quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Vingador do Futuro


O Vingador do Futuro
(Total Recall, 2012)
Ação/Aventura - 118 min.

Direção: Len Wiseman
Roteiro: Kurt Wimmer, Mark Bomback

Com: Colin Farrell, Kate Beckinsale, Jessica Biel, Bill Nighy, Bryan Cranston

Como vocês devem ter percebido não sou fã de remakes, principalmente quando eles são justificados com a premissa infeliz de: "apresentar uma obra para uma nova geração". Além de o argumento ser infeliz por ignorar que as produções originais na maioria das vezes estão sim ao alcance das pessoas, é burro, pois ignora a capacidade das pessoas de irem atrás dos filmes/series que lhes interessam.

Embora a capacidade de pensar fora do quadrado venha sendo questionada em relação ao público comedor de pipoca do cinema (antes que alguém atire pedras: o público comedor de pipoca é aquele que assiste qualquer coisa "para se distrair", "para passar o tempo" e imagino que não seja o mesmo que lê, ouve ou assiste as críticas que eu e outros muitos colegas colocamos no ar todos os dias) é inadmissível que um estúdio ache sinceramente que as pessoas não vão questionar a necessidade de se trazer de volta uma produção do limbo.

O remake só é válido para mim quando falamos de uma obra que não é cinematográfica (casos de livros, quadrinhos - dependendo da última aparição do personagem na telona - contos e etc.), ou caso o filme original tenha pecado em algum aspecto, ou seja, que ainda haja alguma coisa a ser contada.


Vingador do Futuro embora possa se sair com a desculpa de que "é uma releitura do conto de Philip K.Dick", ignora essa ideia ao chamar os personagens pelos mesmos nomes usados no filme de 1989 estrelado por Schwarzenegger e dirigido por Paul Verhoeven, ou encaixar aqui e ali pequenas homenagens ao que vimos no primeiro filme, como a garota de programa com três seios, o disfarce usado pelo personagem de Schwarzenegger para entrar em Marte, ou mesmo o implante que o leva a ser perseguido por seus opositores. Ou seja, apesar de aparecer com essa ideia de releitura do conto, no fundo é um remake do filme anterior.

A historia por outro lado, ignora completamente elementos básicos do próprio conto (olha só) como a obsessão do personagem principal por Marte, colocando a trama em meio a um clichê de guerra entre duas superpotências (1984 feelings) e um gigantesco túnel que liga - em menos de 20 minutos - as duas únicas nações que sobreviveram depois de cataclisma biológico em meados do século XXI.

O visual é chupado sem nenhum pudor de Blade Runner, com ruas apertadas e imundas, cheias de umidade onde o Doug Quaid da vez (Colin Farrell errando o tom) é um funcionário de uma usina responsável pela criação de policias sintéticos - robôs - que são uma mistura dos Stormtroopers de Star Wars com um exército genérico e que serão usados como estopim do conflito que o filme acompanha.


Desiludido com sua vida infeliz e miserável na pobríssima Colônia (onde antes ficava a Oceania) e almejando uma vida muito melhor na - saída de Minority Report - Nova Britânia, decide por uma solução desesperada: um implante de memórias fictícias, que mesmo que não sejam reais, dariam certo conforto para uma vida dura. Duro de engolir não? Se no filme original tínhamos a obsessão por Marte, aqui o filme já estraga completamente a tensão e o mistério que guiavam o filme de Verhoeven apresentando na primeira cena (literalmente) um pseudo sonho que acaba com toda e qualquer duvida sobre a verdade por trás de Doug Quaid. Além do mais, todos os momentos em que o filme tenta criar algum suspense, o mesmo é destruído na cena seguinte, como na sessão de Doug na empresa criadora de sonhos, a Rekall.

A partir da descoberta da verdade sobre a real natureza de Quaid (que praticamente não foi alterada em relação ao filme original) a produção se transforma em mais um filme de ação genérico com ares futuristas, que tem apenas em seus bem pensados gadgets e nos cenários bonitos e cheios de estilo alguma qualidade.

