Ensaio Sobre a Cegueira
(Blindness - 2008)
121 min. - Drama
Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Don McKellar
Com: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover, Sandra Oh, Alice Braga, Gael Garcia Bernal
José Saramago, autor português ganhador de diversos prêmios incluindo o Nobel de Literatura, sempre aderiu á escrita forte, de conteúdo e linguagem pesada. Em Ensaio Sobre a Cegueira, sua obra mais conhecida, ele retrata a selvageria humana por meio da perda de visão.Avesso as adaptações cinematográficas de livros, Saramago foi contra a decisão do brasileiro Fernando Meirelles de levar para as telas o Ensaio. Segundo ele, "o cinema acaba com a imaginação literária".
Mas, inexplicavelmente, Saramago chorou de emoção quando viu o filme finalizado. Disse que era exatamente aquilo nas telas que seu livro era nas páginas. E Meirelles, satisfeito, chorou ao lado do português.
Para quem leu a obra, Ensaio Sobre a Cegueira deve ter sido uma adaptação incrivelmente fiel.
Não li a obra. Então, pra mim, Ensaio não foi uma ótima adaptação. Foi um ótimo filme.
A história narra a trajetória de várias pessoas infectadas por uma inexplicável variação da cegueira, a cegueira branca. Depois de provocar diversos acidentes e implantar o caos no mundo, esse infectados foram postos em quarentena pelo governo(de um país desconhecido, uma exigência de Saramago). Entre esses infectados, está um oftalmologista(Mark Ruffalo). Sua mulher(Julianne Moore) incrivelmente não se infecta, mas vai junto para a quarentena para ajudar seu marido. Sendo a única com visão, a mulher(sem nome, como todos no filme, outra exigência de Saramago) começa a se responsabilizar por todos em sua ala.
As atuações do filme são todas soberbas. Julianne Moore arrebenta e faz uma heroína bastante crível, que tem raiva, desprezo e todos os sentimentos humanos, sem parecer artificial. Mark Ruffalo também faz o típico herói, mas com seus medos e ambições. Todos os outros coadjuvantes e figurantes fazem um ótimo trabalho, angustiando o espectador a cada frame.
O roteiro adaptado por Don McKellar também é único, criando situações verossímeis a partir do material literário e mostrando a realidade humana com uma fidelidade enorme.
Na direção, Fernando Meirelles faz o seu melhor trabalho até aqui. Ele encontra ângulos dificílimos e consegue focar seus personagens de maneira extremamente íntima. Dentro das alas de quarentena, você se sente um dos cegos. Sua direção é tão brilhante quanto a de Darren Aronofsky, outro gênio vivo.
Outro ponto belo do filme é a fotografia de César Charlone, colaborador frequente de Meirelles. Sua aura branca e meio turva é instigante e tem pontos curiosos em que os personagens andam para o vazio branco, emulando a cegueira deles. De repente, surge seu destino, com o sumiço do branco. Ótimo. A trilha sonora do grupo Uakti também não deixa pra menos e cria algo perturbador e angustiante, com alguns "tic-tacs" entre a trama. Outro fator que merece destaque é a mixagem de som, principalmente nas cenas urbanas. É impressionante o efeito que o som da cidade emite na cabeça do espectador. A mixagem aumenta isso ao máximo,criando algo insurdecedor.
Tecnicamente, é um filme brilhante.
Fernando Meirelles se mostrou um diretor cult, trazendo pro cinema um filme difícil de digerir, que revira o estômago. Existem cenas cruéis, como as jornadas pela ala toda suja por excrementos humanos. Mas as cenas que mais impactam são as secas, como o desespero de homens na ONU quando um deles fica repentinamente cego e outra em que a Ministra da Saúde(Sandra Oh, numa pequena participação) fica cega e diz, naturalmente: Como muitos de vocês, eu fiquei cega.
Esqueça tudo o que os protestos á favor de cegos tem dito sobre o filme. Não é porque o sujeito ficou cego que ele ficou irracional. Esse é apenas o meio utilizado por Meirelles, McKellar e Saramago para descrever a natureza do homem como um ser animalesco. Se o filme foi criticado em Cannes, foi por ser duro demais com as pessoas de estômago fraco. Mas o filme é Rated R e está tudo justificado na censura.
