segunda-feira, 14 de março de 2011


O Filmes para ver antes de Morrer nunca tentou - e nem vai tentar - criticar ou analisar uma obra que por motivos óbvios está no panteão das maiores (na opinião da equipe) já produzidas pela sétima arte, por isso o espaço aqui é para relembrarmos, homenagearmos e apresentarmos a quem não viu, grandes filmes da história do cinema.

Uma Aventura na África
(The African Queen, 1950)



Se vocês tiverem a oportunidade de assistirem ao making of de Uma Aventura na África, vão entender porque essa aventura divertida e ingênua é tão querida e apreciada pelo mundo do cinema, apesar de parecer ter envelhecido um pouco.


Vendo os bastidores ficamos sabendo das dificuldades de se filmar na década de 50 fora dos Estados Unidos, das crises estomacais de toda a equipe, da quase insanidade constante em John Huston, conhecer mais sobre Sam Spiegel e descobrir alguns dos motivos para que Bogart seja considerado "o cara" até hoje.


Uma Aventura é uma história ingênua - para os padrões atuais - mais bastante divertida, que envolve dois personagens completamente opostos. O marujo boa vida e alcoólatra Charlie e a carola, reprimida e conservadora Rose. Duas pessoas unidas para enfrentar um navio inimigo durante a primeira guerra mundial, tudo isso no meio da África.


O filme se desenvolve como uma comédia romântica óbvia, com os dois personagens se envolvendo gradativamente enquanto vão se degladiando. Pelos nossos padrões o forte envolvimento dos dois apaixonados soa forçado, porque nossos olhos acostumados a relacionamentos tórridos não conseguem crer em um casal que mal se toca ou beija. Mas é preciso, e necessário, fazer o adendo de que quando o filme foi produzido, estava em vigor o código de produção que proibia qualquer tipo de insinuação sexual, cabendo ao espectador juntar os pauzinhos.


Huston é um mestre na condução da história, com um domínio magnífico sobre sua narrativa sabendo exatamente quando fazer sobressair a comédia e quando aprofundar-se na ação, fazendo do filme uma das maiores comédias de ação - se não for a maior - da história, sendo copiada em dezenas de filmes. Qualquer filme que tenha homem e mulher que se apaixonam sendo completamente diferentes um do outro, com uma sub-trama que envolve algum tipo de aventura é filho bastardo do filme de Huston. Ano passado tivemos o divertidinho Atração Explosiva e o medonho O Turista, ambos com elementos chupados da história de Huston, o que prova que apesar da ingenuidade o filme continua relevante.

Alguns destaques óbvios: Kathryn Hepburn sempre muito bem, despindo-se de vaidades bastante magra - graças a uma desidratação "africana" - e Bogart que foge do estereótipo de galã macho, aparecendo sempre imundo e desleixado.


São eles que por quase noventa minutos o espectador acompanha. É a interação dos dois que faz de Aventura na África mais do que uma historinha de amor em um cenário "novo". Huston sabiamente por quase toda a narrativa aponta a câmera para dentro do barco, pontuando de maneira sábia com imagens da África seu filme. Essas imagens são inseridas para localizar o espectador, já que a aventura tem um destino final, e existe uma necessidade narrativa de marcar o tempo, além de inserir intempéries que são absorvidas pelos personagens e criam conflito entre os mesmos e entre eles e a situação em que vivem, e mais importante do que isso, entre eles e o ambiente, tão importante para o filme quanto os próprios protagonistas.


Envelheceu é verdade, mas ainda diverte e guarda a inocência dos filmes pré-codigo que brincavam com a imaginação do espectador, deixando a cargo dele ligar os pontos subliminarmente apontados pelos diretores.

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