domingo, 13 de março de 2011

Jogo de Poder
(Fair Game, 2010)
Drama - 108 min.

Direção: Doug Liman
Roteiro: Jez Butterworth e John-Henry Butterworth

Com: Sean Penn e Naomi Watts


Existem alguns filmes que são a cara de seus produtores, outros apresentam a marca de um diretor e outros têm o código genético de seus astros. Fair Game foi gerado - caso tivesse um - no útero de Sean Penn, e apresenta em cada palavra o discurso anti-republicano, anti-Bush, antiguerra e engajado do ator.

Isso é ruim?

Depende. Oliver Stone está numa "onda" parecida e a exceção de Wall Street - excessivamente careta para seus padrões - vem fazendo documentários e mostrando-se politicamente ativo, resvalando com alguma freqüência na propaganda declarada.



O filme até tenta fugir disso, transmutando-se na categoria mais amada por votantes em 10 entre 10 premiações americanas: "o baseado em fatos reais". Fair Game é baseado na história de Valerie Plame (interpretada por Naomi Watts), uma agente da CIA que foi "jogada aos lobos" quando se apresentou contra a invasão americana ao Iraque, endossada pela experiência e vivência de seu marido, Joe Wilson e suas declarações publicas negando as evidencias apontadas como estopim para a invasão.


A direção é do "bourniado" Doug Liman, aqui fugindo do filme de ação/thriller e partindo para uma versão moderna dos filmes denúncia antigovernamentais, que foram importantes nos anos setenta e que parecem ter voltado com força nesse período pós-Bush. Liman leva sua câmera neurótica para a casa do casal Wilson-Plame e para a sede da CIA, tentando desesperadamente transformar uma conversa entre duas pessoas em uma batalha. A câmera não fica parada, e os excessos de movimento e cortes soam exagerados e desnecessários num filme que não pede por nada assim.

Watts é uma atriz razoável (seu melhor papel continua sendo em 21 Gramas, onde dividiu a tela com o próprio Penn) e faz o que pode com seu personagem, mas os olhos de todos ficam voltados para Penn, sempre que ele entra em cena. Dois anos após o prêmio por Milk, Penn aqui está a vontade como um homem que tem inúmeras semelhanças a sua forma de ver o mundo, quebrando a terceira parede (metaforicamente falando, obviamente) fazendo o público que acompanha a carreira e a vida do ator, não conseguir em alguns momentos diferenciar o discurso do personagem e do ator.



Por isso, que Fair Game cheira a propaganda. Como Zona Verde também cheirava e como a maioria dos filmes, parece tocar no mesmo ponto, que até mesmo o mais obtuso americano médio comedor de frango frito já sabe: não existiam motivos reais para uma invasão ao Iraque.


Esse tipo de acusação soa como um disco riscado que nunca atinge os verdadeiros alvos, os porquês, as motivações. Fair Game é covarde e apenas apresenta as negativas e seus "vilões" sem nenhuma motivação para tais atos. Por que queimaram Plame na fogueira? Quem ganhava com isso? São essas perguntas que um filme dito político tem obrigação de responder.


Fair Game aposta na facilidade de contar uma historia humana, melodramática, de superação com todos os clichês do gênero. Estão lá: discussão séria entre marido e mulher, os olhares tortos dos amigos, a chamada ameaçadora ao telefone, a transformação dos personagens em parias, a separação, os mais velhos (sempre mais sábios nessas produções) que aconselham os filhos/netos/amigos a seguir em frente e a bandeira americana tremulante, e é claro, o discursos ufanista que revela que a "verdadeira América, é feita de liberdade, justiça, e democracia".



Quantas vezes você já viu esse filme antes?


Liman, parece não ter visto tantas, pois seu Fair Game é igualzinho a uma dezena de filmes ditos políticos, mas que soam como discos riscados pregando aos iniciados e nunca tocando nos pontos nevrálgicos dos conflitos.


O filme só não é um aborto, pois sabendo que aquela história é real (e Liman, como Daniel Filho em Chico Xavier, quebra a magia ao terminar seu filme com o depoimento da verdadeira Plame ao congresso americano) ficamos indignados pela injustiça e perseguição que aquela pessoa sofreu e, portanto quando vemos uma luzinha no fim do túnel, naturalmente ficamos felizes. Mais é pouco, para um filme que conta com o maior "anti - tudo" do mundo e que parece ter escolhido a dedo um filme em que pudesse ser ele mesmo e dizer o que pensa. Faltou argumentação e principalmente faltou apresentar culpados e não apenas ficar ganindo enfurecido contra o mundo ao seu redor. Um pouco mais de maturidade faria bem aos envolvidos.

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