Vigaristas
(The Brothers Bloom, 2008)Comédia/Aventura - 114 min.
Direção: Rian Johnson
Roteiro: Rian Johnson
Com: Adrian Brody, Mark Ruffalo, Rachel Weisz, Rinko Kikuchi
Dois garotos problemáticos sem qualquer capacidade de adequação frente ao mundo, unidos apenas por seus laços sanguíneos e talentosos em apenas uma coisa: trapacear. Esses são os Irmãos Bloom, apresentados como bons vivants que curtem cada segundo de cada golpe. Ou será que isso é apenas a casca ?
Rian Johnson - diretor e roteirista - aponta suas lentes e palavras para discutir de forma muito sutil a capacidade do homem em encontrar-se. Encontrar seu lugar, suas verdades e aprender com seus erros. E para isso ele aposta na quase fábula dos dois irmãos. Um deles, Stephen - vívido com habitual competência por Mark Ruffalo - é a mente por trás de todos os golpes que a dupla praticou, remontando desde a infância (mostrada de forma breve como um prequel de origem da dupla). É completamente seguro e consciente de quem é e de "seu papel no mundo". Ele é um golpista, alguém inteligente o suficiente para trapacear todos sem que o fato seja sequer notado. Do outro lado, temos Bloom - Adrian Brody em boa atuação - o rapaz introvertido, temeroso quanto a seus ideais e que sempre foi de certa forma guiado para os golpes pela influencia de seu irmão.
Bloom está cansado dessa tal vida de crime e num último esforço aceita o chamado último golpe forjado por Stephen. O clichê óbvio e recorrente em filmes de golpistas ajunta-se organicamente a jornada do herói. Temos um herói vacilante (Bloom) cheio de problemas e defeitos que tem que superar adversidades, crescer e encontrar redenção. Ao mesmo tempo temos um "mea-culpa" de Stephen, uma quase confissão de que talvez devesse ter deixado seu irmão mais solto e a vontade para escolher seu caminho na vida.
O tal golpe envolve uma mulher, Penélope - outra obviedade, que como é igualmente óbvio envolve-se com nosso "herói" - vívida quase como uma criança curiosa pela belíssima Rachel Weisz. Sem entrar em grandes detalhes e nas intermináveis reviravoltas do filme, paremos por aqui. O que o leitor calejado de produções sobre golpistas deve saber é que "nem tudo é o que parece".
Johnson, seguindo a cartilha vencedora da série dos homens e seus segredos, aposta na comédia de aventura, o que tenta disfarçar os sempre presentes furos no roteiro de produções desse tipo. Por nos manter entretido numa atmosfera que sempre tanta parecer "cool" ele consegue camuflar as tais falhas e o roteiro passa quase incólume aos crivos dos mais exigentes.
Essa sensação de "feel good" foi transmitida aos atores que transformam eventuais crises existenciais em uma correria que poderia prejudicá-los caso o trio de protagonistas não fosse competente. Ruffalo inclusive recebeu uma indicação ao Satellite Awards como melhor ator cômico por seu papel. As idas e vindas não comprometem o material e causam sorrisos habituais pelas desventuras dos irmãos e sua companheira, a muda Bang Bang, vívida por Rinko Kikuchi , mais conhecida por seu papel em Babel, curiosamente onde também vive uma personagem muda.
Johnson ainda transformou os figurinos e trilha sonora em mais elementos que reforçam esse charme nostálgico que os "gatunos" conseguiram em nossa sociedade que vangloria os Billy - the Kids, Lampiões, Robin Hoods, Bonnyes e Clydes entre outros. Sem entrar no mérito sociologico, econômico e antropológico da coisa, mas concordamos que valorizamos os fora-da-lei, como heróis, ou anti-heróis. Sujeitos que conseguem passar por cima das regras vigentes e ainda se dão bem - quase sempre - no final.
A trilha (Nathan Johnson) tenta colocar os personagens naquele clima cinquentista nostálgico que o figurino (Beatrix Aruna Pasztor) também reforça. Curiosamente essa idéia do diretor é constantemente contrabalanceada pelo fato do filme ser contemporâneo. Enquanto, por exemplo, os irmãos iniciam um determinado golpe com um deles rolando morro abaixo munido de óculos de aviador de segunda guerra e montado numa bicicleta antiga, o "objeto" do golpe dirige uma invocada Lamborghini. Essa contradição é direta e parece apontar (novamente) para a idéia implícita de que o período dos bandidos românticos não combina com a modernidade dos dias de hoje.
No próprio roteiro isso é reforçado, pois em nenhum momento os irmãos apelam para bugigangas tecnológicas e afins. É tudo feito na base da tapeação direta (olho no olho) e em artifícios mais tradicionais.
Fotograficamente o filme é bem resolvido, graças à competência de Steve Yedlin que aposta numa paleta mais naturalista, mesmo quando os flashbacks do início do filme aparecem. Um dos grandes trunfos do filme está em sua edição, num excelente trabalho de Gabriel Wrye. Numa tabelinha bastante entrosada com seu diretor, Wrye captou perfeitamente toda a tentativa de produzir um "feel good movie" e reproduziu isso em cada corte. Simples, mas perfeitamente integrado aquilo que os atores e diretor quiseram mostrar.
Vigaristas só não têm conceito maior, pois os tais furos de roteiro se intensificam a cada reviravolta nova. Em especial no terceiro ato, onde o público fica perdido entre tantas informações novas e relevantes que são mostradas. A aparição de um coadjuvante importante na metade do filme também não ajuda em nada. É mais um elemento - dessa vez muito mal explorado - que não acrescenta nada e que se mostra no final muito importante ao contexto.
Johnson buscou como seus personagens o golpe perfeito, mas não conseguiu dessa vez. Um pouco mais de treino e prática e na próxima, quem sabe, ele nos "engana" com mais precisão.
Eu ainda não consegui assistir esse filme, mas me disseram que é divertidíssimo. E o elenco é bom!
ResponderExcluirCultura? O lugar é aqui:
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