que ambos
estejam simbolizando estereótipos é importante que os personagens tenham um mínimo
de credibilidade. Não é o caso desse filme, em que o absurdo dá o tom. Nesse
tipo de obra, se o texto não for afiado (e aí volto ao exemplo de Family Guy) a
possibilidade das piadas não funcionarem é enorme e o que nos resta são personagens exagerados e irreais. As boas observações sociais
(como as que envolvem as diferenças entre uma ditadura assumida e uma indireta,
ou as muitas alfinetadas nos exageros libertários politicamente corretos),
convivem com piadas sobre masturbação, ordenha humana e são ancoradas por uma trama nada original.
Apela para o óbvio
romance entre dois estranhos, um vilão absurdo, um coadjuvante que parece
esquecer todo e qualquer rancor anterior assim que o roteiro acha conveniente e
participações especiais que não funcionam.
Baron Cohen está
como se espera absurdamente exagerado como o ditador Aladeen. Forçando um
sotaque árabe como se estivesse com um incessante pigarro na garganta, é um bom
comediante, mas assim como em Bruno parece ter perdido o gás. Sua forma de
fazer rir parece parada no tempo, dependente de uma serie de gags visuais e de
gosto bastante duvidosos, muito diferentes da completa anarquia vista em Borat,
quando a grosseria estava a serviço de uma ideia.
Anna Faris é
realmente uma atriz muito fraca, porém não dá para dizer que ela não se arrisca
e ou que não tenha um amor próprio muito grande, pois só sendo muito confiante
para surgir em mais um filme em que sua personagem é uma mulher absurda. Cheia
de caras e bocas, aqueles olhos arregalados que nada dizem e auxiliada por um
texto pobre é complicado entender como alguém pode confiar na atriz (talvez ela
seja a única que topou a brincadeira). O filme ainda tem algumas participações
especiais canastras como a de John C. Reilly que até diverte, e de Megan Fox e
Edward Norton, esses passando vergonha "de cara limpa".
Por fim, Ben Kingsley,
um sujeito que também deve ter um bom humor inesgotável, já que vira e mexe
aparece em alguma produção de baixa qualidade (a lembrar: Guru do Amor,
BloodRayne, O Som do Trovão, Thunderbirds entre outros). Longe de mim dizer que o ator seja ruim, pelo contrário, já que além de um careca dourado pela
"incorporação" de Gandhi no filme de mesmo nome, tem momentos
inspirados em Sexy Beast ,
Casa de Areia e Névoa e em
Hugo Cabret só para ficar em filmes mais recentes. Porém, de
vez em quando, Kingsley parece querer brincar com sua pinta de "Sir"
e abraça esse tipo de filme B. Muito pouco a se dizer sobre seu personagem, que
em teoria - e quase até o final do filme - é o mais equilibrado da produção.
Apenas quando conta o que ira fazer depois de seu plano maligno dar resultado é
que a produção também indica que sim, além de vilão, este sujeito também é
maluco.
Talvez aquele que
seja mais "normal" em toda a produção seja o cientista nuclear,
responsável (pasmem) pela criação de mísseis para bombardear Israel. Nadal (Jason
Mantzoukas) é aquele típico personagem "irritado", que funciona em uma
comédia para disparar frases a torto e a direito a fim de atingir o público com
suas observações irônicas daquilo que enxerga. Isso até o fim da primeira
"parte" do filme. Quando ressurge, apesar de ainda manter esse ar irônico,
é difícil engolir suas motivações e mais ainda, sua completa ausência de rancor, porque assim que é ofertado com uma mudança de vida, não tem pudores em
abraçar "a causa".
A nova produção de
Sacha Baron Cohen é muito menos do que poderia ser, mas não é um completo
desastre. É superior ao praticamente indefensável Bruno, mas perde pontos ao
não conseguir balancear o humor rude e observações politicamente incorretas, com
a ideia de satirizar os ditadores e seus conceitos absurdos e a nova democracia
tão arraigada ao politicamente correto. Tenta atirar para todo lado e erra
muito mais do que acerta, deixando O Ditador com uma sensação de um filme longo
demais (mesmo em seus enxutos 83 minutos), que parece querer dizer muita coisa
e ofender tanto a tanta gente que se esquece de unir as piadas por uma historia
menos obvia e boba.
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