(Paul, 2011)
Comédia - 104 min.Direção: Gregg Motolla
Roteiro: Nick Frost e Simon Pegg
Com: Simon Pegg, Nick Frost, Jason Bateman, Jeffrey Tambor, Jane Lynch, Bill Hader e a voz de Seth Rogen
Simon Pegg e Nick Frost exemplos vivos de que uma boa dupla não precisa ser bonita ou cantar música sertaneja. Simon é ruivo, branquelo, magricela e parece estar sempre irritado em seus filmes. Nick é gordo, tem cabelo escorrido, uma pinta de quem não conseguiria correr 100 metros nem que isso fosse salvar sua vida e está sempre na estratosfera em seus filmes.
E mesmo assim, Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso são duas das mais geniais comédias do século XXI. O segredo? Edgar Wright. Sim, o mesmo que dirigiu o atualíssimo e brilhante Scott Pilgrim contra o Mundo e que foi o diretor das duas pérolas citadas.
Paul, a comédia nerd sobre alienígenas é a primeira história de Pegg & Frost que não conta com roteiro e direção de Wright. O texto ficou a cargo da própria dupla e a direção do americano Greg Motolla (Adventureland e Superbad). Parecia uma combinação interessante. Comediantes britânicos sob a batuta de um diretor com experiência em comédias adolescentes descoladas, com uma tonelada e meia de referências a cultura pop e nerd e uma trama non-sense que poderia ser satírica e original, dentro do que se propunha.
Edgar Wright fez falta por aqui. Mesmo com Pegg & Frost afinados, o filme sofre de coesão e de uma série de pequenos problemas que o deixam sem ritmo e atrapalhado. Falta uma história no meio de tanta piada. O plot conta a história de dois amigos nerds ingleses que viajam aos Estados Unidos para visitarem a Comic-Con (para quem não conhece a maior feira de cultura pop/nerd do planeta) e seguirem viagem rumo aos principais pontos de avistamentos de OVNIS do país. Pegg é o ilustrador Graeme Willy, parceiro de longa data do escritor de ficção científica Clive Gollins (Nick Frost), dois nerds abobalhados mas inocentes, que durante sua viagem acabam encontrando um alienígena ranzinza, desbocado e metido a engraçadinho chamado Paul (dublado pelo chato Seth Rogen). A história confusa demais para uma brincadeira satírica ainda envolve uma conspiração governamental, fanáticos religiosos e até mesmo caipiras nervosos. Uma salada indigesta que não aconteceria com um diretor de mão mais leve e menos dependente do roteiro, que parece perdidinho.
Existem personagens demais em Paul. Além da dupla de nerds e do alienígena, encontram um escritor celebridade, dois agentes do governo que lembram Debi & Lóide, outro que parece ter saído da figuração de Homens de Preto, uma misteriosa voz que comanda com pulso firme os agentes, uma garçonete excêntrica, uma garota caolha (sim, caolha) e seu pai fanático, além de uma velhinha perturbada.
Tudo isso em menos de duas horas de filme, sendo que a imensa maioria desses personagens, surge após há meia hora inicial. A falta de uma história (basicamente o alienígena está em fuga e quer voltar ao planeta, mas não se sabe, e mal se explica o que o fez chegar aqui, por exemplo) faz de Paul um road movie bizarro, um cruzamento entre Fanboys (cult nerd) e as comédias bobocas de Adam Sandler ou do humor sem graça dos irmãos Farrelly.
Para piorar a situação esses coadjuvantes atuam no automático e a exceção de Jason Bateman (que interpreta o figurante de Homens de Preto), parecem artificiais em todos os momentos. Apesar da crítica interessante e de boas piadas aqui e ali (as com referência ao fanatismo religioso são boas) não existe uma "cola" que una tanta história paralela, que segue como uma longa procissão rumo a um clímax over e óbvio.
Paul, o personagem, é um produto da tecnologia moderna. Infelizmente o trabalho com o personagem é apenas mediano, uma tentativa de "segunda divisão" de criar um Gollum camarada. Notem como o diretor não ousou muito com planos mais abertos, tentando deixar o filme mais claustrofóbico, o que é incomum em road movies. Aposto como essa decisão surgiu depois - ou mesmo durante o processo - da criação do personagem virtual. Notaram que o personagem não era convincente e que talvez sob o efeito das luzes (naturais e artificiais) a sensação de "coisa virtual" seria ainda maior. Optaram por diminuir o espaço para o personagem se movimentar, arriscando muito pouco nesse quesito, mantendo a câmera sempre próxima ao alienígena. Nas poucas cenas de maior escopo, fica claro que aquele personagem é um estranho ao ambiente em que as cenas foram filmadas. Para ajudar, a dublagem de Seth Rogen - como quase tudo que o ator se envolve - é fraca. Praticamente - e certamente de forma proposital - não atuando, Paul é a versão cinzenta, careca e mais magra de Rogen. Uma escolha arriscada já que Rogen não é um ator de grandes recursos.
Os nerds por sua vez vão salivar com as inúmeras referências ao mundinho geek. Citações claras de Star Wars (e sua trilha sonora) e Star Trek, Arquivo X, MAC - O extraterrestre (lembram?) e até o clássico Amargo Pesadelo são lembrados pelo filme, o que pode transformá-lo em peça cult para um nicho. As participações especiais (uma homenagem na verdade) não são ruins, mas também entram na conta do fetiche.
Uma pena que Pegg & Frost tenham esquecido de que um filme não funciona apenas no papel. Se tivessem menos controle na brincadeira (minha impressão) ou um diretor mais ousado (outra impressão), Paul fosse mais do que uma coleção de piadas nerds, comentários sobre os Estados Unidos e escatologia. Faltou a sutileza e as grandes sacadas de Chumbo Grosso e o timing de Todo Mundo Quase Morto. Sobraram o fetiche e a certeza que a dupla fez aqui um filme "direct to video", uma obra menor que não ofende, mas diverte muito menos do que poderia.
O personagem de Jason Bateman (um ator que eu gosto) estraga uma narrativa que poderia ser engraçada como os outros produtos de Frost & Pegg.
ResponderExcluirO filme é Mediano msm.
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