Heleno
(Heleno, 2012)
Drama - 116 min.
Direção: José Henrique Fonseca
Roteiro: Fernando Castets, José Henrique Fonseca, Felipe Bragança
Com: Rodrigo Santoro, Angie Cepeda, Alinne Moraes, Maurício Tizumba
É quase uma regra: jornalista de cultura (cinema em especial) não gosta ou não entende nada de futebol e esportes em geral; as vezes até com um ar pedante e cheio de arrogância em suas observações sobre esportes, como quem diz: "por que perder tempo com isso, enquanto podemos apreciar Resnais, De Sica e Bergman".
Bom, não faço parte desse time. Gosto de muitos esportes e acompanho não só o "nosso" futebol, como tenho até time (não, não vou contar qual é) como também gosto da NFL, NHL, MLB, UFC, automobilismo em geral, basquete, tênis entre muitos outros. Mas, de novo, em geral essa não é a regra. Mas, o que isso tem a ver com Heleno?
Explico. Pelo fato de gostar de futebol, acompanhar e até "estudar" sobre o assunto, conhecia a personagem antes de vê-lo na tela. Sabia de sua mística, e de toda a mitologia por trás do jogador. Sabia de muitas de suas aventuras e por isso, vê-lo em tela foi como observar uma historia conhecida chegando as telas. Claro, que muita coisa é nova, e muito do roteiro do filme é ideia original e não tem como ser comprovado ou conhecido anteriormente. Essa é a graça de uma biografia cinematográfica, o frescor das novidades e a forma como cada historia é apresentada a o público, conhecedor ou não dos elementos anteriores daqueles personagens.
Por isso, Heleno funciona não só para os (como eu) apaixonados por futebol, mas também para os apaixonados por cinema, pois o que o diretor José Henrique Fonseca fez foi acertar um filme que funciona para uma gama de interessados muito maior. Não é um filme sobre futebol, mas sobre um apaixonado.
Apaixonado pelo futebol, pelas mulheres, pelos excessos e pelo sucesso. Um sujeito diferente e muito fora de seu tempo. Um elegante boêmio, um irascível jogador, um amante insaciável, um homem difícil e um personagem único. Amparado por uma fotografia em preto e branco lindíssima e muito inteligente (o que dá destaque as cores dos uniformes dos times, ao ar melancólico da historia, deixando ainda mais mítico o personagem) Heleno é um grande trabalho e como o biografado, é charmoso e imperfeito, mas com momentos de genialidade.
É impossível não destacar Rodrigo Santoro. Em uma performance hipnótica e magistral, ele segue os passos de Robert De Niro e faz de Heleno o Jake La Motta brasileiro. Sem comparar a qualidade das interpretações ou mesmo dos filmes, é impossível não lembrar do trabalho de Scorsese, quando ouvimos a trilha sonora ou acompanhamos Heleno em um treino em sua passagem pelo Boca Juniors da Argentina, ou mesmo quando presenciamos as poucas - mais belíssimas - cenas de futebol que a produção faz questão de mostrar.
Santoro consegue criar a partir do mesmo modelo, três sujeitos diferentes: o Heleno astro do esporte, visceral, agressivo, raçudo e obsessivo, o Heleno galã, carinhoso mas viril, intenso e viciado em mulher e o Heleno do fim da vida, fantasmagórica sombra de um passado glorioso, doente, demente e sem um passado a se recordar.
Triste fim para uma figura tão estupenda quanto à apresentada no filme. Ao lado de Santoro, o ator Maurício Tizumba é outro achado monumental. Vivendo o enfermeiro que cuida do jogador no fim da sua vida, é sutil, simples, honesto e muito eficaz quando precisa demonstrar todo o carinho com que cuidava do jogador. O mesmo vale - em menor escala - para a atuação segura de Alinne Moraes, que como a esposa de Heleno, emociona e encanta sem fazer força, apenas amparada pelo roteiro seguro e lírico do filme.
Roteiro esse que é poético, apesar de bastante objetivo. Longe de ser complicado, usa do flashback para mostrar sem muita preocupação organizacional as diferentes facetas do biografado. É empolgante acompanhar as soluções simples para a mudança de tempos que a produção usa, assim como fica claro todo o carinho de todos os envolvidos com o filme que faziam.
O único revés do filme é a abordagem muito sutil e breve da questão da doença de Heleno. Uma frase dita pelo médico e só. É complicado em um filme longo e com momentos quase herméticos como esse, que aposta na poesia e que prega um discurso direto em outros momentos, closes muito fechados, uma fotografia estourada, ou seja, que apresenta muita informação visual na tela e que exige um pouco mais do espectador, que uma informação tão relevante para o filme surja de forma tão discreta.
Outra questão, e que divide as opiniões, é a questão meio vaga de como os diferentes períodos da vida de Heleno vão surgindo na tela. Não existe uma ligação muito clara entre os períodos e tudo é feito de forma fluída - para alguns, pode parecer até demais - e não se enxerga muito de futebol dentro de campo.
Poético mas bastante simples, caminhando entre o lirismo e o realismo, Heleno é o retrato de um homem que tinha tudo e destruiu-se sozinho. Um homem que podia ser o rei do mundo, mas que não abriu mão de nada. Um sujeito nada heroico, profundamente falível, um derrotado pela vida, um desgraçado genial, que assim como o filme inspirado em sua vida, tem momentos de profunda arte e beleza.
Alexandre acho que nós brasileiros ainda exploramos muito pouco aquele que é tido como o nosso maior esporte, filmes como Heleno que mostram a relação do futebol com a fama devem ser mais frenquentes, ressalto aqui o filme O casamento de Romeu e Julieta que trata de um caso amoroso entre um corithiano(Romeu) e uma palmeirense( Julieta)
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