Reality - A Grande Ilusão
(Reality, 2012)
Comédia/Drama - 116 min.
Direção: Matteo Garrone
Roteiro: Ugo Chiti, Maurizio Braucci, Matteo Garrone e Massimo Gaudioso
com: Aniello Arena, Loredana Simioli, Nando Paone, Raffaelle Ferrante
Matteo Garrone vem
do sucesso de Gomorra, onde dava voz e rosto à máfia italiana, sem pudores ou
muitas concessões. O filme foi assertivo e funcionou muito bem. Nele, Garrone analisava o crime e por consequência a forma com que o cidadão comum se
relacionava com a bandidagem numa simbiose às vezes muito nebulosa. Em Reality
ele mostra como o cidadão comum pode ser seduzido de forma arrebatadora pelos
holofotes da fama. Em uma sociedade como a brasileira, onde muita gente é simplesmente "famosa" sem nenhuma habilidade especial ou mesmo qualidade, onde
"personalidade da mídia" é profissão, esse discurso ressoa alto
demais.
A trama gira em
torno de Luciano, um simples peixeiro que vai se tornando cada vez mais obcecado
com a possibilidade de participar do "Grande Fratello" (o Big Brother
italiano). Garrone não perde tempo
tentando teorizar sobre a qualidade do programa, mas sobre como o efeito de
"ser famoso" mexe com a cabeça do sujeito.
Ele simplesmente
acha que estar no programa pode ser uma oportunidade de mudar de vida. Mas, por
quê? O que ele ganhará com isso? E como isso vai afetar aqueles ao seu redor? A
construção de Reality é muito inteligente em seus dois primeiros atos e
torna-se uma experiência incompleta apenas por suas opções finais, fabulescas e
fantasiosas.
Mas falemos, das
coisas boas primeiro: Luciano é um sujeito carismático, já que somente assim se
consegue não odiar o sujeito que vai perdendo completamente o juízo diante de
uma eventual possibilidade de participar do tal reality show. De um início
cômico e absurdo, passamos a sentir pena do homem que entra numa espiral paranoica
e começa a achar que tudo e todos estão ligados a sua eventual participação. De
mulheres que aparecem em sua peixaria e que nunca apareceram por lá, passando
por mendigos e toda uma sorte de pessoas. O genial da coisa é que Garrone nunca
deixa exatamente claro se de fato o sujeito tem razão ou não, o que nos faz
acompanhar a trama com esse sub-texto também. Teria Luciano razão em achar que
todos estão no fundo analisando cada passo dado por ele? Ou isso é uma tremenda
paranoia?
Garrone constrói Nápoles
como uma cidade sempre apinhada de gente, quase como se morassem todos juntos
no mesmo prédio, falando muito alto como se a existência individual fosse
suplantada por um sentimento de coletividade às vezes exagerado. Tudo isso com
planos muito próximos, em quadros apertados, colocando a maior quantidade de
personagens na mesma cena.
Reality só não
leva uma nota maior, pois Garrone parece dividido moralmente sobre que rumo
tomar com seu personagem. Patético é verdade, mas inofensivo, Luciano é digno de
simpatia e por isso seu diretor não consegue deixar de vê-lo com compaixão, e
por isso talvez seu ato final seja tão esperançoso e veja alguma alegria em suas
conquistas simplórias e que não indicam um final feliz. Embora, em uma
sociedade obcecada pelo espetáculo, tudo seja possível. Não chega a ser
brilhante, mas é uma análise inteligente do deslumbramento diante da fama
repentina e fácil.
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