quinta-feira, 8 de março de 2012

John Carter - Entre Dois Mundos

John Carter - Entre Dois Mundos
(John Carter, 2012)
Aventura/Fantasia - 132 min.

Direção: Andrew Stanton
Roteiro: Andrew Stanton, Mark Andrews e Michael Chabon

Com: Taylor Kitsch, Lynn Collins, Mark Strong, Ciarán Hinds, Dominic West e as vozes de: Willem Dafoe e Samantha Morton

Imagens divulgadas, trailers no ar, muita propaganda e expectativa zero para acompanhar John Carter. A última tentativa da Disney de emplacar uma franquia forte como Piratas do Caribe rendeu o insosso Príncipe da Pérsia, por isso a mistura de um protagonista com cara de teenager com a temática épica espacial realmente não me chamava à atenção.

A série de livros do personagem John Carter é importantíssima na construção da literatura de ficção científica e fantasia. Lançadas no início do século XX, os dez livros escrito por Edgar Rice Burroughs (e os muitos quadrinhos lançados posteriormente) foram importantes para a sedimentação de um gênero ainda incipiente, portanto o material utilizado na adaptação era quase "canônico" e cheio de possibilidades.

Andrew Stanton oriundo da animação (dirigiu uma serie de projetos na Pixar como Toy Story 2, Wall-E, Monstros S.A.) comanda a brincadeira, ancorado por um roteiro do próprio em companhia de Mark Andrews - futuro diretor de Valente - e Michael Chabon, de Homem Aranha 2 que conta a origem do personagem e de sua chegada a Marte.


Carter é um ex-combatente da Guerra da Secessão americana que sem a mulher e filhos, se vê em uma busca obsessiva por ouro, o que lhe faz fugir do regimento e partir rumo a locais onde ele crê que irá encontrar uma montanha de riquezas.John descobre sua caverna de ouro, porém encontra também um misterioso habitante e após uma luta usa um medalhão do personagem para se transportar até Barzoom, ou melhor o planeta Marte.

A mecânica do filme, no entanto, nos mostra essa história sendo contada em um flashback, a partir de seu sobrinho - o próprio escritor Edgar Rice Burroughs - que ao receber o diário de seu tio que havia morrido de forma súbita, serve como apresentador da aventura contida no livro do tio.

Levemos em consideração aqui, que os livros datam do começo do século vinte, muito antes de qualquer tentativa humana de exploração do espaço, portanto algumas liberdades tomadas no livro aqui se mantém, como o fato de o personagem respirar no planeta, e o mais óbvio: existir civilizações que dividem Marte. Os "humanos" estão subdivididos em duas tribos que vivem em conflito (como em todas as sociedades em que existam humanos), enquanto os "marcianos" (vamos chamá-los assim, apenas para diferenciar os personagens daqueles que tem feições humanas) , apesar de humanoides tem sua própria cultura, aspecto e vivem em tribos que parecem hordas bárbaras, onde o mais forte e o mais apto sobrevive.


John acaba encontrando os "marcianos" primeiro e cria uma relação de respeito com os personagens, enquanto acompanhamos a historia de um grupo de seres imortais que vem influenciando a historia do universo a muitas eras, e que, aponta sua influência para o planeta vermelho. Ao escolher um dos lados da disputa humana, o equilíbrio de forças passa a inexistir e com isso o planeta fica em risco.

O que mais impressiona em John Carter é sua sensação de grandiosidade. Tudo realmente parece ser opulento, épico e a construção do roteiro auxilia essa ideia. Passando pelos desertos na Terra, ou nos de Marte, a sensação de quer Carter está um lugar realmente imponente. As escolhas fotográficas do diretor Andrew Stanton, valorizam os ótimos cenários que realmente emulam uma locação fora da Terra. A escolha de diversos cenários no arenoso e cheio de formações rochosas únicas, estado americano de Utah, faz a diferença principalmente nas sequencias que envolvem um "passeio de canoa" por canais apertados cercados de muros gigantescos de rocha.

Outros destaques vão para a elegância da direção de arte, que mostra o barbarismo das tribos "marcianas" e uma mistura "greco-egípcia" para ilustrar os "humanos", a trilha sonora de impacto criada por Michael Giacchino e os efeitos visuais e sonoros que criam realmente, um mundo diferente.


Tudo muito lindo, mas a história é capenga. Começa muito bem, mesmo de forma lenta, afinal era necessário apresentar os personagens do filme, mas com o decorrer da produção dá a impressão de que o filme é longo demais, e as mais de duas horas, poderiam ter sido resumidas. O romance - óbvio - entre Carter e uma princesa de Marte também soa pouco convincente, e apesar dos atores não estarem mal, não existe nenhum grande momento de interpretação no filme.

Stanton - como disse em relação ao visual - consegue, no entanto, criar algumas boas sequencias de ação, como na épica batalha em que Carter enfrenta sozinho (graças ao fato da gravidade da Terra ser maior que a de Marte, Carter parece ter superpoderes no planeta vermelho, o que explica sua batalha de um homem só) um exército inimigo. Além de inserir imagens da família de Carter entrecortando as cenas de luta - o que torna a cena bastante elegante - é auxiliado por um tema "lostiniano" de Giacchino que faz da sequencia muito boa.

Existe ainda a pequena ousadia de apresentar os personagens do filme sangrando - mesmo que seja em azul - o que garante uma censura menor, sem precisar sacrificar sequencias de impacto. Em uma delas, Carter surge coberto da cabeça aos pés de "sangue". O que em qualquer produção de sangue "real" daria ao filme uma classificação - no mínimo - 14 anos, é transformada em censura 12 anos, graças ao truque da anilina.


Na soma dos fatores, John Carter é divertido, funciona em suas boas sequencias de ação, mas é longo demais e não conta com atores inspirados (Taylor Kitsch não me convenceu como renegado da Guerra Civil americana). A garotada talvez se divirta mais, e embora não seja uma tragédia (como parecia ser) está longe do impacto que a grande franquia Disney dos piratas conseguiu no cinema.

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