terça-feira, 15 de março de 2011

O Mágico
(L'Illusionniste, 2010)
Comédia/Drama - 80 min.

Direção: Sylvain Chomet
Roteiro: Sylvain Chomet

Com as vozes de: Jean-Claude Donde e Eilidh Rankin



O Mágico não tinha a menor possibilidade de dar errado. Junta no mesmo filme dois grandes artistas, um deles um verdadeiro gênio e outro um talentoso diretor. O gênio é Jacques Tati, um dos maiores comediantes que o mundo já conheceu, dono de um estilo único, quase cartunesco e de pantonimia inimitável. O talentoso diretor é Sylvain Chomet consagrado por seu Bicicletas de Belleville que assim como Tati não apostava em palavras, mas em sons, movimentos e em personagens.


Tati, como sabem, faleceu em 1982, mais deixou esse roteiro pronto que só foi retomado mais de vinte anos depois em uma adaptação feita por Chomet.


O Mágico fala sobre esse personagem desconhecido e que luta para ter reconhecimento em sua profissão e seu envolvimento com uma garota na Escócia. Diferente do que poderia se esperar de um filme de Tati, as gags não estão presentes em cada sequencia. São usadas com parcimônia deixando o filme agridoce, cheio de emoção e risadas - melhor, sorrisos - pontuais.



O personagem do mágico é obviamente "xerocado" da imagem de Tati. Alto, magro e muito desengonçado é a versão humana do Pateta da Disney. A garota é um "bichinho do mato", ingênua, assustada e tímida que vai desabrochando na tela.


O filme é delicado e gentil, todo minimalista em seus movimentos, e bastante sensível na forma de apresentar seus personagens. Chomet é um artista e num mundo cada vez mais 3d, constrói seus personagens com uma delicada paleta de cores - a mesma que usou em Bicicletas - que dá ao filme um ar envelhecido e nostálgico.


Mais é a história - sempre ela - que faz de O Mágico uma obra quase impecável. Um conto sobre desilusão e crescimento, sobre a vida de um homem que vive de seu sonho e sobre uma menina que aprende a sonhar. O mágico calejado está em sua derradeira tentativa de encontrar magia na vida e não apenas dentro do palco, enquanto a jovem garota - chamada Alice - é apresentada a esse mundo vasto e grandioso de sonhos e alegrias. São dois espectros da vida humana que são exemplificados nas personagens do mágico e da garota. Chomet caminha como um artista circense na corda entre o drama e a comédia leve, até quase seu final quando de forma lindíssima embora melancólica, aceita que seus personagens vivem em um mundo cheio de derrotas e que os sonhos não se realizam para todos.



Muito bonito e muito tocante, com um lindo roteiro e a trilha sutil e deliciosa de Chomet , O Ilusionista quase não usa diálogos, é lento e mesmo assim consegue passar sua "mensagem" de forma clara e objetiva a todos os espectadores. Um feito em uma indústria (especial nas animações) que aposta de cores e explosões a cada sequencia.  


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