quinta-feira, 24 de março de 2011

Waiting for Superman
(Waiting for Superman, 2010)
Documentário - 111 min.

Direção: David Guggenheim
Roteiro: David Guggenheim e Billy Kimball



Um grande documentário tem alguns requisitos básicos para funcionar. Ele precisa ser relevante, e caso seu tema a principio não parecer nada interessante, transformar essa idéia em um filme que faça o espectador assisti-lo até o final sem se sentir desinteressado. Dessa forma uma idéia mediana (como Catfish, por exemplo, ou a beleza de A Marcha dos Pingüins) pode se transformar em uma excelente experiência cinematográfica.


Em teoria, o cinema de ficção também deveria seguir essa "fórmula": bons temas+realização competente, mas sabemos que existe uma indulgência com as historinhas de mentira. Um doc. só funciona mesmo, se for realmente interessante, e mais, só chega as pessoas se for quase perfeito, pois a distribuição da produção dessa natureza ainda é fraca e ineficiente.


Waiting for Superman alia as duas condições principais para esse sucesso. O tema - pelo menos aos americanos - é relevante: a condição das escolas públicas do país. Aqui, na "bananolandia" onde a situação é ainda pior, talvez possamos olhar essa idéia com certo preconceito. Ai entra a segunda condição para a criação de um bom documentário e que faz aos olhos de qualquer um (inclusive aos bananoanos), Waiting for Superman se transformar em um excelente filme.



Em vez de apostar no blá-blá-blá tecnocrático, a linha principal da narrativa começa e termina com cinco crianças de diferentes lugares dos Estados Unidos que precisam encontrar um lugar para estudar. Cada um a sua maneira, todas acabam tendo de se sujeitar a uma humilhante loteria para conseguirem uma vaga em uma das escolas mostradas no filme. Dessa forma, David Guggenheim (o mesmo de Uma Verdade Inconveniente) consegue transformar uma discussão teórica e completamente alheia a quem não vive essa situação em uma história humana e por conseqüência global.


Impossível não ficarmos tocados com as mães e pais tentando dar seu melhor para proporcionar as condições mais dignas a seus filhos ou indignados com o jogo de poder que transforma as chances daquelas crianças (e a grande sacada é essa, focar em gente que o espectador viu, para exemplificar as situações do filme: essa situação vai prejudicar o pequeno Francisco, por exemplo) em serem bons profissionais em um oceano de incertezas.

Guggenheim sabe que tem um tema espinhoso em mãos, e inteligentemente não aponta lados, e ataca os republicanos e democratas da mesma forma. Felizes são as inserções gráficas - todas de bom gosto - que explicam alguns dados e apontam as graves falhas desse sistema.



E o mais incrível, e que me lembrou demais Hoop Dreams (um dos maiores documentários da história do cinema americano), é seu clímax humanizado, que aponta suas câmeras para as crianças e seus pais e as observa em seu martirio em busca das vagas. É de cortar o coração.


Um filme interessante, que apresenta alguns heróis públicos - como o educador Geoffrey Canada - e principalmente privados (os pais das crianças). Waiting for Superman, não quer resolver os problemas da educação do país, mas se coloca na posição de espectadores da situação. Aponta as falhas, mas não investiga as soluções. Se analisarmos o que o filme pretende ser, não podemos encarar isso como uma falha, mas como uma tentativa de humanizar uma situação muito polemica sem escolher um lado.

Guggenheim está em cima do muro, talvez por não souber em quem ou em que acreditar. Opta por dar o crédito a quem está no poder - no caso a supervisora de educação de Washington, Michelle Rheh, transformando-a em uma "lutadora" - ao invés de criticar abertamente os antecessores. Opta ainda por dizer - isso de forma aberta - que as chamadas escolas "experimentais" são melhores e que seus filhos deveriam estudar lá. No entanto, as vagas são poucas e o tal sorteio é necessário.



Dúbio, e incomodo, mas ganhando muitos pontos pela mensagem emocional, Waiting for Superman é um olhar humano sobre uma situação burocrática. É um olhar de pai sobre uma situação incomoda e desesperadora para muitas famílias. Não chega a ser brilhante em seu intento, mas pelo menos cria uma discussão que poderá ser aprofundada por alguém disposto a propor soluções, já que a visão dos relés mortais Guggenheim já apresentou.

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