sexta-feira, 2 de março de 2012

Billi Pig

Billi Pig
(Billi Pig, 2012)
Comédia - 95 min.

Direção: José Eduardo Belmonte
Roteiro: Ronaldo D'Oxum e José Eduardo Belmonte

Com: Selton Mello, Grazi Massafera, Milton Gonçalves, Preta Gil, Milhem Cortaz, Otávio Muller e Tadeu Mello.

Billi Pig não é para mim. Percebi isso nos primeiros cinco minutos do filme, quando Grazi Massafera acorda depois de ter um bizarro sonho em que se vê fazendo um ritual em busca de talento - que a personagem não tem - e que envolve um Oscar de mentira, um grupo de índios estranhos e... um porco realizado em um CG paupérrimo cor de rosa.

Isso significa - o fato de ter notado que o humor praticado por Billy Pig não funcionar comigo - que o filme seja ruim? Sim, e não. Significa que, o diretor José Eduardo Belmonte é deverás ousado pois em tempos de comédias brasileiras com cara e jeito de programa de televisão, vai muito mais longe, na origem da comédia popular no cinema nacional: as chanchadas da Atlântica, e só por isso Billi Pig já merece respeito. O que obviamente não significa que o texto funcione sempre (na verdade, ele funciona quase nunca), mas quando acerta, acerta em cheio fazendo o espectador rir sem muito pudor.

A história gira em torno de dois trapaceiros Selton Mello (fazendo ele mesmo) e Milton Gonçalves (depois de muito tempo fazendo pontas no cinema brasileiro recente, aqui tendo a chance de protagonizar de verdade uma produção) que se aproveitam da crendice popular sobre o personagem de Milton - um padre/charlatão que diz operar milagres - para aplicar um golpe em um traficante especialmente rico e que se vê em uma situação aterrorizante: sua filha única está em coma, e desesperado o bandido apela para - literalmente - os céus em busca de solução.


Junta-se a dupla, a grande revelação e novidade de Billi Pig, a já citada Grazi Massafera. Além de deslumbrante (o que o mundo já sabe), a jovem surge descontraída, sem medo da paródia e revela ser uma comediante de futuro e uma atriz de recursos. Quando assistirem ao filme, notem o cuidado em transformar cada frase da personagem em uma coleção de possíveis gags e a simplicidade como a atriz consegue surgir simplória, mas ainda sim graciosa. Realmente é uma grata surpresa.

Marivalda - a personagem de Grazi - é afligida por conversas (imaginárias ou não) com um porco cor de rosa de plástico, que funciona como conselheiro/amigo da personagem. Na bizarra lógica do filme, onde tudo é uma grande palhaçada, isso até funciona, embora o texto seja daqueles tão exagerado e tão ruim, que em alguns momentos acaba funcionando exatamente por isso, por ter a real noção de que está fazendo uma gigantesca piada.

Só assim para engolirmos, patos azuis, números musicais com música brega (a trilha sonora é na linha de O Palhaço, resgatando símbolos do brega no Brasil, o que parece estar na moda), tiroteios, esteriótipos físicos, e até um final - que não vou contar - que remete aos folhetins da TV. Ou mesmo o plot - muito mal explicado - sobre o padre e sua amante, que é filha da dona de uma funerária que por sua vez é cobiçada por um de seus empregados, um simples ex-jogador de futebol meio abobalhado. Entenderam?


Outro problema - e esse um problema mesmo, e não uma ideia de fazer graça - é a de que muitas sequencias estarem no filme sem muito sentido. O próprio plot da funerária entra e sai do filme sem grande função, assim como as personagens que fazem parte desse "núcleo". São pequenos sketches que funcionam razoavelmente bem, mas que no conjunto do filme estão perdidos, sem grande acréscimo a produção.

Como sempre costumo dizer - e às vezes, escrever - fazer humor é infinitamente mais difícil do que fazer drama. A prova é a quantidade de filmes dramáticos laureados todos os anos e lembrados e a desértica colaboração das comédias na soma geral de grandes filmes do ano. Billi Pig é uma comédia que finca seu pé nas chanchadas e faz isso com ligeira competência. Não é um bom filme, longe disso, mas aqui e ali, podemos ver - talvez - uma saída tipicamente nossa para a armadilha das comédias pasteurizadas e chatíssimas com cara de novela das sete. E isso é um grande avanço, mesmo com porcos de plástico feitos em CG.

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