O Vingador do Futuro
(Total Recall, 2012)
Ação/Aventura - 118 min.
Direção: Len Wiseman
Roteiro: Kurt Wimmer, Mark Bomback
Com: Colin Farrell, Kate Beckinsale, Jessica Biel, Bill Nighy, Bryan Cranston
Como vocês devem
ter percebido não sou fã de remakes, principalmente quando eles são
justificados com a premissa infeliz de: "apresentar uma obra para uma nova
geração". Além de o argumento ser infeliz por ignorar que as produções
originais na maioria das vezes estão sim ao alcance das pessoas, é burro, pois ignora a
capacidade das pessoas de irem atrás dos filmes/series que lhes interessam.
Embora a
capacidade de pensar fora do quadrado venha sendo questionada em relação ao
público comedor de pipoca do cinema (antes que alguém atire pedras: o público
comedor de pipoca é aquele que assiste qualquer coisa "para se
distrair", "para passar o tempo" e imagino que não seja o mesmo
que lê, ouve ou assiste as críticas que eu e outros muitos colegas colocamos no
ar todos os dias) é inadmissível que um estúdio ache sinceramente que as
pessoas não vão questionar a necessidade de se trazer de volta uma produção do
limbo.
O remake só é
válido para mim quando falamos de uma obra que não é cinematográfica (casos de
livros, quadrinhos - dependendo da última aparição do personagem na telona -
contos e etc.), ou caso o filme original tenha pecado em algum aspecto, ou
seja, que ainda haja alguma coisa a ser contada.
Vingador do Futuro
embora possa se sair com a desculpa de que "é uma releitura do conto de
Philip K.Dick", ignora essa ideia ao chamar os personagens pelos mesmos
nomes usados no filme de 1989 estrelado por Schwarzenegger e dirigido por Paul
Verhoeven, ou encaixar aqui e ali pequenas homenagens ao que vimos no primeiro
filme, como a garota de programa com três seios, o disfarce usado pelo
personagem de Schwarzenegger para entrar em Marte, ou mesmo o
implante que o leva a ser perseguido por seus opositores. Ou seja, apesar de
aparecer com essa ideia de releitura do conto, no fundo é um remake do filme
anterior.
A historia por
outro lado, ignora completamente elementos básicos do próprio conto (olha só)
como a obsessão do personagem principal por Marte, colocando a trama em meio a
um clichê de guerra entre duas superpotências (1984 feelings) e um gigantesco
túnel que liga - em menos de 20 minutos - as duas únicas nações que
sobreviveram depois de cataclisma biológico em meados do século XXI.
O visual é chupado
sem nenhum pudor de Blade Runner, com ruas apertadas e imundas, cheias de
umidade onde o Doug Quaid da vez (Colin Farrell errando o tom) é um funcionário
de uma usina responsável pela criação de policias sintéticos - robôs - que são
uma mistura dos Stormtroopers de Star Wars com um exército genérico e que serão usados como estopim do conflito que o filme acompanha.
Desiludido com sua
vida infeliz e miserável na pobríssima Colônia (onde antes ficava a Oceania) e
almejando uma vida muito melhor na - saída de Minority Report - Nova Britânia,
decide por uma solução desesperada: um implante de memórias fictícias, que
mesmo que não sejam reais, dariam certo conforto para uma vida dura. Duro de
engolir não? Se no filme original tínhamos a obsessão por Marte, aqui o filme
já estraga completamente a tensão e o mistério que guiavam o filme de Verhoeven
apresentando na primeira cena (literalmente) um pseudo sonho que acaba com toda
e qualquer duvida sobre a verdade por trás de Doug Quaid. Além do mais, todos
os momentos em que o filme tenta criar algum suspense, o mesmo é destruído na
cena seguinte, como na sessão de Doug na empresa criadora de sonhos, a Rekall.
A partir da
descoberta da verdade sobre a real natureza de Quaid (que praticamente não foi
alterada em relação ao filme original) a produção se transforma em mais um
filme de ação genérico com ares futuristas, que tem apenas em seus bem pensados
gadgets e nos cenários bonitos e cheios de estilo alguma qualidade.