Nada diferente do que o espectador alvo do filme (adolescentes e jovens adultos que gostam de ficção científica e filmes de ação) já não tenha visto melhor e com mais qualidade nos muitos games que pipocam todos os dias pelo mercado. Foi-se o tempo em que víamos o cinema influenciando as produções dos games. O oposto é o que mais vemos em Hollywood nessa era das redes sociais e afins. Filmes com cara de longas "cut scenes" tiradas dos últimos lançamentos da indústria dos games, com o ônus imperdoável de não nos deixar interagir com aquilo apresentado na tela.


Qual a graça de assistir a uma longa sessão de cenas que berram para serem jogadas sem um joystick à mão? Essa é a gênese desse Vingador do Futuro.

Colin Farrell como disse, está fora do tom, levando a sério demais o papel que tem em mãos. Falta carisma e bom humor ao personagem, principalmente quando tem em mãos um texto tão fajuto, que tem como um de seus principais momentos um puzzle (sim, no melhor estilo jogo de aventura) sendo resolvido por um piano. Se o seu filme tem esse tipo de interação, assuma o lado caricato e não tente nos convencer de que no fundo você está confuso e desmemoriado. Embarque na ação, não tenta fincar os pés numa realidade tão sólida quanto uma tigela funda de mingau.

Completam o elenco Kate Beckinsale que, esposa do diretor deste remake (o péssimo Len Wiseman da cine - serie Anjos da Noite) vive a esposa de Doug. Como imagino que alguns leitores não tenham tido a chance de assistir ao filme original, apenas digo que ela não é quem parece ser e apesar da personagem ser uma tragédia em termos emocionais e etc., pelo menos a atriz sabe onde está pisando: um longa de ação com ares de ficção científica, absolutamente esquecível.


Jessica Biel como a "musa" de Colin Farrell é outra que embora tenha entendido onde está pisando, não convence como a mulher revoltada em busca de justiça. A impressão é que a qualquer momento algo vai dar errado e a atriz vai sair chorando, mesmo munida de metralhadoras e outras armas modernosas. O filme ainda tem pontas de Bill Nighy (absolutamente mal aproveitado e, em comparação com a função do personagem no filme original, beirando o desnecessário) e de um Bryan Cranston em completo êxtase da canastrice. Talvez ainda tenha estado influenciado por Rock of Ages (crítica semana que vem), mas o fato é que seu Cohaagen é uma lástima, e parece um vilão de livro barato, cheio de frases feitas e olhares maldosos.

Len Wiseman até tem alguns poucos momentos felizes no filme. A primeira grande sequência de ação, com a câmera acompanhando a movimentação da arma e o tiroteio é muito bem realizada, deixando o espectador no meio da ação, assim como subsequente perseguição. Mas se já vimos uma perseguição de carros futuristas muito melhor (Eu Robô e Minority Report, por exemplo), Wiseman erra ainda mais ao amenizar a violência ao máximo. Esse é um daqueles filmes em que muita gente é morta, mas que não vemos nenhuma gota de sangue. Ideal para as mentes ianques sedentas de tiroteios, mas medrosas por acompanhar os resultados de tamanho desperdício de cartuchos.

Falta tanta coisa a esse Vingador do Futuro que falta até ânimo em comentar. O melhor mesmo é ignorar que ele foi pensado, aprovado, estrelado e dirigido, e procurar - se você ainda não viu, ou não se recorda - o filme original, que apesar das liberdades em relação ao texto de K.Dick, era mais bem humorado, ácido, divertido e principalmente prendia a atenção do espectador na jornada de Doug Quaid em busca da sua memória perdida e de sua real identidade. Esse ignora tudo isso, não apresenta nenhum mistério, esfrega todas as informações em nossa cara e ainda acha que consegue nos divertir. Talvez até consiga, mas no segundo que o espectador sair da sala, assim como o personagem principal não vai se lembrar de nada do que aconteceu nas últimas duas horas.

Um comentário:

  1. Eu assistiria só pelo entretenimento, mesmo que ruim, acho que eu me divertiria.

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