Rock of Ages: O Filme
(Rock of Ages, 2012)
Comédia/Musical - 123 min.
Direção: Adam Shankman
Roteiro: Justin Theroux, Chris D'Arienzo e Allan Loeb
com: Diego Boneta, Julianne Hough, Tom Cruise, Alec Baldwin, Russel Brand, Catherine Zeta-Jones, Mary J. Blige, Bryan Cranston, Paul Giamatti
Rock of Ages é brega. Muito brega. Exagerado, cartunesco, simplório na relação de
seus personagens, tem um roteiro absolutamente previsível, personagens que são
praticamente esboços, canções que (em sua maioria) não são especificamente
conhecidas de muita gente e direção apenas mediana.
Mas é uma ótima
diversão. Parece absurdo não? Explico. Rock of Ages é tudo isso acima, mas
propositalmente. E essa é a grande qualidade da produção de Adam Shankman, não se levar a sério. Mesmo quando o filme apresenta momentos de maior
"reflexão", ou pequenos dramas dos personagens principais, sempre
encontra uma maneira de encaixar uma observação engraçada, irônica ou
simplesmente mostra na tela algo que destrua aquele clima de pseudo seriedade
que o espectador possa - por alguns segundos - ter comprado.
A historia é absurdamente
clichê e versa sobre a garota da cidade pequena (Sherrie Christian/vivida por Julianne Hough) que chega
a Los Angeles em plena era do hard rock californiano, ou como muita gente erroneamente gosta de chamar "metal farofa", em busca do sonho de ser
cantora. Assim que põe os pés na cidade é assaltada perdendo seus bens mais
preciosos: seus discos. Entra em cena o ajudante de bar e músico em potencial
Drew Boley (Diego Boneta) que vendo a situação da garota decide convidá-la a trabalhar com ele
no famoso Bourbon Club, um amalgama de todos os bares da famosa Sunset Strip.
O bar é
administrado pelo bonachão Dennis Dupree (Alec Baldwin), um hippie aposentado
que vive o sonho do rock'n'roll ao lado do amigo e parceiro de negócios Lonny
(Russel Brand). O Bourbon está ameaçado pela eleição do prefeito Mike Whitmore (Bryan
Cranston) e especialmente por sua esposa Patricia (Catherine Zeta-Jones), uma
combativa inimiga do estilo de vida rock'n'roll.
Enquanto os jovens
pombinhos se envolvem romanticamente, Dupree prepara sua cartada final para
manter seu bar funcionando, armando um concerto com o rockstar Stacee Jaxx (Tom
Cruise) uma mistura de todos os clichês e personalidades roqueiras típicas
dessa era de excessos. A historia segue então estes personagens, seus encontros
e desencontros, sempre com muito bom humor, acidez e uma breguice que combina
demais com a produção.
Evidentemente que
o filme não é perfeito. Tem alguns personagens que entram e saem da trama sem
nenhuma função, como a dona de um clube de striptease vivida por Mary J. Blige. Apesar de ser uma
cantora de mão cheia e de seu clube ser palco de algumas das poucas
coreografias desse musical, onde muito se canta e muito pouco se dança, sua
personagem não tem nenhum arco dramático. Outra que é desperdiçada é Malin
Akerman, como a jornalista que coloca pela primeira vez o rockstar Stacee Jaxx
em uma posição - digamos - desconfortável.
Os protagonistas
também não são grande coisa, sejamos francos. Se não comprometem cantando
(embora quase nenhuma canção tenha conseguido ficar no mesmo patamar das
versões originais), são apenas jovens esforçados, e talvez diante de uma trama
mais complexa e que exigisse mais do que a mimetização de um clichê do casal
apaixonado, os dois atores conseguissem apresentar algo mais denso.
Mas aqueles que realmente roubam a
cena são os coadjuvantes. Todos muito bem no filme (isso mesmo, até mesmo o
insuportável Russel Brand acerta, e assim, como Jack Black em Escola de Rock,
parece estar interpretando uma variação de sua própria personalidade), mesmo
com Zeta-Jones sendo menos importante para a trama como todos os trailers
anunciavam. Mesmo Bryan Cranston em uma ponta de luxo acerta na canastrice
necessária para seu personagem. E Alec Baldwin, já consagrado como um
comediante de mão cheia, novamente vai muito bem, naquela auto parodia que ele sabe
fazer tão bem na serie 30 Rock.