Nada diferente do
que o espectador alvo do filme (adolescentes e jovens adultos que gostam de
ficção científica e filmes de ação) já não tenha visto melhor e com mais qualidade
nos muitos games que pipocam todos os dias pelo mercado. Foi-se o tempo em que víamos
o cinema influenciando as produções dos games. O oposto é o que mais vemos em Hollywood nessa era das redes sociais e afins. Filmes
com cara de longas "cut scenes" tiradas dos últimos lançamentos da
indústria dos games, com o ônus imperdoável de não nos deixar interagir com
aquilo apresentado na tela.
Qual a graça de
assistir a uma longa sessão de cenas que berram para serem jogadas sem um
joystick à mão? Essa é a gênese desse Vingador do Futuro.
Colin Farrell como
disse, está fora do tom, levando a sério demais o papel que tem em mãos. Falta carisma e
bom humor ao personagem, principalmente quando tem em mãos um texto tão fajuto,
que tem como um de seus principais momentos um puzzle (sim, no melhor estilo
jogo de aventura) sendo resolvido por um piano. Se o seu filme tem esse tipo de
interação, assuma o lado caricato e não tente nos convencer de que no fundo
você está confuso e desmemoriado. Embarque na ação, não tenta fincar os pés
numa realidade tão sólida quanto uma tigela funda de mingau.
Completam o elenco
Kate Beckinsale que, esposa do diretor deste remake (o péssimo Len Wiseman da cine
- serie Anjos da Noite) vive a esposa de Doug. Como imagino que alguns
leitores não tenham tido a chance de assistir ao filme original, apenas digo
que ela não é quem parece ser e apesar da personagem ser uma tragédia em termos
emocionais e etc., pelo menos a atriz sabe onde está pisando: um longa de ação
com ares de ficção científica, absolutamente esquecível.
Jessica Biel como
a "musa" de Colin Farrell é outra que embora tenha entendido onde
está pisando, não convence como a mulher revoltada em busca de justiça. A
impressão é que a qualquer momento algo vai dar errado e a atriz vai sair
chorando, mesmo munida de metralhadoras e outras armas modernosas. O filme ainda tem
pontas de Bill Nighy (absolutamente mal aproveitado e, em comparação com a
função do personagem no filme original, beirando o desnecessário) e de um Bryan
Cranston em completo êxtase da canastrice. Talvez ainda tenha estado
influenciado por Rock of Ages (crítica semana que vem), mas o fato é que seu
Cohaagen é uma lástima, e parece um vilão de livro barato, cheio de frases feitas e
olhares maldosos.
Len Wiseman até
tem alguns poucos momentos felizes no filme. A primeira grande sequência de
ação, com a câmera acompanhando a movimentação da arma e o tiroteio é muito bem
realizada, deixando o espectador no meio da ação, assim como subsequente perseguição. Mas se já vimos uma perseguição
de carros futuristas muito melhor (Eu Robô e Minority Report, por exemplo),
Wiseman erra ainda mais ao amenizar a violência ao máximo. Esse é um daqueles
filmes em que muita gente é morta, mas que não vemos nenhuma gota de sangue.
Ideal para as mentes ianques sedentas de tiroteios, mas medrosas por acompanhar
os resultados de tamanho desperdício de cartuchos.
Falta tanta coisa
a esse Vingador do Futuro que falta até ânimo em comentar. O melhor
mesmo é ignorar que ele foi pensado, aprovado, estrelado e dirigido, e procurar
- se você ainda não viu, ou não se recorda - o filme original, que apesar das
liberdades em relação ao texto de K.Dick, era mais bem humorado, ácido,
divertido e principalmente prendia a atenção do espectador na jornada de Doug
Quaid em busca da sua memória perdida e de sua real identidade. Esse ignora
tudo isso, não apresenta nenhum mistério, esfrega todas as informações em nossa
cara e ainda acha que consegue nos divertir. Talvez até consiga, mas no segundo
que o espectador sair da sala, assim como o personagem principal não vai se
lembrar de nada do que aconteceu nas últimas duas horas.
Eu assistiria só pelo entretenimento, mesmo que ruim, acho que eu me divertiria.
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