sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Tão Forte e Tão Perto

Tão Forte e Tão Perto
(Extremely Loud e Incredibly Close, 2011)
Drama - 129 min.

Direção: Stephen Daldry
Roteiro: Eric Roth

Com: Thomas Horn, Tom Hanks, Sandra Bullock, Max von Sydow

Existem filmes que tem tudo para funcionar. Uma história interessante, um componente emocional forte, um elenco de estrelas consagradas e atores de alta qualidade e um diretor acostumado a lidar com as complexas emoções humanas. Por que então, Tão Forte e Tão Perto não funciona?

Por que Tão Forte e Tão Perto aposta todas as suas fichas em um jovem garoto chamado Thomas Horn, que é a chave para o filme. Se o espectador "compra" o garoto, a possibilidade de gostar do filme é grande, se, meu caso, o garoto parecer um chato insuportável que merece ser enforcado e que cada segundo de falatório compulsivo do pequeno Einstein é mais doloroso do que uma facada no olho, as chances de Tão Forte, Tão Perto se transformar em uma experiência traumática são bastante grandes.

Além da história esquemática (e que honestamente, acho que só funciona de verdade para quem sofreu diretamente com os atentados ao WTC) o filme peca ao simplificar demais uma situação muito mais complexa do que Stephen Daldry retratou em seu filme.


O garoto Oskar Schell claramente tem sérios problemas comportamentais, é cheio de fobias e é incentivado pelo pai a fazer parte de uma serie de jornadas em busca de segredos sobre sua cidade, entre outros. Thomas Schell (Tom Hanks) acredita que dessa forma seu filho poderá se socializar, e aos poucos vencer fobias. Ou seja, em vez de consultar um especialista, resolve "adivinhar" o que fará bem ao filho, que claramente não apresenta evolução nenhuma. Quando Thomas morre nos atentados nas torres gêmeas, o garoto fica ainda pior, irascível, seu grau de pedantismo e pseudo inteligência atinge níveis humanamente insuportáveis, e tudo acaba sobrando para a destroçada (pela morte do marido e pelo filho cheio de problemas) Linda (Sandra Bullock), que é de longe a melhor coisa do filme.

Um ano se passa, e em um arroubo de força de vontade, Oskar entra no armário do pai (que desde a sua morte não foi nem tocado pela mulher) e descobre um vaso e uma chave que, inspirado pelas antigas aventuras com seu pai, imagina ter a ver com outra historia idealizada pelo pai e que não teve a chance de se divertir com o filho.

O filme parte daí e coloca o garoto em uma peregrinação pela cidade de Nova York, lutando com seus (muitos) traumas e tentando encontrar o lugar de origem da tal chave. Durante o filme, o garoto encontra-se com a "fauna" presente nos milhares de habitantes da cidade de Nova York. Desde senhoras religiosas, maníacas por limpeza, sujeitos obcecados em abraçar, mulheres a beira da separação, todos comovidos com a história do garoto que perdeu o pai no 11 de setembro.


O filme, quase em seu final, tenta dar uma justificativa "lógica" a facilidade com que o garoto é recebido em uma série de casas, que, além de profundamente implausível, demandaria uma engenharia tremenda. Mas, enfim, como explicação emocional dentro do roteiro até funciona.

Outro ponto importante do filme é a personagem de Max Von Sydow (identificado apenas como Inquilino), um senhor que não fala e que o espectador claramente (antes mesmo do "garoto gênio" perceber) entende quem é na verdade, graças ao roteiro esquemático que repete duas vezes em menos de trinta minutos, uma informação importante a respeito da família do pai de Oskar.

Sydow não está mal, mas Bullock, Viola Davis e até Jeffrey Wright estão melhores do que o veterano ator. A dificuldade com o texto é evidente, e principalmente em atuar ao lado do chatíssimo Thomas Horn. Sydow tem que se expressar com o olhar, e em sua cena mais importante chega a emocionar, é verdade, mas emoção por emoção, até mesmo Wright consegue esse objetivo na cena mais importante do filme.


Tão Forte melhora com o desenrolar da história, e fica claro que a ruína do filme está na escalação equivocada de seu protagonista, que não consegue nos emocionar, ou se transformar em elo com o público. No fundo ficamos torcendo para que a história acabe logo e que aquele garoto irritante pare de falar.

Bullock como disse, não surge como uma personagem unidimensional e se esforça realmente para fazer de Linda uma mulher perdida, complexa e que não enxerga muito futuro em uma vida que para ela, é um martírio, ao lado de um filho que não a entende e sem seu marido que a amava. Portanto, quando no ato final, surge uma revelação sobre seu comportamento, ficamos felizes, em comprovar que nem todos ao redor de Oskar, deixavam estar em relação aos problemas da criança gênio.

O esquematismo do roteiro se faz presente com força quando o garoto finalmente encontra uma pista verdadeira quanto ao significado da chave, e que derruba a ideia de que aquele garoto era brilhante. Brilhante e monstruosamente inteligente e que não consegue - literalmente - enxergar uma pista na sua frente? O roteiro de Eric Roth, enterra a nossa credibilidade na inteligência do garoto quando vai por esse caminho.


Como disse no início do texto, a história do filme não é ruim, e sem os excessos de simplismo aqui e ali, uma escalação mais feliz em relação ao protagonista do filme e principalmente menos pretensão em ser "o filme sobre como exorcizar os fantasmas do 11 de setembro", talvez, a experiência fosse mais agradável de ser vista.

O maior mal do filme talvez seja esse. Pretensão em tentar - vendo de fora - dar uma cara e uma voz única a uma tragédia tão plural e que machucou tanto um país.

Nenhum comentário:

Postar um comentário