Mas, os grandes
destaques do elenco são Paul Giamatti e Tom Cruise. Giamatti imita Peter Grant,
famoso empresário do ramo musical, que teve como principal cliente o Led
Zeppelin. O personagem do empresário é o mais próximo de um vilão que o filme apresenta, embora suas maldades não sejam em si - cruéis - mas simplesmente
aproveitadoras. Ele é mais um dos muitos clichês explorados pelo filme, a da indústria
como um gigantesco tubarão comendo o talento dos artistas.
E Cruise, mesmo
com seus problemas pessoais, maluquices e afins, é sim um ator talentoso. Quem
ainda não consegue conceber que um sujeito com pinta de galã tenha sim talento,
precisa desesperadamente procurar um psicólogo para curar essa baixa
estima. Porém, é inegável que por muito tempo, o ator se protegeu de papéis que
brincassem com sua imagem. Se em Trovão Tropical ele vivia o empresário canalha,
aqui ele vai ao limite da imagem de galã surgindo sem camisa em quase todas as
cenas do filme, abusando das muitas caras e bocas para representar o ápice da
degradação do rock star. Além disso, sempre está acompanhado de seu macaco de
estimação Hey Man, que ao mesmo tempo em que é uma frase comum no inglês, não
deixa de ser uma piadinha sobre Rain Man, filme que Cruise co-estrelou ao lado
de Dustin Hoffman. Apesar de até esboçar um arco dramático que fala de
amadurecimento e de encontrar seu lugar no mundo, Cruise se destaca mesmo pela
incrível capacidade de convencer o espectador como o rock star, inclusive
cantando (e bem).
Adam Shankman, do
irregular, mas com a mesma ideia anárquica Hairspray, consegue criar um musical
divertido e profundamente irônico que funciona muito bem na tela. A peça
original (para os que não sabem o filme é baseado em um sucesso da Broadway)
consegue encontrar significados até profundos - milagrosamente, diga-se de
passagem - e fazer das efêmeras e profundamente divertidas canções da época um
belo acompanhamento para um filme que sabe que não está inventando a roda, mas
que acerta com bons arranjos e divertidas versões de canções de forte apelo
melódico.
O filme tem alguns
destaques óbvios entre os momentos musicais da trama. Catherine Zeta-Jones
cantando e realizando a coreografia mais exagerada da historia em "Hit me
With your Best Shot" de Pat Benatar, o surgimento do personagem Rock Star
de Cruise em "Wanted Dead or Alive" do Bon Jovi, o dueto
engraçadíssimo e exponencialmente oposto ao que diz a letra de "I Want to
Know what Love Is" do Foreigner, a consagração rock star, com direito a
todos os excessos de um show oitentista de "Pour Some Sugar on Me" do
Def Leppard, a montagem inteligente e sensível ao som de "Here I Go
Again" do Whitesnake, a engraçadissima cena de entrega emocional ao som de
"Can't Fight this Feeling Anymore" do REO Speedwagon e o número
musical bem realizado ao som de "Any way You Want It" do Journey. E
não, não citei todas as musicas do longa, e sim, são muitos os momentos
musicais no filme, que não sofre como outros musicais de um cansaço mental ao
acompanharmos as canções. Talvez pelas mesmas serem conhecidas e em geral terem
um clima alegre e descontraído, que além de funcionarem como obras fechadas dão
ao filme um animo muito grande.
Rock of Ages é uma
ode a um período quase totalmente hedonista e ao trinômio sexo-alcool (os
personagens não usam drogas no filme, embora o álcool seja uma, mas enfim, me
entenderam) e muito rock'n'roll. Uma celebração das festas e da falta de
compromisso com qualquer coisa que não seja a diversão e a busca do sonho
ingênuo do amor eterno. É quase um conto de fadas, mas com uma trilha sonora
muito mais legal.
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