Ferrugem e Osso
(De Rouille et D'Os, 2012)
Drama - 120 min.
Direção: Jacques Audiard
Roteiro: Jacques Audiard, Thomas Bidegain
com: Marion Cotillard, Matthias Schoenaerts
Depois de dois
adiamentos, finalmente o público brasileiro terá a chance de
assistir a esse excelente filme francês, dirigido pelo mesmo diretor do ótimo
"O Profeta", Jacques Audiard. Mesmo que ele faça parte de um festival,
o que sabemos não ajuda o "boca a boca" de um filme,
confinando-o aquele momento e eventualmente ao mercado de home vídeo.
Guardando a mesma característica
de crueza do trabalho anterior, Ferrugem e Osso é a história dolorosa do
encontro de um casal de desajustados depois de um trauma que os une. Alain (Matthias Schoenaerts) é um
boxeador belga, que recebe a guarda de seu filho pequeno e parte para a França,
para morar com a irmã e buscar um emprego e um novo começo. Stéphanie (Marion Cotillard) é uma mulher bela e fria, que enxerga sua vida sem nenhuma paixão. Tem um emprego
curioso (é tratadora e treinadora de Orcas) e vive com um homem que não ama.
Sua vida como a do boxeador não tem muito sentido e ambos vagam dias a fio sem
maiores pretensões.
Acabam se
conhecendo uma balada em que Alain é o segurança. Stéphanie está completamente bêbada,
discute com alguém e acaba apanhando. Preocupado com o estado da mulher, se oferece
para levá-la embora e deixa um cartão para que ela o consulte caso precise, já
que ele nota a relação conflituosa que a mulher tem com seu companheiro.
O que parece uma
historia simples, transforma-se completamente quando um terrível acidente
acontece com a tratadora. Notando-se sozinha, apela para a ajuda daquele
homem que fora tão gentil com ela dias antes. Partindo de uma amizade, Alain mostra-se prestativo inclusive para eventuais favores sexuais e o que acontece
é o envolvimento cada mais intenso e visceral entre os dois.
Bruto e grosseiro,
ele precisa controlar sua personalidade complicadíssima já que sua relação com
o filho é difícil e suas habilidades limitadas. Parte para a luta clandestina
como solução para seus problemas ao mesmo tempo em que tenta manter um
relacionamento com Stéhanie. Um relacionamento difícil, já que ambos são pessoas
orgulhosas e feridas. A dependência física dela prejudica o relacionamento e
boa parte do desenvolvimento da trama é sobre essa mulher tendo de recomeçar,
agora que não tem emprego e sua vida fori virada do avesso.
O que mais
impressiona na historia é a crueza com que Audiard cria seus personagens.
Apesar de fincado no romance, tudo aqui é tão verossímil (apesar dos exageros)
que mesmo diante de personagens que não são especialmente simpáticos, nos
identificamos e torcemos por estes "cabeças duras".
Se Matthias acerta no
tom de poucas palavras, explorando sua energia sexual latente, Marion Cotillard tem -
talvez - o desempenho mais forte em sua carreira. As dificuldades físicas são
enormes, o desprendimento físico elogiável e sua personagem passa por uma transformação
muito intensa diante da tela. De mulher complicada e infeliz, ela descobre na
dificuldade e na deficiência uma saída para a felicidade.
Esse romance entre
duas pessoas "estragadas" pela vida é forte exatamente por isso. A
crueza e a jornada dos personagens é precisamente mostrada por um Audiard mais
contido do que em O Profeta ,
mas ainda mais incisivo no seu retrato de uma classe média-baixa francesa que
não aparece no cartão postal. Ferrugem e Osso - um título excelente - é um dos
grandes dramas da década. Honesto, emocionante, com interpretações muito fortes
e uma historia de amor crível mesmo embebida na sordidez.
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