Uma Ladra sem Limites
(Identity Thief, 2013)
Comédia - 111 min.
Direção: Seth Gordon
Roteiro: Craig Mazin
com: Melissa McCarthy, Jason Bateman, Eric Stonestreet, Amanda Peet, John Chu, Robert Patrick
"Antes só do que
Mal Acompanhado" é uma das comédias mais bem sucedidas (e divertidas) do cinema.
Certamente entra numa lista de 30 mais importantes e é sem dúvida a mais
referenciada na última década. Em 2010, Downey Jr. e Galifianakis eram dois
sujeitos que tinham que atravessar o país mesmo não se aturando, e que no fim
criam uma amizade (da mesma forma que Steve Martin e John Candy faziam no filme
de John Hughes). Esse ano essa mesma fórmula ganhou o aditivo do crime
e substituição de um gordinho por uma gordinha.
No mais, Uma Ladra
sem Limites obedece às regras do gênero. Na trama Sandy Patterson (Jason Bateman) é
sujeito muito certinho - quase beirando o ridículo - mas é um marido amoroso, bom
funcionário e bom pai que se vê envolvido em uma fraude de roubo de identidade.
Diana (Melissa MacCarthy) se aproveita da ingenuidade do sujeito e clona sua
identidade e com isso cria um cartão de crédito com o nome de Sandy - que tem
nome de mulher, o que em teoria deixaria a historia mais "engraçada"
- e parte para um festival de abusos, chegando a ser presa.
É claro que o
verdadeiro Sandy acaba sofrendo com isso, e mesmo depois de provar sua inocência,
tem seu emprego ameaçado (afinal à empresa não quer ter seu nome associado com
um tipo de investigação policial que pode levar um ano para ser encerrada -
informação que o filme faz questão de apresentar várias vezes ao espectador).
Para evitar a demissão parte para um daqueles planos mirabolantes que mesmo completamente
absurdos ganha até o aval da policia. O sujeito decide encontrar a fraudadora,
com o pretexto de levá-la de volta a sua cidade para que ela confesse seus
crimes ao seu chefe, embora de fato, ela estará sendo presa. Entendeu? É muita
confusão para uma comédia que não é engraçada, se apóia em clichês e mesmo
tentando ser politicamente incorreta é careta.
Desde a saída dá
pra notar que a gordinha vai se redimir, porém o filme recheia a trama com
momentos bobos e quase ofensivos. McCarthy, durante o
filme, acaba arrumando um sujeito que é claro, só pode ser gordo já que gordos
só podem se envolver com gordas, afinal, seria muito feio ver uma mulher bonita
e um sujeito acima do peso não é? Ou vice versa. Por isso na cena de
"intimidade do casal", o que se vê não é nada além do que a visão
adolescente retardada que a maioria do público comedor de pipoca deve ter em
relação ao sexo: que ele está lá apenas para fazer rir. E pior, não faz, já que
as piadas simplesmente não funcionam. Não existe graça em ver dois gordinhos
gritando enquanto transam. E isso não é porque é politicamente
"incorreto", é porque simplesmente não é engraçado, além de reforçar
um clichê bobo. Aliás a própria McCarthy se destacou na TV dentro de um clichê
bobo, a péssima serie Mike & Molly, onde - olha só que coisa - Molly se
apaixona por um policial gordo e viciado em comida.
Fora isso, os
coadjuvantes são fracos e a correria onde nada acaba dando certo para os
personagens nunca de fato, tem graça. Já que não basta a personagem de McCarthy
ser uma falsária, ela precisa estar sendo perseguida não por um, mas por dois
matadores que querem apagar a mulher. Todo esse excesso de "ruído" só
tenta desviar a atenção de que de fato, o filme não é bom.
Jason Bateman faz
o papel de bobo com alguma competência, mas nunca convence inteiramente como
aquele sujeito que de fato está em perigo. Tudo é muito blasé e mesmo Melissa, uma
comediante que transita com grande segurança pelos extremos da comédia, sabendo
ser politicamente incorreta, brincar com o pastelão e com os textos
rápidos e irônicos aqui se vê engessada num road movie que chega a lugar
nenhum. Com participações especiais (não dá pra considerá-los como
"coadjuvantes") de Eric Stonestreet (o "amante" já citado)
e Robert Patrick (um dos patéticos matadores), a historia nunca engrena.
E ainda insiste em
momentos dramáticos excessivos: não basta terem roubado a identidade de
Bateman, mas sua mulher está esperando o terceiro filho. Não basta McCarthy ser
ladra, ela precisa ser humilhada, alvo de chacota e não ter amigos. E o pior é
que a atriz até acerta quando precisa ir além do estereotipo, o que mostra que
ela pode estar além da função de comediante, basta escolher
trabalhos em que não seja sempre a "gordinha estranha e bizarra". Uma daquelas produções que a expressão "um
desperdício de talento" cabe muito bem.
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