quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Porco Espinho
(Le Hérisson, 2009)
Comédia/Drama - 100 min.

Direção: Mona Achache
Roteiro: Mona Achache

Com: Josiane Balasko, Garance Le Guillermic e Togo Igawa

Paloma tem onze anos e desiludida com seu futuro como uma adulta condenada a uma vida mundana decide se matar no dia em que completaria doze primaveras. Mas antes, decide deixar registrada sua história por meio de um filme caseiro, que acompanha sua vida e sua família.


Esse é o plot básico dessa pequena jóia chamada Porco Espinho, um trabalho de muito esmero de Mona Achache - também roteirista - que faz de seu filme uma mistura sutil e inteligente de comédia dramática e filme de arte, tudo bem dosado e palatável para os fãs de cult movies e para os que gostam de boas histórias humanas.

Não é um filme de grandes momentos isolados, mas um conjunto que faz desse pequeno projeto uma bela história sobre aceitar quem se é e abrir-se para o novo, sem temer conseqüências.



O mais importante é que esse é uma produção essencialmente calcada em seus personagens. Paloma é apresentada como uma menina absurdamente consciente de seu lugar no mundo, inteligentíssima e que em sua teoria busca uma fuga de sua rotina. Sra. Michel - o verdadeiro porco espinho - é melancólica e, assim como Paloma, consciente de seu lugarzinho no mundo. Porém, diferente da menina, Michel acostumou-se a, em sua função social, ser imperceptível para os moradores do prédio em que é a zeladora.

É ai que surge o "agente do caos". Sr. Ozu - numa óbvia homenagem ao mestre Yasujiro Ozu - um homem vivido, na essência da expressão. Alguém que viveu a vida e com ela aprendeu a se relacionar com os outros e a ver em todos possibilidades e luz. Ver aquele algo mais, que talvez seja o que cada um de nós precise para crermos em nossas capacidades. Ozu é um misto de guru de auto-ajuda com amante a moda antiga, e ajuda da forma mais sensível possível as duas personagens. Paloma em aceitar que sua vida é construída por seus atos, e a Sra. Michel em ver que ela ainda pode ser feliz, não importando qual papel ela representa, mas quem ela é de verdade por baixo da fachada.


A metáfora do Porco Espinho funciona muito bem por isso. As duas personagens - apesar de o filme relacionar o animal a apenas uma delas - podem ser vistas como o animalzinho. Espinhos amargurados e ferozes recobrem a pele do bicho que por baixo - em sua barriga - é sensível e delicado.

Fotografia delicada de Patrick Blossier e mais uma obra de arte musical das mãos do monstruoso Gabriel Yared são destaques técnicos claros.

E é impossível terminar esse texto sem destacar os três grandes trabalhos de Garance Le Guillermic (Paloma), Josiane Balasko (Sra. Michel) e Togo Igawa (Ozu). Uma trinca de ases que além de terem uma química excelente em quadro apresentam excelentes atuações individuais. Garance caminha com extrema habilidade - ainda mais impressionante por sua pouca idade - entre a linha tênue entre a pequena adulta chata e a criança prodígio.

Excelente trabalho. Balasko é sisuda e inteligente o suficiente para ir desmontando sua seriedade com o decorrer do filme, empregando uma transformação maravilhosa do ponto de vista dramático. E Igawa é o melhor do filme, sutilmente ele vai ganhando o coração do público com sua gentileza, bom humor e sensibilidade.


Porco Espinho é uma beleza de exemplar de filme que conquista seu público sem apelar para fórmulas óbvias ou para a excessiva erudição.

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