domingo, 6 de março de 2011

Namorados para Sempre
(Blue Valentine, 2010)
Drama/Romance - 112 min.

Direção: Derek Cianfrance
Roteiro: Derek Cianfrance, Cami Delavigne e Joey Curtis

Com: Michelle Williams e Ryan Gosling



O amor. É disso que fala Blue Valentine (traduzido de forma ridícula no Brasil como Namorados para Sempre), um primor de romance, deverás cruel, como a vida. Em vários momentos parecia que o filme ecoava o melhor de John Cassavettes, embalado pela estética indie e trilha sonora de alta qualidade.


Mas Blue Valentine não é uma comédia romântica ou mesmo um drama trágico, é um historia realista sobre os desafios que qualquer casal enfrenta para ficar junto. Dificuldades de convivência, as diferentes maneiras de ver a vida, os familiares, filhos e a fauna que faz parte da árdua tarefa de viver ao lado do outro.


Blue não alisa e apresenta tudo o que pode de maneira crua, com câmera na mão, imagem granulada, sem escolher lados e apontar erros e acertos. Trata seus personagens como a vida os tratou: sem privilégios. Uma grande escolha de elenco acompanha as soluções visuais apresentadas por um diretor interessado em seus personagens e na melhor maneira de mostrá-los.



Ryan Gosling, já indicado ao Oscar (por Half Nelson) vive o sonhador Dean, um self-made man que não quer ser mais uma engrenagem em uma fabrica ou industria e prefere fazer as coisas por si só. Do outro lado está Cindy , a enfermeira dedicada interpretada com maestria por Michelle Williams. Cansada de uma rotina que definitivamente não a faz mais feliz e ao mesmo tempo insegura sobre qual caminho sua personagem complexa e delicada deve percorrer. Seguir seus sonhos? E a sua família? Ela ainda ama Dean? O que aconteceu com eles?


Em resposta a essa ultima pergunta é que o diretor Derek Cianfrance (também roteirista em parceria com Cami Delavigne e Joey Curtis) compartilha homeopaticamente com o espectador os porquês. Sem fazer concessões a elipses ou a diálogos explicativos Derek vai amarrando com um nó de marinheiro as narrativas do ontem e do hoje com extrema competência, nunca deixando o espectador confuso e estimulando um trabalho de detetive que faz da história mais do que um Love Story trágico. Sentimos-nos compelidos a entender aquele casal e os motivos que os uniram e que os vão fazer separar. Quando as respostas vem - e sendo fiel a sua própria proposta de maneira quase hermética de maneira cifrada - precisamos retomar o fôlego que nos é roubado pela sucessão de tragédias anunciadas que o inicio desse relacionamento apresentava.



Michelle Williams tem aqui o chamado "lifetime performance" fazendo de cada sequencia uma monstruosa prova de seu talento. Sutil e habilmente conduzida a parecer completamente diferente nos dois momentos que o filme aborda, mas mantendo a melancolia no olhar, o que nos faz perceber ainda mais as sutis mudanças no gestual de sua personagem em cada um dos momentos. Gosling, igualmente brilhante, e ajudado pela maquiagem que o fez quase careca e com aparência de apodrecido (quase um junkie) na narrativa atual também encontra um ponto de equilíbrio entre as duas personas: Dean é um sonhador, e mesmo quando a situação é insustentável ele tenta enxergar um norte brilhante, e isso transparece em sua atuação.


Blue Valentine é um grande trabalho, em especial do casal protagonista, e deveria ter sido melhor lembrado nas premiações mundo afora. Na minha lista entraria facilmente na vaga de três dos dez selecionados pela Academia no Oscar 2011.


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