quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Pronto para Recomeçar

Pronto para Recomeçar

(Everything Must Go, 2010)
Comédia/Drama - 97 min.

Direção: Dan Rush
Roteiro: Dan Rush

Com: Will Ferrell, Rebecca Hall, Christopher Jordan Wallace e Michael Peña

Uns meses atrás, estreou no Brasil o fracasso de crítica e público, Larry Crowne, que tinha no elenco duas super -estrelas do cinema mundial: Julia Roberts e Tom Hanks (que também assinou a direção). No patético filme, Larry era um sujeito boa praça que perde o emprego e precisa "reencontrar o sentido da vida" ao mesmo tempo em que seu mundo cor de rosa começa a fazer sentido.

Pronto para Recomeçar é basicamente a versão real e sem retoques sobre a reconstrução de um homem (Nick Halsey), depois de ser abandonado pela esposa, perder o emprego e a casa em que vive e ainda ter que dominar e vencer o vício do álcool. Apesar de a sinopse parecer indicar um dramalhão melado e cheio de lições de vida, na prática o filme de Dan Rush é mais cínico e bem humorado do que a média da categoria. Muito disso é mérito da escalação de Will Ferrell, um ator de grande talento que consegue transitar com méritos pela comédia (onde se consagrou nos Estados Unidos) e pelo drama (Mais Estranho que a Ficção) e que aqui consegue caminhar entre esses dois mundos com extrema habilidade.

É um grande trabalho de Ferrell, que é emocionante, crível e patético em iguais proporções. O filme não nos força a gostar daquele homem, que claramente tem sérios problemas de caráter. Não é a toa que sua mulher o deixou, e que largou suas coisas no jardim em frente à bela casa da família, fazendo de Nick um sem teto, acampado no próprio jardim, cercado de tralhas.


Outra qualidade é a de não esfregar na cara do espectador explicações óbvias sobre o personagem principal. Não existe uma preocupação em explicar cada detalhe da vida de Nick, deixando muitos dos porquês subentendidos ou a cargo dos próprios personagens, o que poderia ser um recurso pobre (já que a cartilha do cinema diz que: em vez de contar uma ação, mostre) aqui funciona perfeitamente, já que se o filme optasse por mostrar os problemas de Ferrell perderia muito tempo, mostrando cada pequeno evento que causa a hecatombe emocional do personagem.

Deixando essa responsabilidade para uma conversa informal entre os personagens, o diretor Dan Rush aproxima as relações do publico, deixando-a mais humanas, o que é o segredo do filme. Apesar do absurdo de acompanharmos um homem acampado em seu próprio jardim e mesmo com alguns exageros humorísticos desnecessários (como uma disputa por seu carro ou a abertura do filme mostrando Ferrell fugindo depois de furar o pneu de seu ex-chefe), Pronto para Recomeçar é profundamente emocional e espera que o espectador compre a ideia de seu "herói" mais que falível e que não vai tentar lhe dizer como viver sua vida.

Talvez seja esse o grande mérito do filme, o de não tentar - como é comum em produções vendidas como dramas humanos vindas dos Estados Unidos - explicar ao espectador como proceder com sua própria vida, já que Nick nada mais é do que mais um sujeito difícil, cheio de defeitos e nada simpático, mas com um bom coração e uma grande vontade de melhorar.


A interação entre Ferrrel e o garoto Christopher Jordan Wallace é outro achado. Parecendo saído (com restrições óbvias de temática) de Papai Noel as Avessas, o relacionamento entre o fracassado Nick e o maduro e ávido por conhecimento Kenny (Wallace) faz do filme uma comédia involuntária (onde ai sim, o humor funciona direito) sobre o patético estado do personagem principal. E quando o filme ganha a figura de Samantha (Rebecca Hall) uma jovem grávida vinda da cidade grande, o filme também subverte nossas expectativas, transformando-a em muito mais do que um rostinho bonito.

Ainda contando com uma participação interessante de Michael Peña, como um policial e amigo de Nick, que tenta ajudá-lo boa parte do filme, Pronto para Recomeçar é um trabalho seguro de Dan Rush e mais uma atuação quase irrepreensível de Ferrell, que mostra cada dia mais que é um ator versátil e que deveria ter mais espaço para brincar com seus dotes dramáticos.

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