Meirelles é um dos caras mais corajosos que conheço. Um enorme parabéns por sua mais nova obra-prima. Se ele preferiu não filmar um estupro coletivo nos seus mínimos detalhes, é porque isso já seria algo corajoso demais pra ser lançado nos Cinemas. Seria banido.
TRAILER:
Já vi o filme... achei meio 'cru' demais... sei lá... talvez faltou edição... Mas a história é realmente incrível!
ResponderExcluirEsse filme tem todo o meu respeito porque ele coloca, em tela, o que o livro do Saramago tem de melhor! Além disso, Fernando Meirelles é um baita diretor, rodeado de um elenco inspiradíssimo.
ResponderExcluirVou ser a voz discordante. Eu realmente não curti a experiencia do filme. Vi duas vezes e ainda não senti oq gostaria de sentir ao ver esse filme.
ResponderExcluirEu adoro esse filme, maarvilhoso! Vi no cinema, comprei o dvd, não canso de assistir no telecine haha
ResponderExcluirMas, não é o melhor do Meirelles, Jardineiro Fiel eu acho o melhor dele!
Para mim, o filme é um digno mito alegórico. Ele encara a humanidade de uma forma acanhada no começo, depois a torna violenta, e por fim, a torna incapaz. O filme é uma obra rara no mundo cinematografico. Infelizmente, a obra no qual o filme se abordou, foi sim desvirtualizada. E a mensagem final do livro foi sim distorcida, uma vez que foi encaminhada para um final feliz típico de cinemas modernos. O filme encanta e ao mesmo tempo machuca. Vale a pena conferir tamanho percusso humano que as personagens fazem para dominar a situação de cegueira. O autor do livro se encantou, mas deve ter sentido falta de sua mensagem final.
ResponderExcluirO Cinemótica tem uma resenha sobre o filme: http://awardmovies.blogspot.com/2009/08/um-ensaio-sobre-cegueira.html
Abraços!
O Meirelles realmente enche qualquer brasileiro de orgulho... Um filmaço mesmo...
ResponderExcluirCarambra, até hoje não vi esse filme! Eu não sou chegado na literatura do Saramago - não faz meu estilo. Mas acho os seus argumentos completamente cinematográficos. Boa lembrança! Vou até anotar para não esquecer...
ResponderExcluirAbs!
Vou ser o ignorante daqui. Ainda não vi Ensaio sobre a Cegueira, fato que eu realmente não gosto, pois só de ter a direção de Fernando Meirelles, talvez um dos poucos brasileiros que encham de orgulho o Brasil e a atuação de Julianne Moore (atriz sobra a qual sei pouco, mas que me supreendeu muito em As Horas) o filme já deve valer a pena, ainda mais quando soubemos que a atriz citada acima quase chegou a lista da 5 do Oscar de 2009.
ResponderExcluirDiferentemente do meu colega Renan, eu tive a oportunidade fantástica de ler o livro e assistir ao filme.
ResponderExcluirSobre tudo o que você escreveu sobre o filme, de nada discordo. É realmente uma obra como poucas, muito bem estruturada, que transmiste uma mensagem em tom certo, sem exagerar e sem ser minimalista.
Julianne Moore está explêndida, como já não a via desde As Horas. Os outros nomes do elenco dão ótimo suporte à sua personagem, que é muito bem trabalhada.
Eu acho que a crueza existente no filme é necessária, pois ela se mostra da mesma maneira no livro. Este, no entanto, não tem um final tão alegórico. O filme termina com uma onda extasiante de felicidade; embora temrine de maneira parecida, o livro não dá a entender que tudo há de se resolver.
Esse é um pequeno detalhe que não interfere em nada no resultado final. A direção de Fernanda Meirelles é muito boa e tenho que concordar com os parceiros Renan e Nespoli: eles no enche de orgulho.
Na minha opinião, um ótimo filme e uma das melhores adaptações.
:)
Gosto do filme, sim gosto. Mas, acho que merecia ainda mais ousadia e intensidade - principalmente no desenvolvimento de certas cenas. Meirelles deveria ter ousado ainda mais, ido além - o livro é mais instigante e impactante, no filme ele perde este foco. Acho que certas tomadas e cenas tem uma estética simplista e correta de direção e construção. Mas, o filme é bom sim.
ResponderExcluirAbraço
Fala, Gabriel! Mandou muito bem! Ensaio Sobre a Cegueira é um grande e um puta filme injustiçado. Uma pena serem os poucos que admirem essa obra prima do genial Fernando Meirelles. Abraço!
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