quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Reis e Ratos

Reis e Ratos
(Reis e Ratos, 2012)
Drama/Comédia - 111 min.

Direção: Mauro Lima
Roteiro: Mauro Lima

Com: Selton Mello, Otávio Muller, Cauã Raymond, Rodrigo Santoro, Rafaella Mandelli, Paula Burlamaqui e Seu Jorge

Confesso que não fiz sequer uma anotação sobre Reis e Ratos antes de escrever o texto. Em geral (isso não é regra, cada um faz do jeito que acha melhor), sempre anoto algumas coisas a respeito do filme antes de começar a escrever minhas impressões sobre o mesmo. Não foi o caso desse filme. E por favor, não encare isso como um elogio. Faltaram-me conceitos e palavras para tentar entender que monte de bobagens eu tinha acabado de ver. Um filme acéfalo e que tem o humor raso de um Zorra Total, a paródia digna de um Casseta e Planeta e a preocupação política de uma Praça é Nossa.

Pior, recheada de gente talentosa, fazendo o pior trabalho possível, achando que realmente está soando engraçado. Reis e Ratos é uma piada sem graça, contada num salão vazio para uma platéia de fantasmas.

Comecemos com a história, que é uma paródia de uma serie de filmes de espionagem e sobre a guerra fria, e que envolve um grupo de personagens pé de chinelo e seu envolvimento no golpe militar. Segundo a "lógica" do filme, um grupo de conspiradores, que envolve um agente da CIA que é dono de loja de sapato, um fazendeiro do interior e um integrante do exercito brasileiro.


Junto a essa "turminha da pesada" está uma cantora que vem do Rio Grande do Sul (que a produção faz questão de enfatizar com um sotaque irritante), um locutor de rádio gay, que é "curado", pela tal cantora do Sul (spoilers) e um marinheiro negro e comunista.

A ideia é que tudo isso fizesse algum sentido e principalmente tivesse graça. E não acontece. O humor que é baseado em uma mistura satírica de "homenagens" ao cinema de espionagem e ao cinema noir americano, não funciona em momento algum, sujeitando atores talentosos a uma serie de piadas fracas e que só reforçam a falta de noção do roteiro pavoroso.

Selton Mello, um dos bons atores nacionais, aqui além de apresentar um pavoroso sotaque (uma versão light de Fucker e Sucker do pavoroso Casseta e Planeta) ao seu personagem, ainda parece deslocado e imitando a si mesmo em uma coleção de frases de efeitos medíocres, todas inspiradas num suposto humor cool.


Santoro e Raymond também não podem fazer muita coisa. Santoro, auxiliado por uma maquiagem interessante, constrói seu personagem como uma criatura do esgoto (por isso seu nome Rato, quanta originalidade hein crianças?), um sujeito viscoso e nojento de fala rápida e imundo. Interessante por ir contra a imagem de galã de Santoro no Brasil, mas ainda sim, muito pouco para salvar o filme do desastre. Raymond tem ainda mais problemas, pois seu personagem é um locutor de rádio que se descobre ser um agente adormecido dos soviéticos e que passa informações cifradas durante as transmissões de seu programa. Além de o sotaque ser mais do que irritante, a suposta homossexualidade do personagem é "curada" por outra personagem, o que é uma bobagem sem graça, talvez um receio de transformar o "herói" da história em gay.

A tal garota é a mais que fraca Rafaela Mandelli, que força um insuportável sotaque gaúcho, para indicar suas "origens", e que é outra que tem apenas momentos de vergonha alheia recitando frases de efeito e embarcando na história que não faz sentido algum.

Existem momentos de profunda vergonha alheia, como a cena de sexo entre Paula Burlamaqui e Selton Mello, que serve apenas para exibir a atriz nua, já que além de não ser engraçada, é profundamente desnecessária e muito mal realizada. Outra bobagem - talvez explicada pelo egocentrismo de mostrar para o público a pujança da produção - são as três sequencias em que o público enxerga um avião sobrevoando a orla carioca. Apenas fazem o filme crescer em duração e não acrescenta em nada a história a ser contada.


Existe uma boa piada em Reis e Ratos: sua reverência aos filmes dublados, que inclui a escalação de diversos dubladores para retratar personagens estrangeiros, e já que o público acostumou-se a ouvir muita coisa dublada por aquele pessoal, a identificação é direta. Um acerto em trezentos em noventa e cinco tentativas não redime o filme, infelizmente.

Mauro Lima (do competente Meu Nome não é Johnny) fez um filme com cara de serie de tv ruim, e apesar de tentar fugir do apelo estético da tv (com seus milhares de planos médios e closes incessantes) escorrega no tema, nas piadas, no timing e principalmente por não se resolver até que ponto sua paródia é sobre o próprio cinema e seus clichês, ou uma tentativa de criar uma comédia sobre o período da ditadura.

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