Deixe-me Entrar
(Let Me In, 2010)Drama/Terror - 116 min.
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Matt Reeves
Com: Kodi Smit-McPhee e Chloe Moretz
Remakes. Se você fizer uma pesquisa entre os cinéfilos do país (e talvez do mundo), vai perceber que a maioria (ou quase totalidade) despreza essa idéia de "adaptar", "apresentar a um novo público" que é vendida a cada novo remake que desembarca nas telas.
Quando o filme fez sucesso e foi reconhecido como grande trabalho a situação fica ainda pior. Quando esse filme é novo, a situação beira a ofensa. É o caso da idéia por trás do remake de Deixe Ela Entrar, filme sueco de 2008 - sucesso monumental de crítica - que misteriosamente não foi sequer lançado em dvd/blu-ray no Brasil. A história de amor trágica e gótica entre a menina vampira e o garoto que sofria de bullying, além de ter muito estilo era muito inteligente na condução de seus personagens.
Por isso quando Matthew Reeves (o mesmo de Cloverfield, um proto remake dos filmes de Godzilla, misturado com Bruxa de Blair) foi anunciado como o diretor do remake desse filme, obviamente as expectativas foram ao chão. Nada contra o diretor (acho Cloverfield bastante divertido), mas contra a idéia, de menos de dois anos depois do filme ser lançado, uma versão americana entrar em produção. É o mesmo caso de Quarentena (em relação à REC) e a versão americana de Os Homens que Não Amavam as Mulheres (em relação ao filme original sueco que adapta o primeiro livro da trilogia Millenium para as telas).
Narrativamente o filme é quase reverente ao original, sugerindo apenas pequenas mudanças. As mais importantes são que o detetive ganha mais destaque, a sequência dos gatos e toda a repercussão dos ataques vampíricos entre os vizinhos não existe, o filme também é mais gráfico, não "expõe" a "nudez" de sua atriz mirim em uma determinada cena, não mostra o pai do garoto (aqui chamado Owen) que aparentemente é homossexual e - a pior das decisões - mastiga e vomita na cara do espectador as respostas quanto à origem do homem que acompanha a menina, aqui chamada Abby.
No mais, se o espectador assistiu o original verá aqui uma cópia.
E qual é o problema que faz de Let me In um filme apenas razoável?
O mais óbvio é que se trata de um remake, ainda mais um remake tão reverente, o que entrega a intenção capitalista. "Vamos mudar a língua e lançar de novo, porque americano não le legenda" é o que surge de mais claro como comentário a respeito do filme. O original era baseado num livro, e talvez fosse mais interessante do ponto de visto artístico voltar a essa fonte para recriar o filme (como fez, por exemplo, Tim Burton com seu Planeta dos Macacos e Fantástica Fábrica de Chocolate, que méritos a parte, tem a qualidade de serem diferentes dos filmes originais), mas obviamente isso afastaria o que imaginavam que faria sucesso. Não deu certo, já que o filme foi um fracasso monumental, uma prova que o original sueco era um filme muito especifico e que também não teria força nesse mercado emburrecido e eternamente adolescente que é o americano.
Outro problema é que não temos como comparar a solidão e a melancolia de uma noite de inverno sueca com uma noite fria no Novo México. Na primeira você sente o congelar das pessoas e situações e a fotografia auxilia esse processo. Nesse você não enxerga os longos planos abertos em que cada personagem entra em tela e sai com a mesma precisão. Parece tudo mais corrido, ou, ao gosto do cliente - no caso - o americano que não tem (em geral) paciência para grandes planos e tempo de desenvolvimento de personagens.
Existe sim um destaque extremamente positivo na versão americana, que mantém o nível da versão sueca. Seus atores. Kodi Smit-McPhee visto e elogiado em A Estrada, repete a dose de competência, fazendo Owen menos frágil e infantil que o Oskar da versão original, talvez mais condizente com a idade do garoto (estou supondo). E Chloe Moretz é uma tremenda atriz podemos dizer sem dúvida. Se ela já havia surpreendido muita gente com sua Hit-Girl boca suja e que não leva desaforo para casa, sua Abby é uma criatura melancólica mas amorosa, e - isso ficou mais claro na versão americana - interessada no rapaz como um novo "protetor" e não como amante juvenil. Essa mistura de doçura e perversidade (que no fundo quer um novo humano para explorar) faz de seu personagem tão interessante quanto à fleumática e igualmente ingênua Eli, do filme original.
Matt Reeves é muito diferente de Tomas Alfredson, e isso não é demérito. Apesar de reverente ao texto visualmente o filme é diferente e mais "fácil" do que a versão sueca. A trilha de Giacchino mantém a qualidade de seus trabalhos anteriores e é um destaque.
Deixe-me Entrar é um remake descente (como disse no twitter) e decente. Desce em relação ao original muitos degraus da escada, mas dentre os exemplares do "gênero" remake, talvez seja o melhor.
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