segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Batman: O Cavaleiro de Gotham
(Batman: Gotham Knight, 2008)
Aventura/Thriller - 75 min.

Direção: Yasuhiro Aoki (In Darkness Dwells), Yuichiro Hayashi (In Darkness Dwells), Futoishi Higashide (Crossfire), Toshiyuki Kubooka (Working Through Pain), Hiroshi Morioka (Field Test), Jong-Sik Nam (Deadshot) e Shoujirou Nishimi (Have I Got a Story For You)
Roteiro: Josh Olson (Have I Got s Story For You), Greg Rucka (Crossfire), Brian Azzarello (Working Through Pain), Alan Burnett (Deadshot), Jordan Goldberg (Field Test) e David Goyer (In Darkness Dwells)

Com as vozes de: Kevin Conroy, Jason Marsden, Jim Meskimen, Corey Burton, Ana Ortiz e Kevin Michael Richardson


Diferentemente dos outros filmes da DC, Batman: Gotham Knight não é um longa metragem, mas uma coleção de interpretações de diretores de anime sobre o personagem icônico dos quadrinhos.

Após o mega sucesso de Batman Begins a DC decidiu criar uma ponte entre os eventos vistos em Begins com os que viriam a ser vistos em Cavaleiro das Trevas. Talvez inspirados pelo sucesso de Animatrix (também da Warner e que também funcionava - pelo menos em um de seus episódios - como prólogo) investiu-se nos curtas com traço de anime, que em geral foram bem sucedidas.

Como estamos falando de uma coleção de curtas a análise não consegue ser feita num todo, mas quando analisamos cada um dos filmes.


Em "Have I Got a Story For You", de Shoujirou Nishimi (estreando na função de direção, tendo feito parte das equipes de Akira, Tiny Toons e Mind Game) tem traço estilizado para contar a história da impressão que o morcego imprime em cada um dos que o vêem.

Diversos garotos contam (numa história que se interliga) como participaram - indiretamente - da caçada do cavaleiro das trevas a um inimigo. Muito bem construído na parte visual com fortes traços realistas nos cenários - em especial na pista de skate onde o filme começa e termina - e com personagens bem caracterizados, apesar de extremamente estilizados, diálogos inteligentes e um final muito criativo e que combina perfeitamente com a proposta do filme.

"Crossfire" de Futoshi Higashide (que dirigiu 7 episódios da série Samurai 7 e esteve na equipe da animação Air) é mais tradicional nos traços de anime e no seu roteiro. Explora a relação - sempre conturbada - entre Batman e a polícia de Gotham através dos olhos dos detetives Allen e Ramirez que se envolvem num fogo cruzado ao deixarem um fugitivo na cadeia. Batman funciona como uma espécie de anjo vingador, uma figura enigmática e vigilante sempre a espreita. A edição desse episódio é primorosa e insere o espectador com grande felicidade numa espiral de claustrofobia. Roteiro do quadrinhista Greg Rucka, conhecido dos fãs do morcego por sua passagem pelo título.


"Field Test" de Hiroshi Morioka (que entre seus créditos dirigiu a série .hack) é o mais fraco da coleção. Uma história simplória sobre o uso de um novo elemento do uniforme do Batman que não funciona tão bem. Participação de Lucius Fox e uma caracterização infeliz de Bruce Wayne, que parece muito mais novo do que o personagem dos filmes e mesmo dos quadrinhos. Apesar disso, começa interessante abordando outra faceta - a mais interessante do personagem - de Batman: a de detetive. Porém, o desenvolvimento e principalmente os últimos cinco minutos reduzem o impacto da história.

"In Darkness Dwells" de Yusuhiro Aoki e Yuichiro Hayashi (dois novatos) conta uma história envolvendo dois vilões bem tradicionais do morcego. O Espantalho (com um visual que mistura os quadrinhos com a abordagem do filme) e o Crocodilo. Usando e abusando de altos contrastes inserindo a história numa escuridão muito parecida com o clima dos momentos mais dark do personagem, apresenta um roteiro simples mais muito bem conduzido com cara de HQ do personagem. Em termos de fidelidade ao clima do material original sem dúvida é que mais se destaca e talvez por isso, peque - por detalhes - por não arriscar. Mais são detalhes mínimos perto da incrível inserção do espectador naquele mundo sujo e sombrio dos esgotos de Gotham. Roteiro de David Goyer, o roteirista dos dois filmes do morcegão que tiveram a mão de Christopher Nolan.


"Working Through Pain" de Toshiyuki Kubooka (outro novato na direção) é espetacular. Sem dúvida o mais impactante, inteligente e bem construído em termos narrativos. Apesar de não ter o mesmo visual arrebatador de Darkness Dwells, tem uma história tão boa que compensa os mínimos defeitos. O plot é um grande flashback que começa quando Batman leva um tiro durante uma perseguição nos esgotos e tem que "vencer a dor" e sair para um lugar seguro. A partir daí, o personagem relembra dos momentos em que passou na Índia estudando sobre o controle de seu corpo. Bastante visceral e sangrento - o mais violento de todos os curtas - tem nos diálogos sua maior força. Repleto de referências a cultura oriental e suas fabulosas filosofias de vida e cuidado com o corpo e alma é uma aula de como construir em pouco mais de dez minutos uma narrativa coesa e inteligente. Durante sua jornada em busca da saída, Batman não enfrenta nenhum inimigo fisicamente presente, apenas suas limitações de corpo e mente. E ainda tem um dos finais mais simbólicos que vi na década, com um Batman totalmente vulnerável frente ao seu eterno desafio. Uma pérola a ser vista e revista, com a marca da mente e das mãos do fabuloso Brian Azzarello (de Batman: Cidade Castigada e da série 100 Balas).

"Deadshot" encerra a coleção de maneira mediana. A animação do coreano Jong-Sik Nam (que depois veio a dirigir Dante's Inferno) é calcada nas belas cenas de ação que envolvem o vilão-b Pistoleiro em sua tentativa de eliminar seus alvos (lembrando muito O Procurado) e o Batman tentando impedi-lo. Amarrado por um fiapo de roteiro, Deadshot é deslumbrante em termos visuais - talvez o mais bonito da coleção - mas peca por apresentar soluções frágeis e por não ter um desenvolvimento maior de sua narrativa. Tudo acontece muito rápido e de maneira simplista.


Batman - O Cavaleiro de Gotham é o mais ousado projeto da DC. Em geral, a avaliação dos trabalhos não pode ser ruim. Mesmo nos dois trabalhos menores existem ali presentes as características do personagem homenageado e traços de originalidade e até ousadia.

A DC poderia expandir essa idéia e "entregar" outros personagens de seu panteão para que os magos do Japão pudessem dar suas impressões sobre esse mito moderno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário