quarta-feira, 8 de maio de 2013

Reality - A Grande Ilusão



Reality - A Grande Ilusão
(Reality, 2012)
Comédia/Drama - 116 min.

Direção: Matteo Garrone
Roteiro: Ugo Chiti, Maurizio Braucci, Matteo Garrone e Massimo Gaudioso

com: Aniello Arena, Loredana Simioli, Nando Paone, Raffaelle Ferrante

Matteo Garrone vem do sucesso de Gomorra, onde dava voz e rosto à máfia italiana, sem pudores ou muitas concessões. O filme foi assertivo e funcionou muito bem. Nele, Garrone analisava o crime e por consequência a forma com que o cidadão comum se relacionava com a bandidagem numa simbiose às vezes muito nebulosa. Em Reality ele mostra como o cidadão comum pode ser seduzido de forma arrebatadora pelos holofotes da fama. Em uma sociedade como a brasileira, onde muita gente é simplesmente "famosa" sem nenhuma habilidade especial ou mesmo qualidade, onde "personalidade da mídia" é profissão, esse discurso ressoa alto demais.

A trama gira em torno de Luciano, um simples peixeiro que vai se tornando cada vez mais obcecado com a possibilidade de participar do "Grande Fratello" (o Big Brother italiano).  Garrone não perde tempo tentando teorizar sobre a qualidade do programa, mas sobre como o efeito de "ser famoso" mexe com a cabeça do sujeito.

Ele simplesmente acha que estar no programa pode ser uma oportunidade de mudar de vida. Mas, por quê? O que ele ganhará com isso? E como isso vai afetar aqueles ao seu redor? A construção de Reality é muito inteligente em seus dois primeiros atos e torna-se uma experiência incompleta apenas por suas opções finais, fabulescas e fantasiosas.



Mas falemos, das coisas boas primeiro: Luciano é um sujeito carismático, já que somente assim se consegue não odiar o sujeito que vai perdendo completamente o juízo diante de uma eventual possibilidade de participar do tal reality show. De um início cômico e absurdo, passamos a sentir pena do homem que entra numa espiral paranoica e começa a achar que tudo e todos estão ligados a sua eventual participação. De mulheres que aparecem em sua peixaria e que nunca apareceram por lá, passando por mendigos e toda uma sorte de pessoas. O genial da coisa é que Garrone nunca deixa exatamente claro se de fato o sujeito tem razão ou não, o que nos faz acompanhar a trama com esse sub-texto também. Teria Luciano razão em achar que todos estão no fundo analisando cada passo dado por ele? Ou isso é uma tremenda paranoia?

Garrone constrói Nápoles como uma cidade sempre apinhada de gente, quase como se morassem todos juntos no mesmo prédio, falando muito alto como se a existência individual fosse suplantada por um sentimento de coletividade às vezes exagerado. Tudo isso com planos muito próximos, em quadros apertados, colocando a maior quantidade de personagens na mesma cena.

Reality só não leva uma nota maior, pois Garrone parece dividido moralmente sobre que rumo tomar com seu personagem. Patético é verdade, mas inofensivo, Luciano é digno de simpatia e por isso seu diretor não consegue deixar de vê-lo com compaixão, e por isso talvez seu ato final seja tão esperançoso e veja alguma alegria em suas conquistas simplórias e que não indicam um final feliz. Embora, em uma sociedade obcecada pelo espetáculo, tudo seja possível. Não chega a ser brilhante, mas é uma análise inteligente do deslumbramento diante da fama repentina e fácil.



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