quinta-feira, 1 de julho de 2010

The Broken
(The Broken, 2008)
Suspense - 88 min.

Direção: Sean Ellis
Roteiro: Sean Ellis

Com: Lena Headey, Melvil Poupaud, Richard Jenkins

The Broken é um pequeno, mas razoavelmente interessante suspense sobrenatural inglês (com grana da francesa Gaumont) que pretende em pouco mais de oitenta minutos contar uma tradicional - e pouco imaginativa - história de horror nos moldes das antigas produções setentistas, onde o clima e a tensão eram resultado de elementos estéticos e artísticos a cargo do diretor e equipe.

Pois bem, The Broken aborda um elemento tradicional em algumas narrativas fantásticas: o gêmeo do mal, ou alguma espécie de entidade que "rouba" a identidade de outro. O condutor dessa história é a personagem de Lena Headey (a radiologista Gina McVey) que (o filme não explica) envolve-se nessa trama rocambolesca e sobrenatural sobre trocas de identidade.


O filme escolhe como condutor do desconhecido um elemento bastante banal e comum em todas as casas mundo afora: o espelho. Isso causa - propositalmente imagino - uma segunda discussão estilística: o uso do espelho como forma de reflexo da maldade inerente ao homem. Ao apresentar o objeto quebrado (várias vezes durante o filme aliás), ele parece dizer que ao se quebrar o espelho libera para o mundo o nosso lado negro. A direção de Sean Ellis usa e abusa do uso dos espelhos por toda a projeção, o que é inicialmente um bom exercício de estilo, mas que com o tempo torna-se enfadonho e incômodo.

Porém Ellis, apesar do excesso com seu fetiche por espelhos, apresenta um trabalho bastante consistente nas seqüências de suspense e tensão. Em especial atente-se para uma em que a personagem de Headey está numa banheira. Nela fica exemplificado o que Ellis faz de melhor. Câmera bem posicionada, fotografia que auxilia a idéia do roteiro (em vez de tentar sobrepujá-la), uma atuação sutil da atriz, edição que favorece a tensão e trilha sonora na medida. Se Ellis conseguisse manter esse nível durante todos os mais de oitenta minutos, teríamos um excelente trabalho.


Os problemas são os que quase sempre derrubam 9 entre 10 produções que se situam no mundo do fantástico, misterioso e afins: o roteiro. Como disse acima a trama é rocambolesca, com furos constantes (que os mais atentos vão "pegar" fácil) e dotada de um final surpresa - nem tão surpresa assim, já que faltou competência a Ellis (também roteirista) para não escancarar suas pistas - que honestamente confundiu esse que escreve. Não me considero nenhum gênio, mas não sou nenhum acéfalo, por isso precisei rever certos trechos do filme uma segunda vez para tentar entender o que o diretor propôs. Ao rever ficaram claro alguns furos (outros).

A parte técnica de Broken é muito boa. Além de Ellis ter a "manha" nas seqüências de suspense, ele teve inteligência para não querer inventar demais quanto à edição e principalmente fotografia. A edição de Scott Thomas se não é um primor de originalidade, pelos menos não ofende os puristas do suspense clássico e não se rendeu ao "piscou-perdeu" que tanto irrita aos não criados pela MTV. Já a fotografia (a cargo de Angus Hudson, que curiosamente é listado como "operador de câmera") é aquela que todo mundo conhece de "n" outros filmes de suspense. Acinzentada e gélida, transmitindo lugubridade, solidão, angústia e desesperança. Funcional apesar de nada original.


Funcional também é a trilha de Guy Farley que é incidental e tem função de amplificador do que Ellis quer mostrar em tela.

Ellis é "novato" e por isso merece um crédito por apresentar boa condução da ação, mas perdeu uma grande oportunidade de transformar Broken em algo mais que mediano. Há primeira meia hora é bastante interessante, mas o desenrolar é tão confuso e sem sal (o que é o personagem de Melvil Poupaud ?) que o espectador sente-se cansado mesmo vendo pouco menos de noventa minutos de ação.


4 comentários:

  1. Pelo poster dá pra perceber que ele tem uma ótima parte técnica, mas vendo a resenha é desanimante que a estória é desanimadora, rs
    Não sei se teria coragem de encarar...

    ResponderExcluir
  2. Alan, a parte técnica é muito boa mesmo, mas o roteiro é desanimante mesmo rsrs. E tem ainda finalzinho "surpresa". Tinha boa expectativas com esse ...

    ResponderExcluir
  3. Achei o filme confuso, especialmente por uma razão: seria melhor não indicar que o lado "negro da força" tem a ver com alguma espécie de "demônio-interno-de-olhos-vermelhos" ou algum tipo de "ets" ou o que for que quer "dominar o mundo" substituindo as pessoas por seus alter-egos do mal.. se não tivesse esse tipo de coisa, ele funcionaria melhor, por não explicar explicitamente o que se passa na trama. Assim a coisa toda acaba ficando no meio do caminho, deixando a gente sem entender bulhufas! Esses caras deveriam ter revisto (na real acho que nem viram uma só vez) umas mil vezes "Persona", do Bergman, pra aprender como é que se faz uma trama dessa natureza. Outra coisa: não há uma cena que explique como a mulher "se perde" em sua identidade, até reconhecer que ela no fundo é a persona do mal.. mas se é a do mal, pq a personagem que conta a história é a "do bem"? O acidente causou essa confusão de personalidade? Ok, se foi isso, então bastou ela descobrir o que fez pra se macumunar com os demais "ets" (sic), como o seu "alter-pai-do-mal" no final? enfim.. fiquei meio puto com o enredo e com o desfecho e precisava desabafar com alguém, daí catei sua crítica no google e aqui escrevo. Agora meu lado mal poderá se aquietar! Abs

    ResponderExcluir
  4. Bota 4 mil libras na minha mão que se a parte técnica não funcionar podem me desovar na primeira nave espacial que tá deixando a Terra. Esses caras deveria ter visto AO MENOS UMA VEZ o Persona do Bergman pra entender como se faz filmes dessa natureza. A gente fica perdido sem entender se a trama é um thriller psicológico ou um thriller sci-fi ou que seja, com aqueles "olhos-vermelhos-de-demônios", por exemplo. Pra quê isso? Outra bizarrice: a personagem que conta a trama é claramente o alter-ego do bem, por assim dizer, mas basta ela descobrir o que fez pra se "descobrir" outra coisa e assim definir-se: toda a consciência ou inconsciência ética da personagem vai pro ralo sem nenhuma concatenação ou motivo razoável! Os do "mal" parecem poderosos demais para que um acidente seja suficiente pra.. ah, sei lá! Fiquei puto, daí catei tua crítica no google pra poder desabafar com alguém.. agora meu lado do mal pode se aquietar! Abs

    ResponderExcluir