sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Polícia, Adjetivo
(Politist, adjectiv, 2009)
Drama - 115 min.

Direção: Corneliu Porumboiu
Roteiro: Corneliu Porumboiu

Com: Dragos Bucur, Vlad Ivanov, Irina Saulescu e Ion Stoica

A Romênia é dos países que faziam parte da cortina de ferro que tem a produção cinematográfica pós comunista mais competente em qualidade e quantidade. Todo ano algum bom filme vindo desse canto do mundo é incensado como grande obra do cinema mundial. Foi assim com Morte do Sr. Larazescu, 12:08 e com esse Polícia, Adjetivo, um filme que cresce na cabeça do espectador com o tempo.

Será muito comum se o espectador recém saído da "sessão" de Polícia sinta-se entediado com a história simples - em sua camada mais superficial - do policial Cristi e sua crise ao contrariar a prisão de um garoto que supostamente está envolvido com drogas, o que pelas leis do país, dão oito anos de prisão a quem é preso. A questão é que sem provas, Cristi se vê num beco sem saída, tendo de cumprir a lei - que manda prender - ou seguir o que crê e dar mais tempo para que sua investigação prossiga.


Corneliu Porumboiu constrói sua história com quase intermináveis planos seqüência, que são úteis para mostrar o marasmo que a vida de Cristiu se tornou - ou sempre foi, isso não fica claro na história.

Esse recurso, comum aos filmes europeus, pode incomodar e chatear os que não tiverem vontade para acompanhar a história que é muito mais interessante pelas entrelinhas do que pela banal história de investigação.

Isso fica claro quando o filme apresenta uma longuíssima seqüência em que Cristiu janta sozinho em sua casa, enquanto sua esposa escuta uma insuportável cantora romena. Aparentemente, a seqüência se alonga demais, mas tem função importantíssima ao mostrar o relacionamento cotidiano - absolutamente banal - do casal. Ele, policial honesto e ela, uma professora honrada.


As conversas entre Cristi e sua mulher acabam caindo nas discussões sobre a língua e a linguagem romena, um dos idiomas mais exclusivos do mundo. Em especial, a mulher de Cristi aponta os erros e mudanças da gramática da língua, o que pode ser interpretado como uma crítica as mudanças que o país viveu no pós-socialismo, que não soube sair do regime protecionista e tirânico de Ceaucescu para um governo economicamente forte e inserido na realidade européia.

A língua é o objeto que o diretor usa, para refletir essas mudanças, assim como Cristi questiona as leis de seu país nos minutos iniciais do filme em uma conversa importante com seu superior.

O filme usa esses elementos, somados a investigação para jogar "luz" sobre essas questões: leis, consciência, moral, verdade, autoridade. Temas sempre polêmicos e que aqui ganham até explicação etimológica em seu âmago, numa brilhante discussão sobre as diferentes visões sobre a vida entre Cristi e seu chefe.


O voyeurismo de Cristi e seu perambular por entre as diferentes sessões de seu departamento são tão realistas e funcionam tão bem que - apesar do ritmo bastante lento - o filme cresce com seu transcorrer. As dúvidas do personagem, que seu diretor faz questão de "esfregar" em nossa cara, são quintessenciais a nós mesmos e por isso funcionam para quaisquer povos e em quaisquer línguas. O que é certo e principalmente, como devemos nos posicionar quando o que acreditamos é conflitado?

Policia, Adjetivo - caso o leitor se interesse em ver - vai crescer em conceito no decorrer dos dias, quando a mensagem e o discurso do filme forem sendo absorvidos. É um daqueles, cada vez mais raros, filmes que nos faz pensar em suas idéias - explicitas e interpretativas - e talvez nos faça rever conceitos, ou, entender as posições mais contrárias as que consideramos óbvias e importantes, por mais absurdas e doentias que sejam suas justificativas.

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