quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Um Divã para Dois


Um Divã para Dois
(Hope Springs, 2012)
Comédia/Drama - 100 min.

Direção: David Frankel
Roteiro: Vanessa Taylor

Com: Meryl Streep, Tommy Lee Jones, Steve Carell

O cinemão americano não gosta dos adultos. Muito menos dos adultos que estão chegando, ou já chegaram, à chamada terceira idade. São raros os projetos que apostam em atores mais velhos encabeçando o elenco, em papéis onde suas idades são importantes para a trama. Não se envelhece em Hollywood, e quando personagens mais velhos são vistos no cinema é sempre por aquele prisma clichê de sabedoria, desastre ambulante ou como pais e mães de família. Raramente estes atores têm chance de falarem sobre amor na maturidade, sexo, as dificuldades de manter um casamento, assuntos que parecem ser enormes tabus.

Uma das poucas atrizes que tem cacife para bancar um projeto que aborda esse tema é Meryl Streep, que na última década tem apresentado papéis tão variados como a freira de Dúvida, a primeira ministra britânica em Dama de Ferro e papéis mais leves e divertidos como a "maluquinha" de Mamma Mia e a dona de casa que se envolve com o ex-marido, no fraquinho Simplesmente Complicado.

Um Divã para Dois apresenta mais uma faceta da unânime Meryl. Sua Kay é uma mulher comum, típica personagem de meia idade que casada há muito tempo com Arnold (Tommy Lee Jones) vê seu casamento praticamente inexistir, com falta de carinho, amor, sexo e tudo o que faz de um relacionamento uma experiência única.


Decidida a re-acender a chama perdida, decide apostar tudo numa terapia de casal, que os tira de casa levando-os aos braços do Doutor Feld (o contido, mas excelente Steve Carell), o terapeuta responsável por tentar encontrar a fagulha apagada do casal.

O encanto de Um Divã para Dois está na dupla de protagonistas que tem uma química muito intensa, surgindo muito honestos. Meryl, como sempre (e ela é uma raridade que merece a referência) extrai qualidade no material que tem em mãos não importando muito a qualidade geral da obra, ainda mais quando o texto é tão humano, tão próximo das pessoas que conseguem se enxergar em diversos momentos da trama, mesmo aqueles que não tem nem metade da idade daqueles personagens. Meryl usa muito de seu olhar e transforma a personagem em uma claudicante mulher que pisa em ovos para tentar encontrar uma saída para sua vida infeliz e burocrática.

São diversos os momentos de destaque da atriz, que surge muito consciente de seu papel, jamais exagerando no excesso de submissão, ou na postura absurdamente compreensiva frente a um personagem ranzinza e travado com suas emoções.


Tommy Lee Jones surge "fresco", em um personagem muito próximo de um Woody Allen bronco, um homem com neuroses, reclamações, medos e que não sabe o que quer de sua vida. Vive sua rotina como uma maratona sem fim, sem perspectiva de uma mudança. Essa é uma das maiores interpretações de sua carreira, fugindo dos óbvios clichês que o marcam no imaginário popular. Seguro, intenso e muito inteligente.

E Steve Carell é a grande surpresa do filme. Seguro em um papel que o impede de mostrar seu viés cômico, está muito confiante como o terapeuta (que, novidade, não é um charlatão) que resolve ajudar o casal. Muitas das cenas mais interessantes do filme se passam em seu consultório, num "bate-bola" intenso e delicioso entre esses três atores fazendo seu melhor.

É difícil definir o gênero a qual essa produção faz parte. Tem momentos de pura comédia, geralmente envolvendo a dificuldade de conversar sobre sexo dos dois personagens tão travados, e de profunda emoção, quando o assunto fica muito mais sério e o sexo se torna apenas a primeira de muitas camadas de um texto que aborda a dificuldade de se manter um relacionamento. Tudo de forma muito realista, sem mágicas milagrosas, mas com um óbvio otimismo que faz de um assunto complicado muito mais leve para ser "comprado" pelo publico.


A direção é de David Frankel, o mesmo de Diabo Veste Prada, filme que rendeu um papel icônico a Meryl Streep, e que assim como Um Divã para Dois, tentava a todo custo transformar a historia potencialmente água com açúcar em algo com muito mais substância. Aqui, com um tema que já é denso o bastante, Frankel faz o caminho inverso, deixando as analises comportamentais recobertas de uma camada de humor e romance que faz do filme praticamente irresistível. Em mais um desempenho sensível de Meryl Streep, uma química inegável com Tommy Lee Jones, uma trilha romântica e moderna, cenários bem escolhidos e acertos até mesmo na escolha de subverter as expectativas do público em alguns momentos, este é um daqueles filmes gostosos de assistir, e que se não mudam o mundo, pelo menos o tornam mais feliz.


Um comentário:

  1. Nossa, eu esou verdadeiramente ansioso para assistir a esse filme. O primeiro parágrafo é justamente o que me motiva a vê-lo, somente depois vindo o elenco como um fator importante.

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