sexta-feira, 8 de abril de 2011

Caça as Bruxas
(Season of the Witch, 2011)
Ação/Aventura - 95 min.

Direção: Dominic Sena
Roteiro: Bragi F. Schut

Com: Nicolas Cage, Ron Perlman, Claire Foy, Stephen Campbell Moore e Stephen Graham



Nicolas Cage é o ator com mais filmes lançados no planeta terra nos ultimos cinco anos. E olha que ele concorre com Samuel L. Jackson e toda a produção de Bollywood. Brincadeira a parte, é incrível como Cage tornou-se um ator sempre presente em produções medianas/ruins lançadas a cada três meses nos cinemas mundiais. Incrível como depois da vigésima tentativa de fazer algo comercialmente interessante, ninguém tenha percebido que Cage não funciona sempre e que suas interpretações tem se tornado cada vez mais fajutas.


A exceção de Kick Ass e do visceral Vicio Frenético, cite mais um filme que o ator tenha feito nos últimos 5 ou 6 anos digno de nota? Se estivéssemos falando de um ator recluso que surge apenas aqui e ali, daria um crédito, mas Cage está todo dia com um projeto novo, um novo personagem e uma história para ser apresentada e - na grande maioria das vezes - sumir duas semanas depois da estréia.



É o caso de Caça as Bruxas, uma aventura PG-13 sobre bruxaria/inquisição que tem um plot twist final tão absurdo que deve ter feito o público que assistiu ao filme no cinema engasgar com a pipoca.


Cage, interpreta Behman, um cruzado que revoltado com os desígnios criminosos e absurdos das cruzadas (que usando a ingenuidade e burrice de toda uma população, apresentou-se como uma jornada para a glória de Deus, quando na verdade era uma expansão territorial em busca de grana) abandona seu regimento e renega a Deus com ajuda de seu companheiro Felson (Ron Perlman). De volta a Europa, se depara com um surto de uma doença misteriosa (peste negra talvez) que mata a todos sem dó. Os responsáveis pelas cidades (não fica muito claro se é uma cidade/estado conhecida) apontam a responsabilidade para uma bruxa capturada que por vingança ibera a doença matando a todos em seu caminho.

Cabe a Behman levar a bruxa até um mosteiro onde os padres poderão exterminar a ameaça da bruxa.



Parece divertido não? Bruxas, cruzadas, alguns bons efeitos, luta de espada, gente suja no meio da Idade Média, gente morta e deformada pela doença.


Mas por que não funciona? Primeiro pela direção medíocre de Dominic Sena, um cidadão que cometeu A Senha e 60 Segundos. Sena não consegue decidir se leva a sério seu filme e parte para a profundiade dos temas, ou se larga a mão e deixa a aventura juvenil reinar. Dois exemplos claros dessa confusão mental: reparem na sequencia em que Behman visualiza pela primeira vez a tal bruxa (Claire Foy) e na série de imagens das cruzadas que o amedrontam e na dubiedade da personagem após essa cena. Caso Sena quisesse apostar nessa idéia teríamos um thriller que contestaria a sanidade do herói, ou a condição da garota como bruxa, ou mesmo uma critica velada ao fanatismo religioso que transforma tudo em "coisa de Deus ou do Diabo". Mas seria pedir muito de uma produção abertamente comercial estrelada por Nic Cage.


Sena até metade do filme não sabe que caminho tomar, alternando o thriller com a aventura PG-13, até o momento em que surgem lobos CG na história e o caminho da produção aponta sem dó para os adolescentes comedores de pipoca.



Existem certas regras para uma boa aventura: tenha um protagonista cativante (que não é o caso aqui), tenha coadjuvantes interessantes (Perlman se esforça, mas o cavalariço interpretado por Stephen Graham é patético), tenha boas cenas de ação (a melhor envolve uma ponte de corda que se quebra, onde será que já vimos isso antes?) e um final empolgante (aqui o diretor opta pelo plot twist bizarro que transfigura gêneros). Outra regra é: vai usar computação/efeitos visuais que os faça com competência. Também não é o caso aqui: além dos lobos risíveis - parecem terem saídos de Jumanji - o plot twist apresente uma "coisa" que ofende os fãs do gênero subvertido. É triste notar que a história tinha potencial, ainda mais depois do prólogo divertido e que se não é original e brilhante (agente até telegrafa o que vai acontecer) dá a esperança - vazia - de que poderíamos ver um bom entretenimento.

Bragi Schut é o criador do roteiro e criador da série Threshold (que não vi) e parece não ter saído da televisão ainda, pois insere uma quantidade exagerada de frases expositivas desnecessárias e principalmente ganchos entra as cenas que não são necessários. Além disso, se a idéia partiu dele para o desastroso final, comprova-se que sua competência é limitada.



Além de Cage - pagando mico e com aquele cabelinho de Aprendiz de Feiticeiro - Perlman parece ter notado que tinha embarcado numa bobagem e nem se preocupa muito em sair do quadrado. O jovem Graham tem um personagem muito ruim em mãos, um misto de cavaleiro juvenil e noviço que apresenta todos os estereótipos ruins do herói acidental. Os fãs vão notar ainda a presença de Christopher Lee, não por sua imagem (camuflada por uma eficiente maquiagem) mas por sua inconfundível voz como o Cardeal D'Ambroise. Ainda temos Stephen Campbell Moore que serve como referencia ao público sobre o que está acontecendo em tela, já que seu personagem - o padre Debelzaq - é o que elabora o plano de levar a bruxa ao mosteiro. Seu personagem é excessivamente ansioso e dono das frases mais fracas do filme na incomoda função de servir como professor que explica ao publico tudo o que acontece. Esse recurso já debatido no blog por diversas vezes é uma muleta narrativa fuleira e que revela que o diretor e roteirista não confiam na capacidade de sua historia e menosprezam o público e sua compreensão sobre o filme. E olha que estamos falando de um blockbuster meia boca e não de Film Socialism de Godard.


Caça as Bruxas merece um remake. Tinha um conceito - veja bem, conceito - interessante. Mas morreu ainda na produção com seu roteiro perturbado, atores mal escalados e um diretor que não sabe que historia conta e não consegue empolgar nem mesmo nas cenas de ação.

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