sábado, 5 de março de 2011

The Company Men
(The Company Men, 2010)
Drama - 104 min.

Direção: John Wells
Roteiro: John Wells

Com: Ben Affleck, Tommy Lee Jones, Chris Cooper, Maria Bello, Kevin Costner e Craig T. Nelson



A primeira coisa que procurei fazer ao terminar de ver The Company Men, foi tentar descobrir a idade do diretor e roteirista John Wells, para identificar exatamente qual era o viés de sua agridoce critica ao "american way of life”.


Caso fosse jovens - menos de 40 anos - parecia ser uma critica a sociedade que trocou sua vida pessoal pelos bem materiais e pelo conforto do dinheiro, e mais profunda ainda, uma critica a forma com que boa parte da população encara seus respectivos empregos. Como extensão direta da vida, ou única razão para estarem andando na terra.


Caso fosse de meia idade, um mea culpa admitindo que a sociedade destruiu seu próprio sistema e que o que resta agora é juntar os cacos e tentar recomeçar, tentando mudar os paradigmas passados de geração em geração.



Caso fosse mais velhos, da terceira idade, um ataque aos "mais novos" que desvirtuaram o sentido do american way of life, e que transformaram o lema de Schwarzenneger "se você se esforçar e jogar pelas regras vai ser bem sucedido" em uma piada de mau gosto em que na verdade para ser bem sucedido basta saber em que pisar e com que força.


John Wells tem 53 anos, o que o enquadra na meia idade, a mesma de dois de seus protagonistas em seu filme de estréia. Isso explica o melodrama implícito em suas histórias, que se não são as principais (essa fica a cargo do mediano Ben Affleck) são as mais interessantes e cheias de vida.


Wells tem experiência extensa como produtor de séries de TV, ditas adultas e dramáticas como E.R., Southland, West Wing, Third Watch e alguns filmes interessantes como Retratos de uma Obsessão, Longe do Paraíso, Deixe-me Viver e Não Estou Lá. Também foi roteirista de parte das séries que produzia, porém dirigiu apenas alguns episódios de E.R. e um episódio documental sobre o FBI, antes de rodar Company Men.



Seu dedo televisivo fica claro em boa parte do filme, que se abdicarmos dos planos "grandiosos" de cargueiros abandonados e afins representando o descaso com que são tratados as fundações do país, poderia muito bem se passar por algum episódio de uma série de tv. O que não é um demérito, pois - e muita gente concorda com isso - os trabalhos mais ousados e intrigantes nos Estados Unidos (pelo menos aquele que pode vir a chegar ao público em geral) são apresentados nas telas de tv.


The Company Men segue três homens que não enxergam suas vidas sem seus trabalhos. Porém, se vêem engessados em uma estrutura burocratizada e anacrônica que aos poucos foi se implodindo. Gene McClary (Tommy Lee Jones) foi o primeiro empregado da empresa e hoje tem um alto cargo e administra uma série de funcionários entre eles Phil Woodward (Chris Cooper) e Bobby Walker (Ben Affleck).


Phil é o inquieto homem de meia idade que se segura num emprego que exige cada vez mais e lhe retorna cada vez menos. Bobby é um arrogante vendedor saído dos anos oitenta com todos os defeitos que os chamados Yuppies insistiam em apresentar. Entre eles, a capacidade inacreditável de acreditar que as aparências são mais importantes do que a realidade. Esbanjam-se jogos de golfe, carros caríssimos enquanto a companhia vai se afundando e Bobby na proa é um dos que com ela afunda.



O filme já começa com Bobby recebendo a noticia que estava demitido e sua derrocada e eventuais lições de humildade vão se sucedendo.


Existe um problema em abordar essa situação por esse prisma. Tudo o que se segue visa grifar que Bobby era um homem entorpecido pelos dólares e que não existia fora de sua mesa de trabalho, seus ternos caros e carros importados.


Contrabalanceando isso, o filme apresenta Jack (Kevin Costner), cunhado e o nêmesis de Bobby. Jack é carpinteiro e acha que o trabalho de Bobby além de inútil e exageradamente burocratizado, na verdade só o mata por dentro.


A significância que podemos enxergar é que para Wells o homem não pode se ver preso a seu emprego, como um escravo de seus hábitos e estar sempre pronto para os ventos da mudança. Nada diferente do que 10 entre 10 avalistas e consultores de RH diriam em nossa atual realidade econômica.


Por outro lado, um saudosismo quase ofensivo toma conta do filme, como se Wells também quisesse dizer "essa sociedade de hoje acabou com as boas e decentes empresas americanas". A sociedade mudou e é impossível crer que as mesmas gigantes de outrora manter-se-iam como baluartes da indústrias nos dias de hoje. Soma-se a isso a má gestão de diversas delas e o resultado é um só: desespero.


Wells aborda isso com uma faca na mão apontada a todos e isso prejudica seu filme, que surge como panfletário e mais interessado em atear fogo do que em defender posições.


The Company Men perde pontos por isso, faz uma tentativa de acidez, mas contenta-se em ser agridoce e na metade final em apresentar melodrama como solução para os problemas de seus personagens. Alguns trágicos, outros que "aprendem suas lições" e outros que mudam de vida. Parece retirado de um livro de auto-ajuda escrito por um executivo falido. Uma pena, já que o filme começa interessantíssimo, mas perde terreno ao apresentar soluções tão maniqueístas e que fogem das discussões propostas pelo filme.


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